postado em 28/04/2015 08:01
A repercussão que o trabalho do rapper paulistano Criolo teve nos últimos anos fez com que o artista fosse convidado a dividir o palco com Ivete Sangalo, estrela da axé music, em um projeto em homenagem a Tim Maia que rodará o país neste 2015. Afinal, o que significa a ascensão de Criolo? Ele, que já cantou com Caetano Veloso, compôs com Milton Nascimento e foi gravado por Ney Matogrosso, atingiu um status que poucos imaginariam para um artista que nasceu no rap. O gênero saiu definitivamente de seu ambiente de origem e ampliou seu público ou Criolo, Emicida, Marcelo D2 e Gabriel O Pensador, para citar alguns dos artistas mais representativos, são casos isolados neste cenário?
[SAIBAMAIS]A paulistana Yzalú, de 32 anos, tem incrementado seu rap com diversos elementos sonoros, inclusive o violão, um dos maiores símbolo da música popular brasileira. Para ela, a mudança no contexto musical não significa, necessariamente, em uma perda de raiz ou identidade. Pelo contrário: ela acredita que uma ampliação da linguagem se faz necessária, de forma a se atingir outros públicos e multiplicar o diálogo. ;Esse é um dos motivos pelos quais o Criolo, por exemplo, formou uma plateia diferente daquela do rap tradicional;, observa ela. ;Não é uma metamorfose, é uma extensão;.
Yzalú defende que a ;abertura; dessa porta é positiva, e que, ao ver artistas vindos do samba que se tornaram grandes estrelas da MPB, é possível também vislumbrar um panorama parecido com o rap nas próximas décadas. O mais importante, para a artista, é ter sempre em mente que um dos principais objetivos do gênero, historicamente, é o protesto. ;A gente precisa denunciar, mesmo que isso aconteça com uma outra linguagem. O que a gente precisa é levar isso para o caminho correto;.
Não é novidade o que Yzalú, Criolo, Rael, Emicida e Karol Conká, entre outros, estão fazendo. A rapper paulistana cita, por exemplo, os conterrâneos do Potencial 3, um grupo de raiz que unia o rap a elementos das músicas brasileira e negra. ;Facção Central, Realidade Crua, Detentos do Rap e Racionais MC;s: esses nomes tradicionais foram e são muito importantes no cenário do rap, nós bebemos inteiramente nessas fontes;, diz Yzalú. ;Vejo a nova geração como uma extensão deles. Talvez não estejamos usando a mesma linguagem, mas queremos falar a mesma coisa;.
Nos anos 1990, o rapper carioca Gabriel O Pensador vendeu mais de 1 milhão de cópias de seu terceiro disco, Quebra-cabeça, invadindo rádios e programas de tevê que se dedicavam quase que exclusivamente ao pagode e à axé music. O artista foi pioneiro na transfiguração do gênero no país, dando leveza a temas sérios, sem deixar de ser contundente. ;Eu sabia que era uma responsabilidade trazer um novo tipo de som pra muitos que não o conheciam;, diz ele ao Correio.
O sucesso de hits como Cachimbo da paz, Festa da música e 2345meia78 ajudaram a abrir as portas para um estilo musical historicamente marginalizado. ;Aí sim, as rádios começaram a tocar outros rappers, como os Racionais MC;s, que já tinham construído uma carreira sólida, mas por outros caminhos. A própria mídia passou a se render ao rap de uma forma geral;, lembra ele. ;Minha proposta sempre foi mostrar o rap para um público que ia além das fronteiras dos bailes de uma tribo segmentada ;.
Ouça trechos da entrevista com o cantor Gabriel Pensador
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