Nahima Maciel
postado em 11/08/2013 08:05
O ateliê de Helena Lopes passou por uma drástica reforma recentemente. A outrora salinha encravada num subsolo de frente para o jardim virou um amplo loft com pé direito alto, muitas obras penduradas em todos os cantos e um andar com espaço para uma enorme mapoteca e reserva técnica. A gravadora guarda o que há de melhor em termos de acervo de gravura destinado à comercialização em Brasília: preciosos Fayga Ostrower, Wesley Duke Lee, Volpi, Aldemar Martins, entre outros. Muitos estão na feira realizada até hoje no Mercado Cobogó, um revival das feiras de arte que Helena realizou no ateliê durante mais de duas décadas. Aos 71 anos, a artista não se cansa de querer formar o público. Ela lamenta a visão conservadora dos consumidores de arte de Brasília, mas tem fé cega na educação, a mágica que, um dia, vai mudar tudo.
Que experiência e lembranças você carrega das feiras realizadas no ateliê?
A feira foi uma coisa muito boa. Primeiro, porque foi muito agradável esta conversa com o público. Pessoas que nunca tinham encostado a mão numa obra de arte tiveram a liberdade de pegar uma gravura nas mãos e perceber que podiam não só pegar, mas comprar. Acabei criando um público. Alguns passaram a ser colecionadores, outros passaram a frequentar galerias, foi uma coisa que me deu uma satisfação enorme. Parei porque é um trabalho muito pesado, dois dias, o dia inteiro. Na segunda, eu tinha que dormir o dia inteiro.
Você disse que para a exposição não levou coisas mais conceituais? Por quê?
É um problema dos arquitetos. De querer combinar. Você pode ter uma casa supercontemporânea e ter uma obra de arte acadêmica. Uma das coisas mais bonitas que já vi foi um trabalho supercontemporâneo em cima de um móvel barroco. Lindo. Gravura é feita para que as pessoas possam usufruir. Qualquer pessoa pode ter uma gravura em casa.
E por que, logo em Brasília, uma cidade moderna, os arquitetos ainda direcionam o consumo da arte dessa maneira?
É aquela coisa da fotografia, do ambiente que é fotografado, com cores que conversam, é uma neura particular deles. E há várias questões. Uma é a falta de divulgação da arte. A gente tem o CCBB, que recebe um público enorme no fim de semana, e também a Caixa. Tinha a 508 Sul, um polo que atraía muita gente jovem e está desativado. Tenho ido ao Museu nos fins de semana e fico encantada com a quantidade de gente levando as crianças pela mão, tirando fotografia em frente aos quadros, com esse prazer de mostrar às pessoas que eles estiveram dentro do museu. Mas é muito pouco, é realmente muito pouco. Acho que a UnB é dinâmica dentro daquele espaço, mas não ocupa a UnB inteira e poderia fazer isso. Mesmo tendo aquela galeria, porque ali o público é de artes, não das outras áreas. E nossos cursos universitários são altamente técnicos, não têm uma cultura geral. Você fica preso a seu currículo. A universidade não foi feita para isso. A faculdade foi, mas a universidade, não. Ela foi feita para que se pudesse usufruir de todo esse universo.
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