Tinha o carioca Luiz Antonio de Almeida 14 anos de idade quando viu pela tevê um programa especial sobre Ernesto Nazareth. Apaixonou-se pelo personagem. Começava ali a saga de uma biografia que demorou exatos 30 anos para ser escrita (“no início, pela minha idade, era quase um trabalho escolar”), está pronta há sete e ainda não pôde chegar ao público por conta do descaso das editoras. Mas Almeida não desistiu. Aos 51 anos, ao mesmo tempo em que convive com a frustração de não ter seu trabalho circulando entre o grande público, viu sua dedicação render um presente improvável: foi nomeado herdeiro universal do instrumentista pelos últimos familiares dele.
Na verdade, por uma sobrinha. Em 1980, Almeida conheceu Diniz Nazareth, filho do pianista, então com 92 anos, e uma sobrinha do compositor, Julita. Eram os últimos do clã, não tinham descendentes e ficaram amigos de Almeida. Diniz faleceu dois anos depois e Julita em 1988, aos 92 anos. Ela, que era a herdeira universal do primo, passou o posto para Almeida. “Ela tentou me fazer herdeiro dos direitos autorais também, mas não conseguiu. Só o compositor poderia ter passado para mim, ou se houvesse consanguinidade entre nós”, conta. O pesquisador ficou com piano, móveis, partituras e uma penca de objetos pessoais de Nazareth.