Diversão e Arte

Livro revela seleto grupo que se destaca na produção literária em braille

postado em 21/10/2012 07:02
(;) quem busca o crescer
também se ilumina
do que a treva ensina

quem sabe aprender
sabe que é pequeno;
é o sábio mais pleno (;)

A produção literária em braille no Brasil ainda é tímida, realizada com poucos recursos. Mas já começa a se insinuar o talento dos escritores que atuam nessa vertente. É o caso da poeta Maria Neile do Couto, 43 anos, autora dos versos acima e cega desde o nascimento. Em seu livro de poesia, Páginas de mim, publicado em braille, a escritora faz um retrato de seus sentimentos mais íntimos (;retalhos de mim;) até reflexões existencialistas. E ela tem um trato especial com as cores ; isso mesmo, as cores que ela nunca viu. ;Tenho minha relação com as cores, é muito pessoal. A cor tem muita ligação com o sentimento e isso me deu a sensação de que a cor é uma textura;, explica.

Maria Neile, Francisco de Paula, Noeme Rocha e Neuma Pereira estão entre os 83 escritores da Biblioteca Dorina Nowill

Servidora pública, Maria Neile gosta de ouvir a forma como os outros falam das cores. Alfabetizada em braille aos 7 anos, ela se emociona ao ser questionada sobre a importância desse método, apesar de outras opções, como os áudio-livros e os livros digitalizados. Acredita que o braille nunca vai perder sua importância e seu espaço, porque é por intermédio dele que o cego tem conhecimento da ortografia. ;É por meio dele que a gente sabe como se escreve uma palavra. É uma ponte entre mim e o mundo. A partir do braille, a gente pode começar a se expressar, escrever. Com esse método, o cego foi reconhecido e valorizado como pessoa.;



(;) mendigos, andarilhos,
drogados, rejeitados,
verdadeiros miseráveis,
seres sem dignidade
que se dignam solidariamente
a estender o braço
a um cego desconhecido,
com toda cerimônia
se justifica dizendo:
; Pode confiar dona.
E nesse momento
me surpreendo (;)

Todos os versos na ponta dos dedos

Essa sociedade de poetas cegos encontra abrigo na Biblioteca Dorina Nowill, em Taguatinga Centro. Desde 1995, a instituição trabalha na inclusão dos deficientes visuais com o programa Luz & Autor em Braille, que revela escritores cegos por meio da publicação do livro Revelando autores em braille.

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