Diversão e Arte

Paulinho da Viola fala ao Correio sobre projetos e a beleza dos 70 anos

Irlam Rocha Lima
postado em 08/01/2012 08:10
Em 2012, quatro cantores e compositores da mais incensada geração da música popular brasileira completam 70 anos: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulinho da Viola. Todos mantêm-se em plena atividade, compondo, gravando discos, fazendo shows, dando importante contribuição para a MPB. Além de manter os fãs conquistados ao longo da carreira, eles são objeto de interesse dos mais jovens, que os veem como referências.

Paulinho da Viola, por exemplo, exerce influência sobre novos sambistas, que o admiram como criador, e também por seu jeito discreto e elegante de ser ; sempre cuidadoso com os mínimos detalhes no processo da música que compõe e canta. Compreensivo, tenta minimizar falhas que interferem no trabalho. Foi assim na última quarta-feira, quando conviveu com problemas de som, no começo do show, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, durante a abertura do 1; Festival Internacional de Artes de Brasília. Resultado: problema contornado, fez uma apresentação belíssima e deixou o palco ovacionado.

O músico, cantor e compositor carioca, torcedor do Vasco da Gama, portelense apaixonado, com 47 anos de carreira, lançou 18 discos solo, três com o conjunto A Voz do Morro ; no começo da trajetória ; um com Elton Medeiros e outro com Toquinho. Paulinho, que em maio volta a Brasília para show no Teatro Ulysses Guimarães da Unip, conversou com o Correio e falou sobre a chegada dos 70 anos ; ele faz aniversário em 12 de novembro ; e outros assuntos. Seguem alguns tópicos da entrevista.

"Com erros e acertos, importante é continuar vivendo"

Discos
;Estou com dois discos prontos, gravados ao vivo no Fecap (teatro localizado no bairro da Liberdade, em São Paulo), em diferentes ocasiões. Um foi na reabertura do lugar, há cinco anos, quando cumpri uma temporada de três semanas. O Homero Ferreira, criador do espaço, morto em agosto do ano passado, fez a produção. O outro é o registro de mais uma série de apresentações no Fecap, em outubro de 2010. Cada um tem um tipo de abordagem da minha obra. Só não sei é quando irei lançá-los.;



Inéditas
;Tenho composto regularmente. Vou fazendo música e guardando. Às vezes mexo numa, mexo em outra. Gravar um disco de músicas inéditas é sempre uma possibilidade, uma necessidade, mas não tenho planos a curto prazo. Preciso fazer, pois já estou quase 10 anos sem entrar em estúdio. O último, Meu tempo é hoje, foi lançado em 2003.;

Violão
;Há períodos em que pego o violão e fico tocando durante um bom tempo. Mas há outros em que deixo o instrumento de lado e vou fazer coisas diferentes, como ir ao cinema, encontrar os amigos. Como guardei algumas ferramentas da oficina de marcenaria que eu tinha, de vez em quando ainda me exercito um pouco.;

Sinuca
;Em novembro último, participei, como convidado, do Campeonato Brasileiro de Sinuca, na Casa da Espanha, no Rio de Janeiro. Teve o torneio de profissionais, em algumas categorias, com jogadores profissionais de várias partes do país, inclusive de Brasília. Tomei parte do torneio de amadores com outras pessoas conhecidas, como o cantor Fagner e os atores Tonico Pereira e Luigi Barricelli, e fiquei em segundo lugar. Nossa presença foi para chamar a atenção do campeonato.;

70 anos
;Ainda não parei para refletir em relação à chegada dos 70 anos. Não gosto de antecipar nada, até porque a gente não tem controle sobre as coisas da vida. Não pude fazer tudo o que planejei, não pude ler todos os livres que gostaria. Com erros e acertos, importante é continuar vivendo com saúde. Uma coisa é certa: pretendo dar continuidade à carreira, a exemplo de alguns artistas que têm uma longa trajetória. Quero continuar trabalhando, compondo, tocando, cantando. Os tempos são outros e não se pode mais, a cada ano, reunir novas músicas e gravar um disco. Mas não sou do time dos que anunciam o fim da carreira e continuam em atividade.;

Biografia
;Tenho recebido propostas de editoras para escrever um livro, uma biografia, mas ainda não me decidi sobre isso. Ao longo de 47 anos de carreira, fui guardando coisas que saíram a meu respeito e fui guardando em pastas. O próximo passo é digitalizar todo esse material. Depois decidirei de que forma vou utilizá-lo.;

Ensaios
;O pesquisador Eduardo Granja Coutinho, doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisou, no livro Velhas histórias ; Memórias futuras, a minha contribuição para a existência da MPB. Já a cantora paulista Eliete Negreiros fez análise de algumas canções de minha autoria, que, segundo ela, criam atmosfera propícia à reflexão, após a execução. Esse estudo, que serviu como tese para o mestrado dela, está registrado no livro Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros escritos;;

Renovação
;O samba vem se renovando a partir do trabalho de novos cantores e grupos que têm surgido, inclusive na Lapa. Gosto de algumas coisas que ouço, mas prefiro não citar nomes, porque pode haver algum esquecimento.;

Estilo
;O João Rabello, meu filho, acaba de lançar o segundo CD pela Biscoito Fino. Ele toca comigo, e com muita gente. Embora tome como referência o que eu faço e o que o avô dele (César Farias) fazia, tem o seu próprio estilo. O que ele cria ao violão é totalmente diferente do que eu e meu pai criamos, mesmo quando toca choro e samba.;

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