postado em 19/07/2011 09:08
Nesta teça-feira, às 20h, no centro do palco do Centro Cultural Banco do Brasil, para tecer as memórias teatrais sobre Plínio Marcos, Emiliano Queiroz estará ao lado de Nelson Xavier, que tem forte influência do dramaturgo na trajetória. "Conheci o Plínio nos anos 1950, numa excursão que o Teatro de Arena fez a Santos. Ele era um dos espectadores. Varamos a madrugada conversando e ele me encantou de saída, porque era do circo, que representava a aventura, o mistério, a magia", recorda Nelson Xavier, acrescentando que, nesta época, ele já possuía uma de suas características mais marcantes: o vocabulário recheado de palavrões. "Ele tinha uma fala peculiaríssima, uma linguagem marginal, era um rebelde por escolha", afirma Xavier. O segundo encontro do projeto Mitos do Teatro Brasileiro tem entrada franca e não é recomendado para menores de 12 anos.
Além dos depoimentos, a noite contará com a exibição de vídeos, trechos de entrevistas do autor %u201Cmaldito%u201D e mais três cenas inéditas, criadas pelo dramaturgo e idealizador do projeto, Sérgio Maggio. As primeiras retratam um dos lados mais emblemáticos e difíceis da carreira do autor de Navalha na carne: o cerco do governo militar e da censura às suas obras. Embora não tivesse uma abordagem política do país, sua decisão de dar voz à miséria humana, falando de marginalidade, violência e sexo, incomodava os militares.
Na primeira cena, os atores João Paulo Oliveira e J. Abreu encenarão o momento em que Veludo e Neusa Sueli, personagens de Navalha na carne, recebem a visita de um homem misterioso. Em seguida, eles dão vida a dois censores que fazem a leitura da peça Abajur lilás para uma plateia de pessoas ligadas ideologicamente à ditadura. Na reta final, a dupla interpreta dois alter egos de Plínio Marcos: o palhaço e o vendedor de livros.
[SAIBAMAIS]
Escalado para a homenagem, o ator João Paulo Oliveira, que intercala o teatro e o cinema com a carreira de publicitário, volta à cena depois de quase quatro anos sem subir no tablado. "Plínio Marcos criou uma vertente própria e moderna. Trouxe para o teatro uma linguagem mais crua, que já existia no cinema e na literatura, por exemplo", avalia. Co-diretor e ator de todos os tributos, J. Abreu terá o privilégio de encarnar o universo de Plínio pela primeira vez. Há duas décadas, quase integrou o elenco de Abajur lilás. "O que mais me deixa instigado é a perseverança dele. Estudou até a terceira série e conseguiu ser um dos maiores dramaturgos do Brasil", diz o ator.
Menino de Santos (SP), Plínio Marcos queria ser jogador de futebol. Não deu. Depois da frustração de não virar craque da bola, entrou para a Aeronáutica, trabalhou como funileiro, vendedor de livros, palhaço e zelador de teatro. Mas foi com a caneta na mão que ajudou a revolucionar o universo cênico, transformando-se no dramaturgo mais polêmico e censurado de todos os tempos no país. Pela primeira vez, o submundo marginal, de homens maltrapilhos, na contramão da história, ganhava lugar de destaque no palco.