Vik Muniz andou enfurnado nos laboratórios do Instituto de Tecnologia de Massachusets (MIT). Queria convencer os especialistas do maior centro de pesquisa em tecnologia dos Estados Unidos a conceber um robô capaz de esculpir um grão de areia. Vik pretende fazer uma série de esculturas microscópicas dos castelos franceses do Vale do Loire. Isso no universo micro, porque o artista também tem planos gigantescos. Já idealizou outra série, esta de mandalas construídas com objetos de luxo como carros, eletrodomésticos e outros artigos. ;Coisas que todo mundo quer ter, objetos de desejo;, explica. Ele dificilmente identifica o fim de uma ideia, mas o começo, garante, é bem fácil. Basta esperar que um lampejo tome forma, se instale no cotidiano e não acabe esquecido por uma memória seletiva que funciona como filtro para o artista. Se ele esquece a ideia brilhante de ontem de manhã é porque não era boa. Por isso, todas as obras expostas a partir desta terça-feira no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco) passaram por um crivo considerado por Vik bastante rigoroso.
São duas exposições. A primeira, cuja inauguração acontece nesta terça-feira sob curadoria de Karla Osório e Lígia Canongia, reúne no mesmo espaço obras dos anos 1980 e a produção mais recente na tentativa de oferecer uma alternativa às imagens sempre associadas ao nome do artista. Não há as fotografias de rostos em chocolates ou açúcar que tornaram conhecido o nome do artista no térreo do Ecco. Em Vik Muniz 3D, as curadoras preferiram expor as séries Relicário e Verso. A primeira é uma espécie de marco na trajetória de Vik, quando, já nos anos 1990, desistiu de objetos e do mundo tridimensional para trabalhar com fotografia. A instalação combina objetos carregados de significados trágicos e construídos com certo humor ; como uma múmia num sarcófago e um armário com pedaços de bonecas guardados em vidro ; com uma série de fotografias de flores artificiais. ;Tive que encontrar uma solução para o trabalho que comecei a desenvolver e voltei para a escultura, que é de onde venho. Essa tensão entre dois tipos de leitura espacial dentro de uma imagem está sempre presente no meu trabalho;, avisa.
Verso é uma vertente ao mesmo tempo divertida e séria das tensões citadas pelo artista. Na parede estão os versos de fotografias célebres publicadas no jornal The New York Times e de quadros famosos. Tudo foi fotografado e reproduzido fielmente, inclusive os arranhões dos versos das molduras. Nas fotografias é possível encontrar informações como o número de vezes que foi publicada, a data, marcas a lápis realizadas num período anterior às tecnologias digitais, uma espécie de cronologia da imagem. Nos fundos dos quadros também estão anotações e informações sobre a trajetória e o estado da obra.
Parede
É uma maneira de Vik provocar no espectador as mesmas reflexões propostas nas fotografias realizadas com objetos em escala macro: o que não se vê no trabalho pendurado em frente aos olhos? Qual a distância ou a proximidade necessárias para compreender a imagem? ;Sou um artista de parede, não sou artista de página. Você vai andando na frente, em direção à imagem, que é o contrário do que acontece geralmente, com as imagens vindo em sua direção o tempo todo. Existe um aspecto ritual dessa aproximação que tem que ser explorado e tem também um aspecto percentual: a imagem vai mudando à medida que você se aproxima dela.; Para completar o discurso do artista, as curadoras montaram uma sala de projeção para o filme Lixo extraordinário, exibido em quatro sessões diárias. Dirigido pela inglesa Lucy Walker, o longa concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro este ano e mostra o processo de confecção de uma obra construída com lixo e catadores de um lixão do Rio de Janeiro.
No andar superior, Karla Osório idealizou outra exposição. Puro Vik tem 12 obras das seis séries mais conhecidas do trabalho de Vik. ;Queria fazer algo mostrando a face mais popular e conhecida para dar ao público familiaridade com as diferentes séries. Mas é uma exposição diferente, é outra exposição;, garante a curadora.
VIK MUNIZ 3D
Exposição de Vik Muniz. Visitação até 14 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco ; SCN Quadra 3 Lote 5)