postado em 12/05/2011 12:39
Uma comida aromática com mil e um sabores. Essa é a gastronomia israelense. No tempero dos pratos, cabe tanto ingredientes suaves, como as ervas finas, quanto especiarias marcantes, como a canela e pimentas. Para os desavisados, algumas receitas podem ser confundidas com as iguarias árabes, e a confusão não é à toa. O país recebeu pessoas de todas as partes do mundo e isso se refletiu na culinária. No entanto, mesmo com toques estrangeiros, a gastronomia local tem personalidade. De garfada em garfada, sabores surpreendentes golpeiam o paladar. É como se a comida israelense fosse, com o perdão do clichê, uma caixa de surpresas em que, a cada mordida, uma sensação diferente toma conta do corpo e da boca. Mas para que o brasiliense possa tirar suas próprias conclusões, a Embaixada de Israel promove, de hoje ao próximo sábado, o Festival de Gastronomia Israelense do Bier Fass, no Pontão do Lago Sul.Israel é um país jovem. Tem somente 63 anos. As pessoas ainda chegam de todas as partes do mundo, como Europa, África e Ásia, e cada uma delas leva um pouco da sua cultura. Na cozinha, o resultado é uma mistura de sabores orientais e ocidentais. À mesa, têm lugar garantido o homus (pasta de grão de bico), saboreado em todas as refeições, e o falafel (bolinho frito de grão de bico).
Há quem acredite que, em Israel, todas as pessoas são extremamente religiosas e, por isso, alguns ingredientes não são permitidos na alimentação. Contudo, a composição da população contraria essa impressão. Cerca de 25% dos habitantes são muitos religiosos, enquanto outros 25% consideram-se moderados. Já metade da população não segue nenhuma doutrina e come de tudo. O embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, explica que os judeus ortodoxos não comem frutos do mar e carne ou derivados do porco. Também não é permitido comer, ao mesmo tempo, carne e leite (e seus derivados). Funciona da seguinte forma, caso tenham tomado leite ou comido algum de seus derivados, terão que esperar cerca de 1h para comer carne. Mas, se comer carne e quiser algum derivado de leite, terá que esperar por 6h. ;Já os não ortodoxos geralmente não seguem essa linha mais rígida e comem o que quiserem;, conta.
Toque pessoal
O responsável pelos pratos do festival é o chef israelense Shaul Ben Aderet, que começou a cozinhar profissionalmente depois de terminar o serviço militar e tem três restaurantes em Telavive, sendo o mais antigo o Kimmel, inaugurado há 18 anos. Para os brasilienses, ele elaborou um menu de pratos típicos da culinária judaica, porém com toques pessoais. Ao todo, o público poderá saborear 19 receitas, sendo oito entradas, como a salada de beringela torrada e o tahini verde; três guarnições (misto de arroz branco, selvagem ou de ervas); cinco principais, com destaque para o kebab e o filé de peixe servido com molho de tomate apimentado; e quatro sobremesas, sendo uma boa pedida a massa filo recheada com coco e nozes açucaradas. Todos serão dispostos em um bufê livre, pelo valor de R$ 65 por pessoa. Hoje e amanhã, o banquete será servido no jantar e, no sábado, no almoço e no jantar.
A proprietária do Bier Fass ; palco de festivais importantes, como o de culinária chilena que impulsionou a abertura do Taypá ;, Ivone Espiñeira, conta que eventos como esse são benéficos tanto para a casa quanto para o chef. ;A minha é que aprendo novas técnicas, novos temperos e ingredientes. Já os chefs internacionais se beneficiam com divulgação do seu trabalho e ainda levam com eles um pouco da nossa cultura, dos nossos incontáveis sabores;, avalia.
Temperos
Aderet conta um pouco da influência de sua cozinha. Segundo ele, os imigrantes de Israel eram muito pobres e passaram a se deslocar para o país principalmente após o holocausto. Para sobreviverem, utilizavam somente ingredientes baratos e fáceis de encontrar, como batatas, arroz, frango e alguns vegetais. O gosto cabia às ervas e diferentes temperos. ;Todos juntos dão cor, cheiro e sabor ao prato;, justifica.
A embaixatriz Rachel Becher elenca os condimentos, ervas e grãos mais utilizados para dar esse efeito na comida como o zaatar (mistura de condimentos), o gergelim, a beringela, a hortelã e a menta, entre outros. ;Cada um dá um toque marcante ao prato, e nossa culinária é toda assim, rica em sabores;, diz.
O chef conta que para o evento em Brasília foram utilizados mais temperos que o normal, pois a intenção era dar mais cor, mais aromas e, consquentemente, mais sabor. ;Foi a forma encontrada para fazer com que as pessoas lembrem da minha comida;, observa. Uma erva que Aderet decidiu utilizar nos preparos em Brasília é o endro, embora não seja uma muito popular em Israel. ;Foi uma escolha minha. Inclusive, estou utilizando um pouco mais do que geralmente estou acostumado. Quero dar um toque diferente para os meus pratos;, assume.
Outro sabor sobressalente é o da pimenta. O cozinheiro diz que usa muita pimenta-do-reino, que, segundo ele, é um pouco diferente da consumida no Brasil. ;Utilizo também muita páprica picante e aqui abusei das pimentas locais;, afirma.