Diversão e Arte

Escritores brasilienses e espanhóis realizam encontro aberto ao público

Em pauta, as várias formas da palavra

Nahima Maciel
postado em 14/03/2011 09:42

A poesia visual pode ter cara de objeto, performance e até uma arte gráfica ou animação. Ou pode apenas evocar imagens por meio de metáforas e combinações de palavras. Para confeccioná-la vale lançar mão de todos os recursos disponíveis, inclusive, e principalmente, os tecnológicos. O importante é não perder a postura poética, experimentar a linguagem, investigar as possibilidades estéticas da palavra. O formato não é novo ; os concretistas brasileiros usaram e abusaram dos recursos nos anos 1950 ; mas ainda rende boas experiências e é para falar sobre elas e conhecê-las que o espanhol Alfonso Hernandez organizou o encontro Poesia para se ver, que tem início nesta segunda-feira (14/3) no Instituto Cervantes.
Miranda:
Até quinta-feira, poetas de Brasília e da Espanha realizam palestras, oficinas e leituras com foco na produção do poema visual. ;Poesia para ver seria uma poesia feita com imagens poéticas através de palavras;, define Hernandez. A primeira palestra será dedicada a investigar os rumos da poesia contemporânea espanhola, que, segundo o organizador, tem características urbanas muito marcantes. ;É feita por um poeta que sai de si mesmo pela janela para falar do que está acontecendo pelo mundo;, descreve. ;O poeta observa a sociedade. Podemos falar de um poeta observador. É uma poesia que está em espaços urbanos e o poeta se mistura com esse espaço.; Ele enxerga a mesma marca na produção brasiliense e acredita que a configuração do espaço urbano da capital influencia diretamente os poetas. Além do espanhol, o debate de hoje reúne Angélica Torres, Fred Maia, Marcos Freitas, Alicia Silvestre, Antonio Miranda e Nicolas Behr, todos convidados para ministrar oficinas e palestras durante o evento.

Hernandez mora em Brasília há três anos e meio e é professor do Instituto Cervantes, mas foi em Coimbra, onde morou durante um ano, que concebeu o primeiro livro. El crucero, cujo lançamento acontece nesta segunda-feira, tem edição bilíngue em espanhol e português e foi idealizado durante um período de imersão no universo da lusofonia. ;Me atraía muito a cultura portuguesa, que para mim era desconhecida. Apesar de ser perto, não é comum os espanhóis conhecerem a cultura portuguesa.; El crucero é uma antologia da produção de Hernandez desde os 14 anos até a etapa que considera ;madura;, iniciada durante os estudos de filologia na Universidade de Granada.Nicolas Behr:

Antonio Miranda, convidado do encontro e diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, vê na poesia contemporânea forte tendência para a visualidade. Recursos tecnológicos e ferramentas digitais aparecem como instrumentos frequentes.

;A poesia escrita também traz imagens, mas são imagens visuais. Quando falo em poesia visual penso mais na poesia que se transforma em objeto. É um paradigma que no Brasil tomou impulso com os concretistas e que hoje chega a formas como a intervenção urbana e as performances poéticas;, diz Miranda. ;A poesia está buscando novas formas de expressão.;

Durante as oficinas de Poesia para ver, ele quer abordar as formas visuais de conceber versos. Já Nicolas Behr, outro convidado, acredita ser possível nortear os participantes no exercício da linguagem poética. ;As pessoas investem muito no sentimental e pouco na linguagem. Só sentimento não basta para fazer poesia, tem que ter experimentação estética, senão vira uma carta para a namorada;, avisa Behr, que divide com Alicia Silvestre a responsabilidade da oficina Mistérios poéticos.

Poesia para ver
Encontro de poesia com Alfonso Hernandez, Angélica Torres, Fred Maia, Marcos Freitas, Alicia Silvestre, Antonio Miranda e Nicolas Behr. De hoje a quinta, às 19h30, no Instituto Cervantes (707/907 Sul, Lote D). Entrada franca.

Programação completa:

* 14 de março (segunda-feira)

19h - Apresentação do livro ;El Crucero;, de Alfonso Hernández (edição bilíngüe)

19h30 - Mesa redonda: Realidades Actuales En La Poesía Hispano-Brasileña

Participantes: Antônio Miranda, Angélica Torres, Alicia Silvestre, Alfonso Hernández, Fred Maia, Nicolas Behr e Marcos Freitas

* 15 de março (terça-feira), às 19h

Oficina de escritura: Visuais

Com Antônio Miranda e Marcos Freitas

A oficina trabalhará com a poesia visual, aquela poesia que é criada através de formas e que tem relação com o mundo real. Os participantes terão que criar seus próprios poemas segundo sua visão do mundo.

* 16 de março (quarta-feira), às 19h

Oficina de escritura: Viagens Siderais e Outros Sonhos

Com Angélica Torres e Alfonso Hernández

A oficina explora os sonhos para oferecer uma poesia de imagens através das palavras e dos relacionaremos com outras manifestações artísticas, como a pintura e o mundo da arte. Os participantes elaborarão seus próprios poemas e sonhos.

* 17 de março (quinta-feira), às 19h

Oficina de escritura: Mistérios Poéticos

Com Nicolas Behr e Alicia Silvestre

Mundos paralelos à experiência como poetas, a oficina fala sobre o universo que nos rodeia. Um mundo que nos seduz, paisagens urbanas que se confundem com nossa realidade cotidiana e em nosso entorno na natureza. Os participantes aprenderão a criar, a partir da observação minuciosa da realidade circundante, com um olhar poético, e em especial, incidindo dois tópicos literários de todos os tempos: a relação entre poeta e cidade e o trio Deus-Homem-Natureza.

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