Roberta Machado
postado em 28/01/2015 06:09
Os olhinhos apertados, a boca escancarada e o choro estridente. Os bebês sabem expressar como ninguém sua insatisfação com o mundo, mas, ainda assim, a falta de habilidade verbal deixa algumas reclamações passarem desapercebidas. Esse é o caso dos pequenos que são submetidos desde cedo a procedimentos médicos dolorosos e que nem sempre conseguem deixar clara a necessidade de algum cuidado extra para aliviar o sofrimento. Pensando nesses tão jovens pacientes, pesquisadores da Escola Paulista de Medicina (EPM), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), desenvolveram um software que detecta expressões de dor em recém-nascidos e pode ajudar médicos e cuidadores a realizarem intervenções mais rápidas e precisas.Atualmente, as expressões dos bebês são decifradas com a ajuda do Neonatal Facial Coding System (NFCS), um guia que determina que pontos do rosto dos recém-nascidos indicam a presença de dor. O manual ajuda no treinamento dos cuidadores e é bastante detalhado, mas a subjetividade no julgamento, aliada ao trabalho pesado nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), pode deixar algum pedido de ajuda passar despercebido. Além disso, o desconforto dos pequenos em relação a atividades de rotina, como uma troca de fraldas, também resulta em algumas caretas de irritação que se confundem com as expressões genuínas de dor.
Os pesquisadores da EPM traduziram as diretrizes que descrevem o sofrimento dos recém-nascidos e ;treinaram; um programa de reconhecimento facial para detectar essas mudanças faciais em tempo real. ;Existem outros trabalhos que avaliam a dor, mas eles são mais subjetivos que o programa. Se conseguirmos fazer isso, poderemos usar o programa em todos os momentos da UTI, seja durante a simples troca de fraldas, suja numa biópsia;, afirma a fisioterapeuta Tatiany Marcondes Heiderech, que concebeu o projeto há mais de uma década e, finalmente, conseguiu colocá-lo em prática durante o doutorado em pediatria e ciências aplicadas à pediatria. A pesquisadora, que também é especializada em engenharia biomédica, fez por conta própria o trabalho de programação para adaptar o software de reconhecimento biométrico.
Mapa biométrico
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unifesp em 2009, quando o trabalho com os bebês começou. O programa foi testado primeiramente com cinco crianças que precisavam ser submetidas a procedimentos dolorosos no hospital. Os resultados dessa etapa ajudaram Heiderech e colegas a refinar o software, definindo que tipos de expressões o programa deveria monitorar. Todas as crianças que participaram da pesquisa, ressaltam os autores, necessitavam das intervenções médicas, que foram realizadas independentemente do estudo.
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