Belo Horizonte ; O México tem. A Bielorrúsia, também. O Paquistão é outro país que já ganhou um Prêmio Nobel. Mas por que o Brasil, nunca? A pergunta circula na academia antes mesmo de o Brasil ser considerado pela Unesco o 13; produtor de ciência mundial. O progresso da ciência nacional nos últimos anos é impressionante, com destaque para a última década. Pulamos de 21 mil pesquisadores em 2003 para 128 mil em 2010, sendo 63% deles doutores. As mulheres, que eram 39% entre os cientistas, saltaram para 50%. E os centros de pesquisa dispararam: de 99, foram para 452, segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mas os desafios na área científica são muitos. Há ainda um longo caminho a percorrer, e ele começa pela valorização de quem faz ciência: o pesquisador.
Gustavo Menezes tem 32 anos. Graduou-se em odontologia, fez mestrado e doutorado em fisiologia e farmacologia, e dois pós-doutorados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Encarou um terceiro pós-doutorado na Universidade de Calgary, no Canadá. Tem o próprio laboratório e a própria linha de pesquisa, e sua rotina é árdua: entra às 7h, almoça em meia hora e não sai do câmpus antes das 21h. Não que essa seja sua carga de trabalho, mas porque ele acredita na ciência. Como professor adjunto de dedicação exclusiva, ganha salário bruto entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. No entanto, o valor de sua bolsa como pesquisador nível 2 do CNPq é de R$ 1.100.
T.F.R. tem a mesma idade de Menezes. Mas sua trajetória profissional foi diferente: passou por três cursos de graduação distintos, em cinco faculdades. Não concluiu nenhum. Hoje, faz relacionamento com investidores em uma multinacional e, para chegar a um cargo gerencial, concluiu o curso de administração a distância, única forma de conciliar o estudo com as constantes viagens internacionais. É um jovem expoente em sua área, sendo disputado por grandes grupos. Seu salário é de R$ 14 mil.
Dois jovens, dois futuros brilhantes, mas apenas um deles produz inovação e seria capaz de mudar mazelas da população com seu trabalho. Mesmo ganhando menos, Gustavo Menezes está no rol de alguns dos milhares de pesquisadores brasileiros dispostos a contribuir para o curso da humanidade. Em seu laboratório de imunobiofotônica, parte da estrutura do Grupo de Imunofarmacologia da UFMG, ele usa células fluorescentes em animais geneticamente modificados para acompanhar a resposta imunológica do organismo para doenças hepáticas. Tem publicado artigos em importantes revistas científicas mundiais, à custa de muito esforço. E paixão.