postado em 29/01/2012 10:37
O mal de Parkinson é uma doença neurodegenerativa, cujas principais características foram descritas pela primeira vez em 1817, pelo médico inglês James Parkinson. O problema de saúde, que acomete aproximadamente 10 milhões de pessoas ; entre elas o ex-lutador de boxe Muhammad Ali e o ator Michael J. Fox ; no mundo, tem como sintomas tremores, rigidez muscular e redução da quantidade de movimentos feitos pela pessoa, que se tornam mais lentos. Pesquisadores do Instituto Gladstone, organização norte-americana sem fins lucrativos de estudos biomédicos, identificaram uma proteína que intensifica os sintomas da doença. Essa descoberta pode levar ao desenvolvimento de novos tratamentos contra o mal, destinados a bloquear a proteína. Isso representa uma nova esperança para quem tem a vida afetada duramente pelos distúrbios motores decorrentes da enfermidade.A pesquisa, publicada esta semana na edição on-line da revista científica Neuron, apresenta a proteína RGS4, que ajuda a regular a atividade dos neurônios no estriado, parte do cérebro ligada aos movimentos. Em pessoas com o mal de Parkinson, entretanto, a proteína agiria fazendo o contrário, contribuindo para problemas de controle motor. Uma das autoras do estudo, a especialista em neurociência Talia Lerner, que integrou a equipe do instituto enquanto terminava os estudos na Universidade da Califórnia em São Francisco (UFSC), detalhou ao Correio como foi desenvolvido o trabalho. ;Dissecamos os mecanismos moleculares pelos quais as sinapses ; ligações entre os neurônios ; no estriado mudam sua força de acordo com o estímulo que recebem. Observamos particularmente a reação chamada depressão de longo prazo (LTD), em que as conexões reduzem a intensidade;, explicou. ;Mas o aspecto mais importante desse trabalho foi identificar que a RGS4 é a ligação-chave entre o neurotransmissor dopamina e a reação LTD no estriado.; Nas pessoas com a doença, os neurônios com dopamina morrem e, consequentemente, há menos quantidade do neurotransmissor no estriado.
Quando notaram que uma das ações da dopamina no cérebro é reduzir a atividade da proteína para que as conexões neurais ocorram mais vagarosamente, os pesquisadores pensaram que, se pudessem diminuir a RGS4 com outro mecanismo, fariam o estriado funcionar normalmente ; mesmo sem a presença do neurotransmissor. ;Para testarmos essa hipótese, usamos dois grupos de ratos, um com a proteína normal e outro geneticamente modificado para não ter a RGS4. Tratamos ambos os grupos com um composto químico que mata os neurônios com dopamina;, descreve Talia.
Os resultados mostraram que os ratos sem a proteína, mesmo após a morte dos neurônios, se saíram melhor em atividades que requeriam habilidades motoras do que os que estavam com a RGS4 intacta. ;Os ratos geneticamente modificados conseguiram se movimentar mais livremente em uma área aberta e se saíram muito melhor em um teste de coordenação motora no qual tinham que andar em uma passarela de equilíbrio;, recorda a neurocientista.
Tratamento
Atualmente, a base do tratamento do mal de Parkinson é o uso de substâncias que estimulam a dopamina no cérebro, como explica o neurologista Hudson Mourão Mesquita, especialista em reabilitação de pacientes com problemas neurológicos. ;Para evitar complicações inerentes à falta de mobilidade, essas pessoas também fazem atividades físicas e fisioterapia. Outra opção é a cirurgia funcional;, cita. ;Infelizmente, todas essas medidas são paliativas e a doença continua a evoluir.;
O neurologista João Carlos Papaterra Limongi, especialista em distúrbios do movimento e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), conta que a levodopa é a droga mais eficaz no alívio dos sintomas da doença, mas que, por ser muito forte, alguns médicos preferem evitá-la no início do tratamento. ;Nos primeiros cinco anos, quando ainda existem células cerebrais capazes de funcionar como ;depósitos; e armazenar a dopamina produzida pela levodopa, cada dose pode ser eficaz durante mais de seis horas, de modo que duas a três doses por dia sejam o suficiente para controlar as características da patologia. Após esse período, muitos pacientes começam a experimentar complicações da terapia;, destaca o médico.
A expectativa de Talia e de sua equipe é de que a pesquisa leve ao desenvolvimento de novos tratamentos. ;Nossos resultados indicam que drogas que inibam a RGS4 podem ser muito úteis;, afirma. Além disso, como o estudo aborda a função do estriado como um todo, os cientistas estimam que ele possa ter impacto na compreensão de outras enfermidades relacionadas, como a doença de Huntington e a distonia.
Para Mesquita, saber o papel crucial dessa proteína abre uma nova linha de ataque à doença. ;Desse modo, poderão surgir novos medicamentos que, sozinhos ou associados aos existentes, poderão melhorar a qualidade de vida dos pacientes e diminuir os efeitos colaterais do uso crônico dos remédios tradicionais;, estima. Ele pondera, no entanto, que esse próximo passo ainda não é a cura do problema. ;O Parkinson e o Alzheimer são as doenças neurológicas degenerativas mais frequentes na sociedade ocidental e, com o envelhecimento da população, serão cada dia mais comuns. Por isso, qualquer avanço no tratamento terá um impacto muito grande na saúde pública internacional;, garante.
Distúrbios neurológicos
A doença de Huntington é um distúrbio neurológico hereditário em que a pessoa tem problemas mentais e motores. É caracterizada por movimentos involuntários e irregulares do paciente, pelo emagrecimento intenso, pelo envelhecimento precoce e pela perda cognitiva. Cerca de metade dos que sofrem com o problema têm rigidez muscular, movimentos mais lentos, dificuldades para articular palavras e engolir alimentos. Já a distonia tem como características os espasmos musculares, que causam movimentos e posturas anormais. Eles podem afetar uma parte específica do corpo, como as mãos e o pescoço, ou mesmo todo o corpo. Nos casos mais graves, o paciente precisa de ajuda para executar a maioria das atividades do dia a dia.