postado em 04/10/2011 08:32
Depois de mais de uma década de trabalho, o Grande Conjunto de Radiotelescópios do Atacama (Alma, na sigla em inglês), o mais ambicioso projeto de astronomia terrestre, ainda em construção no deserto do norte do Chile, iniciou suas operações observando com uma nitidez incomparável duas galáxias em colisão. A observação foi feita em uma fase de testes por 12 das 66 antenas interligadas que integram o megaprojeto, localizado na Planície Chajnantor, a 5 mil metros de altitude, no deserto do Atacama. O projeto prevê ainda dois anos de construção.
O local, extremamente seco, oferece as melhores condições para a radioastronomia, que explora o Universo por meio de ondas de rádio emitidas por galáxias, estrelas e outros corpos celestes, não captados pelos telescópios ópticos e infravermelhos, que só percebem a luz visível.
O Alma capta comprimentos de ondas milimétricas e submilimétricas, mil vezes mais longas do que os comprimentos de onda de luz visível, o que lhe permite ver através das densas nuvens de poeira cósmica e gás onde se formam estrelas e planetas, assim como objetos muito distantes no cosmos.
;Esperamos muito tempo para chegar ao ponto de que o Alma seja capaz de fazer ciência. Foi um longo caminho, mas todas as partes que precisávamos para construir esse telescópio por fim se uniram e temos os primeiros resultados;, diz à agência France-Presse Richard Hills, chefe de projetos científicos do projeto.
;Os resultados são realmente melhores do que podíamos esperar. São perfeitamente claros, não há nada de desordem nos dados, obtidos exatamente tal como esperávamos. Eles nos mostram o que está acontecendo dentro dessas galáxias que estávamos procurando;, acrescenta o cientista, na base de operações do projeto, situada a 2.900m de altitude.
Nascimento estelar
A primeira imagem revelada pelo Alma corresponde às Galáxias das Antenas, um dueto de galáxias em colisão situado na Constelação de Corvus e descoberto em 1785. ;Esse tipo de observação será vital para nos ajudar a compreender como as colisões de galáxias podem provocar o nascimento de estrelas. Esse é apenas um exemplo de como o Alma revela partes do Universo que não podem ser observadas pelos telescópios ópticos e infravermelhos;, destacou a organização, em um comunicado oficial.
Espera-se que o projeto esteja concluído em 2013, quando as 66 antenas funcionarão como um único grande telescópio, com resolução 10 vezes superior à do Hubble, posicionado no espaço. ;Cada antena é muito precisa, mas todas juntas equivalem a uma antena muito maior. Então, consigo ver muito mais longe e com mais precisão;, explica Martin Mündnich, engenheiro mecânico de antenas.
Para transferir as antenas, de 12m de diâmetro, foi necessário desenvolver um veículo especial de 14 rodas capaz de levantá-las sem danificá-las. A 5 mil metros de altitude, deve-se ter cuidado especial com a poeira, o vento e a temperatura, que passa dos 30;C durante o dia e desce a -15;C ou -20;C à noite.
;Chajnantor é um lugar espetacular. É muito seco e não temos umidade na atmosfera. Para as frequências que precisamos observar, a umidade é a mais emblemática. Às vezes, vimos em Chajnantor que o nível de unidade no topo da antena é de 0, isto é, entre a antena e a estrela não há nada de água, algo espetacular que, em todo o mundo, só ocorre aqui;, acrescenta Mündnich.
Pedidos
O conjunto de radiotelescópios é o primeiro projeto astronômico do qual participam Europa, Estados Unidos e Japão, em cooperação com o Chile. O programa tem um orçamento estimado em US$ 600 milhões, financiado prioritariamente pela Organização Europeia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Sul e a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
Trata-se de uma iniciativa muito aguardada pela comunidade científica. Para a primeira etapa, foram recebidos 900 pedidos de observação, entre os quais foram escolhidos os 100 melhores trabalhos. ;Eles cobrem um amplo espectro de temas, de estrelas, galáxias, planetas, cometas ou objetos distintos;, informa Hills.
;Existem tipos de instrumentos ou telescópios similares no mundo, mas o Alma é entre 10 e 100 vezes mais poderoso do que os outros. Com as 16 antenas já em operação, somos tão poderosos quanto os instrumentos que existem agora;, garante Lars Nyman, chefe de operações científicas. As metas do Alma são ambiciosas. ;Deveremos poder ver a formação das primeiras galáxias do Universo;, acredita o pesquisador.