Paloma Oliveto
postado em 17/05/2011 10:54
Ainda não dá para pensar em arrumar as malas e se mudar para lá. Mas cientistas do Instituto Pierre Simon Laplace, da França, conseguiram identificar o primeiro exoplaneta com clima semelhante ao da Terra, característica que o tornaria habitável. Em um artigo publicado ontem na revista especializada The Astrophysical Letters Journal, eles descrevem o Gliese 581d, que orbita a estrela anã Gliese 581, uma das mais próximas do Sol da Via Láctea. Dois outros planetas do mesmo sistema já haviam sido candidatos à colonização humana, mas foram descartados depois de estudos mais aprofundados.
;O primeiro planeta analisado foi o Gliese 581c;, conta ao Correio Robin Wordsworth, principal autor do artigo. ;Mas ele está muito perto (da estrela a qual orbita) e, então, recebe muita luz. Infelizmente, ele recebe tanta energia que, se tivesse um oceano, a água iria ferver, progressivamente aquecendo o planeta em um efeito estufa em cadeia, o que eliminaria qualquer chance de vida. Há outro planeta que poderia ser habitável, o Gliese 581g, mas há sérias dúvidas sobre sua existência, porque sua detecção foi incerta;, diz.
Agora, porém, os cientistas não têm dúvidas de que o novo planeta descrito é um provável candidato à vida. Com massa sete vezes menor à da Terra, mas duas vezes maior em tamanho, ele tem uma atmosfera fina, que consegue reter calor de forma suportável. À noite ; o Gliese 581d tem um lado escuro ;, o clima resfria, mas não congela. Para chegar a essas conclusões, os cientistas desenvolveram um modelo computacional que simula o clima nos exoplanetas, aqueles que orbitam uma estrela fora do Sistema Solar. Assim como os modelos usados para os estudos climáticos da Terra, a tecnologia permite testar diversas condições, como a exposição a tipos de gases e nuvens.
Longa viagem
As observações mostraram que o Gliese 581d pode suportar oceanos, nuvens e chuvas. A 20 anos-luz, o planeta é um dos mais próximos vizinhos da Terra. Mas, ainda assim, vai demorar algum tempo para que seja possível alcançá-lo. A mais rápida nave disponível atualmente, a Voyager 1, levaria 300 mil anos para chegar lá. ;Ainda não temos a tecnologia para investigar a presença de vida no planeta, mas as coisas estão avançando rápido. Basicamente, para encontrar bioassinaturas nesse planeta, precisamos de um enorme telescópio, que poderia ficar tanto aqui ou no espaço;, diz Wordsworth.
Apesar da descoberta promissora, o astrofísico avisa que muitos estudos precisam ser feitos antes de os terráqueos pensarem em colonizar o planeta. ;Quando os cientistas falam de planetas habitáveis, isso significa que podem abrigar qualquer tipo de vida. Os micróbios, por exemplo, só precisam de algum tipo de fonte de energia, alguns nutrientes e água líquida. Já os seres humanos são mais volúveis ; só podemos sobreviver se houver oxigênio livre e uma razoável faixa de temperatura. Os cenários que testamos mostram que o Gliese 581d poderia ser venenoso para os seres humanos, mas bastante viável para outros tipos de vida;, diz. Para colonizar um planeta assim, além de uma superavançada tecnologia espacial, seria necessário adaptar os níveis altos de CO2 encontrados na atmosfera do exoplaneta. Nada que, um dia, a ciência não consiga fazer.