Cidades

Instituto mantém vivas as tradições do nordeste e divulga músicas regionais

O "Orgulho de Ser Nordestino - Simples Assim" existe há 30 anos, mas foi oficializado como organização há cerca de 10. A sede fica na Candangolândia, um dos redutos de nordestinos da capital

Jéssica Eufrásio*
postado em 10/12/2017 08:00 / atualizado em 20/10/2020 10:01

Logo após a entrada, é possível avistar um enorme mandacaru na área de lazer da chácara. Uma das paredes que cercam o ambiente expõe coleções: telefones, rádios, câmeras fotográficas, fotografias, livros de literatura de cordel e produtos ilustrados com xilogravuras. Em outro canto, sanfonas de diferentes épocas. Acima delas, uma placa em estilo rústico diz “Favor, mexer”. O local é, definitivamente, um pedaço do Nordeste em Brasília.

É dessa forma que o instituto Orgulho de Ser Nordestino — Simples Assim se apresenta. A entidade existe há 30 anos, mas foi oficializada como organização há cerca de 10. A sede fica na Candangolândia, um dos redutos de nordestinos da capital.

O espaço carrega a cultura de nove estados em cada detalhe, até na ambientação musical, com canções de Luiz Gonzaga reproduzidas em um conservado toca-discos. Não por acaso, o instituto já recebeu visitas de expoentes da música nordestina, como Fagner, Dominguinhos e Santanna, o Cantador.



Affonso Gomes, 50 anos, além de presidente da entidade, é sonetista, jornalista e compositor. Ele conta que o local é um reduto para artistas. “Mesmo que não haja espaço para hospedagem, eles preferem ficar aqui quando vêm a Brasília para fazer shows, porque é onde eles encontram um pedaço de casa no Centro-Oeste”, relata, com carregado sotaque maranhense.

“Na capital, há pelo menos 40 trios  de forró pé-de-serra. Lá no Nordeste, muitos dos grupos não têm a menor ideia da dimensão que a música deles alcançou”, completa. Segundo ele, a tradição tem se perdido nos estados nordestinos e, por isso, a cultura busca refúgio em outros lugares.

Ambiente acolhedor

A instituição transborda a receptividade do Nordeste. O sanfoneiro Dida Pachequinho e, na voz e triângulo, Francisco Nascimento, integrantes do trio Forró Nordestino, receberam a equipe de reportagem ao som de forró pé-de-serra. O grupo está na cidade há um mês para uma série de shows e não abriu mão de passar a maior parte do tempo no instituto. “Um amigo cedeu um lugar na Asa Norte, mas deixamos somente nossas roupas lá, porque preferimos ficar aqui”, afirma Dida.

O prestígio em outras terras impressiona os artistas. “Alguns com 50 anos de carreira ou mais não têm noção do que acontece pelos trios do Sudeste, Centro-Oeste e Sul. O próprio Flávio José fez shows fora de lá e chegou a chorar ao ver o público cantando”, observa Francisco.



A organização depende de doações. Como o local se encontra em reforma, ainda não foi aberto ao público. As visitas, por enquanto, ocorrem somente por meio de convite pessoal.

Ainda assim, os planos de Affonso para apoiar e promover a valorização da diversidade nordestina seguem. “A previsão é de que tudo esteja organizado por volta de fevereiro do ano que vem. Depois disso, abriremos o local ao público, para visitas agendadas. Também pretendo oferecer aqui aulas de acordeão gratuitas para crianças de escolas públicas do DF”, revela.


Lembrança


Aqui, nesta praça inefável,
Onde out’rora eu sentia de perto
A pulsar do teu coração,
Estou sozinho a te esperar
E a reviver a nossa bela paixão,
De onde estou olho para o céu
E vejo uma estrela caindo
Com sua luz cintilante
Na calada da noite,
E lá se foi mais um astro
em direção ao Mar,
Naquele instante fiz um pedido,
E nele desejei ter você,
Surgiu uma brisa afável,
Foi como se tu tivesse chegado,
Pois senti teu suave perfume em mim,
Mas tudo que é belo acaba depressa,
A estrela se foi, a brisa se foi
E o teu perfume também,
Ficando somente a tristeza e a lembrança,
A tua doce lembrança
Que nunca vai se separar de mim.

Affonso Gomes, São Luís (MA), 
fevereiro de 1983.

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