Helena Mader
postado em 20/05/2017 08:00
Durante duas semanas, o escritório do advogado Willer Tomaz, no Lago Sul, ficou sob monitoramento constante da Polícia Federal. Com discrição, agentes controlavam a movimentação na mansão da QI 1. A medida foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que também liberou a intercepção telefônica de Willer e do procurador da República Ângelo Goulart Vilella, acusado de vazar informações sigilosas ao grupo criminoso.
Essas ações ajudaram as investigações, que levaram à deflagração, na quinta-feira, da Operação Patmos, responsável pelas prisões de Willer e Ângelo. Além de cooptar um procurador, Willer teria usado a proximidade com o juiz federal Ricardo Soares Leite, da 10; Vara Federal de Brasília, para negociar um contrato com o empresário Joesley Batista, dono da JBS. Segundo a delação do empresário, ;Willer deixou claro que não havia propina, apenas amizade e proximidade com o juiz;.
Com base nos depoimentos e nas medidas cautelares cumpridas durante a apuração, o Ministério Público Federal tipificou os atos de Willer Tomaz e de Ângelo Goulart como práticas de corrupção passiva e organização criminosa. Além disso, de acordo com o órgão, o procurador e o advogado tentaram atrapalhar o acordo de delação entre Joesley e a Procuradoria-Geral da República (PGR), com o intuito de ;proteger amigos políticos integrantes do PMDB;. Ou seja, ambos teriam feito jogo duplo: eles lucraram nas negociações com Joesley e, ao mesmo tempo, poderiam sabotar o acordo de colaboração premiada para poupar grandes figurões do partido. Os nomes dos senadores peemedebistas Renan Calheiros e Romero Jucá foram mencionados como pessoas ligadas ao advogado brasiliense.
De acordo com os depoimentos de executivos e funcionários da JBS, divulgados ontem, Willer acertou com Joesley Batista o pagamento de R$ 8 milhões. Para fechar o total da bolada, o advogado prometeu influências no Ministério Público Federal e também na primeira instância da Justiça Federal. Ele garantiu ter prestígio com o procurador da República Ângelo Goulart Vilella e assegurou, ainda, ter proximidade com o juiz Ricardo Leite. Nesse juízo, tramitam processos relativos à Operação Greenfield, que tem entre os alvos empresas do grupo. A relação próxima com o magistrado poderia, dessa forma, ajudar a defesa da Eldorado, firma controlada pela JBS.
Segundo a delação de Joesley, Willer ;deixou claro que não havia propina, apenas amizade e proximidade com o juiz;. O empresário, então, teria cobrado um jantar com o magistrado e o advogado. Não há nenhuma indicação de que esse encontro ocorreu. O contrato previa a remuneração de R$ 4 milhões por honorários iniciais e R$ 4 milhões por êxito, ou seja, o arquivamento do inquérito.
Willer mencionou a um dos advogados de Joesley, Francisco de Assis e Silva, conhecer um procurador que integraria a força-tarefa da Operação Greenfield: Ângelo Goulart Vilella. Pouco tempo depois, a previsão foi oficializada: Francisco recebeu, via WhatsApp, a nomeação do representante do Ministério Público Federal para o grupo incumbido das investigações. Segundo o depoimento, após a primeira reunião do procurador nas investigações da Greenfield, Willer Tomaz recebeu a gravação do depoimento de um ex-funcionário da JBS. Munido dos grampos, o advogado, supostamente, sugeriu que pagaria uma mesada de R$ 50 mil a Ângelo, a ;título de ajuda de custo;.
Cobrança
Em reunião realizada em fevereiro deste ano com o advogado Francisco de Assis e Silva, que representava Joesley e suas empresas, Willer voltou a falar sobre ;o relacionamento íntimo com o juiz Ricardo;. Segundo o relato de Francisco, o advogado teria deixado claro ;que não haveria promiscuidade, que nunca tinha saído da linha ética;. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF, Juliano Costa Couto, teria participado de um encontro com Joesley, Francisco e Willer, no escritório desse último. Segundo Francisco, nessa reunião, ;novamente é falado do relacionamento de Willer com o juiz Ricardo;. ;Já neste momento, o (Willer) Tomaz foi contratado e foi despachar com o magistrado;, disse Francisco à PGR.
Em uma das reuniões, Willer reclamou da bolada acertada ; ele queria mais. ;Na conversa, o advogado (Willer) Tomaz reclamou dos honorários, cobrou mais por tudo que estava oferecendo e falou que um terço do que cobrou foi para o Juliano Costa Couto, um terço foi para o André (Gustavo Vieira, sócio de uma agência de publicidade) e o restante foi para alguém que não se lembra quem foi;. A remuneração para o procurador Ângelo Vilella teria ficado em R$ 50 mil mensais.
O presidente da OAB-DF, Juliano Costa Couto, mencionado no depoimento, disse que ainda não teve acesso ao conteúdo completo das delações. O advogado garantiu não ter exigido, recebido ou negociado qualquer valor. Costa Couto assegurou que não contribuiu em nada para ;a condução de fatos delituosos;. Alega que apenas indicou o nome de Willer para atuar em defesa dos interesses do frigorífico.
Interferência
Em nota, a 10; Vara Federal esclareceu que, por causa da especialização, lá tramitam mais de 20 grandes operações criminais, como Lava-Jato, Greenfield, Perfídia, Zelotes, Acrônimo e Abate. Segundo informações da assessoria de Comunicação da Justiça Federal, esse trabalho resultou ;na média de uma deflagração por semana, para as quais os magistrados decretaram várias prisões e autorizaram busca e apreensão, condução coercitiva e quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático em desfavor de centenas de pessoas físicas e jurídicas;.
Na nota oficial, o juízo argumenta, ainda, que ;todas as medidas solicitadas foram apreciadas com brevidade e de acordo com as garantias devidas às pessoas envolvidas. Dessa forma, mostram-se infundadas quaisquer declarações do investigado Joesley Batista sobre eventual interferência na condução das investigações no âmbito da Justiça Federal de Brasília, que prejudique o andamento dos processos ou influencie a independência dos magistrados que atuam na 10; Vara;.
Controle
Por determinação judicial, o escritório de Willer foi monitorado pela Polícia Federal ;a fim de acompanhar a entrada e a saída de pessoas, notadamente aquelas com relação às investigações em curso;. A determinação ocorreu em 2 de maio e foi chancelada pelo relator da Lava
R$ 50 mil
Valor mensal que o procurador da República Ãngelo Goulart Vilella teria recebido de Willer Tomaz a ;título de ajuda de custo;