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Palácio Itamaraty, que hoje completa 50 anos, tem mobiliário restaurado

Palácio Itamaraty começa a receber as primeiras peças que passam por restauração; iniciativa é dos professores do Instituto Federal de Brasília (IFB) com o Iphan e o Ministério das Relações Exteriores

Renato Alves
postado em 14/03/2017 06:03

Os representantes do IFB levaram, ontem, as três primeiras peças restauradas ao Palácio: trabalho continua


Quem trabalha ou visita o Palácio Itamaraty senta em cadeiras e usa mesas consideradas obras de arte. Criações de Sérgio Rodrigues (1927-2014) e de Bernardo Figueiredo (1934-2012), que ganharam fama pela linha desenvolvida para o edifício-sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE). O prédio completa 50 anos hoje. Para marcar a data, diplomatas e acadêmicos organizam uma série de iniciativas, desde o ano passado. Uma é a restauração de parte do mobiliário.

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Representantes do Instituto Federal de Brasília (IFB) entregaram as três primeiras peças recuperadas, ontem à tarde. São uma mesa de escritório e uma mesa de centro assinadas por Rodrigues e uma mesa de centro de Figueiredo. Esse é o piloto de um programa de restauração de obras do palácio, iniciado em fevereiro. Hoje, o IFB e o MRE devem assinar um convênio para a restauração de mais peças.

O Itamaraty tem ao menos 300 peças históricas precisando de reparos. ;Todas podem entrar nesse convênio. Tudo vai depender do IFB;, adiantou o conselheiro Heitor Granafei, secretário-executivo da Comissão RE 50, que prepara exposições e cerimônias para comemorar os 50 anos do Itamaraty. ;O nosso intuito é restaurar tudo, mas dependemos do estado em que estão as peças, da quantidade de mão de obra e da disponibilidade de madeira;, explica a professora Fernanda Freitas de Torres, coordenadora do curso técnico de móveis do IFB.

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Os móveis de Rodrigues e Figueiredo são feitos de madeiras nativas, como o jacarandá, que não podem mais ser comercializadas no Brasil. Por isso, para a restauração, o IFB recorre ao Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão do Ministério do Meio Ambiente. ;A gente conserva madeiras raras e nobres, que podem ser destinadas a esse tipo de serviço, como foi no caso das três peças do Itamaraty entregues hoje (ontem);, contou Fernando Gouveia, do Laboratório de Produtos Florestais do SFB.

Descanso


Mesmo com 50 anos de uso, os móveis desenhados por Sérgio Rodrigues e Bernardo Figueiredo continuam em pleno uso, no complexo do MRE. No terceiro piso do Palácio Itamaraty, por exemplo, os turistas podem contemplar toda a Esplanada dos Ministérios dos bancos Eleh, instalados ao redor do jardim suspenso, composto pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994).

Nos reservados gabinetes do Itamaraty, o mobiliário de Rodrigues e de Figueiredo combinam com tapetes persas comprados em Beirute e em Londres. Móveis, tapeçarias e quadros históricos, trazidos do Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro, completam a decoração. Há ainda os jardins, nas áreas externas e internas, do térreo ao terraço do terceiro andar. Esses também podem ser apreciados pelos visitantes.

Desgaste


Apesar do material resistente (madeira nobre), as cadeiras de Rodrigues, em especial, sofrem o natural desgaste do tempo e do uso. Por isso, por meio de iniciativa dos professores do IFB com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no DF e o MRE, algumas peças estão sendo restauradas.

Os alunos dos cursos técnico em móveis e técnico em design de móveis do câmpus Samambaia do IFB são os responsáveis pela restauração do mobiliário do Palácio Itamaraty. Eles realizaram a restauração de mesas e cadeiras para a biblioteca do Ministério do Meio Ambiente, em parceria com a UnB, no ano passado.

Também em função dos 50 anos do Itamaraty, conforme mostrou o Correio, na edição de domingo, professores e estudantes do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB) passaram dois meses fazendo um levantamento das obras de arte do palácio. Eles identificaram 580 peças ; 450 gravuras; 91 pinturas, colagens e desenhos; 18 esculturas; 10 painéis e azulejos (entre piso, parede e treliça) e 10 tapetes (só os que estão nas paredes). O trabalho vai resultar no mais completo inventário das obras de artes daquela que é considerada a obra-prima de Oscar Niemeyer.

Três prédios
Três edifícios compõem o complexo do MRE: o Palácio Itamaraty (com três pavimentos), o Anexo I (nove) e o Anexo II (cinco), conhecido popularmente como Bolo de Noiva. O palácio tem o maior hall sem colunas da América Latina, com área de 2,8 mil m;.


Para saber mais

Materiais nacionais


Sérgio Rodrigues sempre se preocupou em desenvolver um mobiliário moderno e autenticamente brasileiro. A originalidade da estrutura de toras de jacarandá maciço e percintas de couro e dos almofadões que se moldavam confortavelmente ao corpo, distantes das linhas retas e das estruturas de aço então em voga, levaram o júri do Concurso Internacional do Móvel, em 1961, em Cant;, na Itália, a conferir à cadeira Mole, o primeiro prêmio.

Formado em arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, Bernardo Figueiredo colaborou com a empresa OCA, de Sérgio Rodrigues, de quem recebeu forte influência, e também conviveu com Joaquim Tenreiro, um dos pioneiros no design de mobiliário do país. Desde 1962, Bernardo Figueiredo vinha desenvolvendo o que chamava de Desenho Brasileiro: um mobiliário que valorizava materiais e técnicas nacionais, como o couro, a palhinha e o jacarandá. Ideias em perfeita sintonia com o projeto do Palácio Itamaraty.



Linha do tempo

1960

  • Em 12 de setembro, é lançada a pedra fundamental do Palácio dos Arcos. No entanto, a obra não começa de imediato e a complexidade do projeto arquitetônico, de Oscar Niemeyer, vai atrasar a construção.


1967

  • Sem o famoso espelho d;água e os acabamentos internos, o Palácio dos Arcos abre as portas para a sua primeira recepção oficial, em 14 de março. No último dia do seu governo, Castello Branco assina o decreto que dá ao palácio o nome consagrado internacionalmente à chancelaria brasileira: Palácio Itamaraty.
  • Em abril, o gabinete do ministro das Relações Exteriores é definitivamente transferido do espaço que ocupava, no Ministério da Marinha, para o Itamaraty. No mês seguinte, o palácio recebe a visita dos príncipes herdeiros do Japão e, em outubro, do chanceler da República Federal da Alemanha, Willy Brandt.


1968

  • Então com 42 anos de idade e 16 de reinado, a Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, e seu consorte, Philip, Duque de Edimburgo, passam 11 dias no Brasil, em uma visita oficial. O casal chega a Brasília em 5 de novembro. A sua recepção, no Itamaraty, é considerada uma das mais chiques da capital.


1969

  • Com a sede toda construída e mobiliada, o MRE se torna o primeiro ministério a mudar-se, em sua totalidade, do Rio de Janeiro para Brasília.


1970

  • O presidente Emílio Garrastazu Médici inaugura, oficialmente, em 20 de abril, o Palácio Itamaraty.

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