Otávio Augusto
postado em 19/01/2017 06:00
Casos suspeitos de febre amarela em três estados levaram a Secretaria de Saúde do Distrito Federal a intensificar a imunização contra a doença na capital do país. A procura é tamanha que em alguns postos de saúde as doses acabaram. Para se ter dimensão da demanda, no Centro de Saúde N; 3 do Guará, as aplicações subiram 66% ; saltaram de 30 doses diárias para 50. Mensalmente, o Ministério da Saúde repassa para o DF 25 mil frascos de vacina contra a doença, sendo que a demanda varia entre 14 mil e 20 mil por mês.
A procura não é apenas por doses. Há quem busque informações sobre a doença e o cronograma de vacinação. Agora, somente duas doses bastam para a imunização completa (leia Para saber mais). ;As pessoas chegam com dúvidas. Muitas não sabem se estão vacinadas ou não. É grande o número de pacientes que perdem o cartão e se esquecem que isso é um documento;, alerta Luciano Oliveira, da sala de vacinação do Centro de Saúde N; 4 da Estrutural. A Secretaria de Saúde diz que não haverá campanha específica, já que a vacinação contra a febre amarela ocorre o ano inteiro.
A caderneta de vacina da estudante Clara Veloso, 15 anos, estava atrasada. Ontem, a menina atualizou as doses, inclusive contra a febre amarela, no Centro de Saúde N; 3 do Núcleo Bandeirante. A mãe dela, a médica Andreia Veloso, 55, está temerosa com os casos recentes. ;A doença está mostrando uma taxa de mortalidade alta. Como aqui já teve surto há 10 anos, fiquei preocupada;, ressalta. Ela está vacinada. ;Quanto mais pessoas estiverem protegidas, melhor é para a cidade;, completa a moradora do Park Way.
Mais de 10 pessoas, somente na tarde de ontem, passaram pelo Centro de Saúde N; 3 do Guará em busca de vacina contra a doença. Lá, a imunização teve de ser interrompida. As doses acabaram logo após o almoço. A unidade solicitou mais 200. O volume é suficiente até o início da próxima semana. ;O aumento mais expressivo ocorreu nos últimos 15 dias. Acredito que o surto em Minas Gerais acendeu o sinal de alerta no brasiliense;, argumenta o diretor da unidade, Fábio Teixeira. Situação semelhante ocorreu no Centros de Saúde N; 9 do Cruzeiro e na Sala de Imunização do Hospital das Forças Armadas (HFA).
A Secretaria de Saúde informou, em nota, que cabe a cada unidade de saúde solicitar as doses, mas admite falhas na distribuição. O problema estaria ligado à alta procura. ;Particularmente nesta semana, algumas unidades ficaram sem as doses por curto prazo de tempo, em razão do aumento de demanda;, destaca trecho do texto. Os estoques serão normalizados ainda hoje, segundo a pasta.
Apesar da preocupação, Flávia Bravo, presidente da regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que não há razão para alvoroço. ;Existe uma ansiedade grande das pessoas que vivem nas áreas onde não há risco. O desespero atrás da vacina não adianta. A prioridade agora é vacinar justamente quem está em risco e quem for viajar para áreas endêmicas;, destaca a especialista (veja Cinco perguntas para).
Até outubro do ano passado, a adesão da vacina atingiu 81,9% da população, segundo dados preliminares. Mais de 190 mil pessoas receberam doses da vacina. Em 2015, houve, pela primeira vez, aumento do mal no DF desde o surto de 2007. Ocorreram 38 notificações. Em 2016, foram registradas 24. Apesar de não haver um grande volume de doentes, o vírus está em circulação do DF. Em 2016, a Secretaria de Saúde recolheu pelo menos oito macacos mortos com a doença. Os óbitos aconteceram no Jardim Botânico, no Lago Sul e na Candangolândia.
Preocupada com os casos da doença, a dona de casa Raimunda Silva Nascimento, 44, levou o filho, o estudante Washington, 15, para a sala de vacinação do Centro de Saúde N; 4 da Estrutural. Ela não sabia da mudança no calendário de vacinação e fez confusão com as informações. O rapaz estava imunizado. Ele tomou a primeira dose em 2002 e a segunda, em 2013. ;Quem está com dúvida deve procurar o posto mais próximo de casa. A febre amarela é uma doença grave e requer cuidado;, ressalta.
A enfermeira Adriana Dias Cecílio, que recebeu Raimunda e Washington, concorda. ;O essencial é que a caderneta de vacinação esteja em dia. Quem perdeu o cartão ou não sabe se está imunizado deve procurar um centro de saúde;, emenda. Ela critica o desleixo com os registros de imunização. ;Muita gente perde esse histórico. Temos que ter a consciência de que o cartão é um documento médico importante;, observa.