Temos menos acesso à escolarização, à profissionalização e vivemos em meio a um racismo institucionalizado;
A cada 25 do mês, é ainda celebrado o Dia Laranja, data criada para a Campanha UNA-SE pelo fim da violência contra as mulheres. Pelos registros do Sistmema de Informações de Mortalidade (SIM), do governo federal, entre 1980 e 2013, num ritmo crescente ao longo do tempo, tanto em número quanto em taxas, morreu um total de 106.093 mulheres, vítimas de homicídio. Efetivamente, o número passou de 1.353 mulheres, em 1980, para 4.762, em 2013 ; um aumento de 252%. A taxa, que em 1980 era de 2,3 vítimas por 100 mil habitantes, saltou para 4,8 em 2013, um aumento de 111,1%.
E os assassinatos contra as mulheres negras passaram de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. ;A sociedade tem racismo, tem violência, abuso e isso faz parte de uma construção. Quando a gente faz uma marcha, um ato, é para dizer que não podemos deixar de pensar nisso, não podemos fechar os olhos;, afirma a escritora, assistente social e militante do Fórum das Mulheres do Distrito Federal e Entorno, Cleudes Pessoa, 42 anos. A ativista é nordestina, autora do livro Pedra e flor, que trata da situação das meninas pobres e negras do Nordeste. No movimento em prol das mulheres há mais de 10 anos, a escritora luta pelo fim da violência, do racismo e pela igualdade entre homens e mulheres.
;Os dados mostram que o feminicídio tem raça. E em todos os outros setores somos desprivilegiadas. No mercado de trabalho, temos menos salário, somos vítimas de uma raiz escravocrata. Temos menos acesso à escolarização, à profissionalização e vivemos em meio a um racismo institucionalizado;, declara a militante. O lema é: ;Queremos igualdade, o fim do racismo, pelo bem viver das mulheres;. Segundo Cleudes, mesmo que a sociedade negue, não há como esconder.
;É só olhar em volta e, assim, não terá como negar uma desigualdade;, indica. No último domingo, Cleudes e outras ativistas se reuniram na 405 Norte, em um bar, para celebrar as datas de luta. Teve a Feira Preta, um evento com feijoada e arte, além de apresentação de artistas da cidade.
Para ela, quando uma mulher negra expõe sua identidade, é discriminada em várias situações do dia a dia. ;Se eu uso meu cabelo black, estou com uma roupa de marca, um bom sapato, vestida de acordo com o que o padrão social impõe, e vou a um determinado lugar, vão achar que não pertenço àquele ambiente, causo desconfiança. Se entro na loja, acham que ali eu não tenho condições financeiras de comprar. Se dirijo um carro, acham que não é meu. Esse é o preconceito do Brasil, o mais cruel, aquele que é embutido;, descreve Graça, ao lembrar o caso da militante Elizabete Braga, em um mercado da cidade (leia Memória). ;A gente bate no peito que somos empoderadas, que somos da luta, e, mesmo assim, acontece com a gente. Isso choca ainda mais;, lamenta.
Para a professora do Departamento de História da Universidade de Brasília Joelma Rodrigues da Silva, o dia 25 de julho é importante para denunciar as perversidades de um machismo e um racismo que matam, torturam, mutilam e segregam mulheres negras. Joelma afirma que, no Brasil, a democracia racial é um mito que serve, apenas, como arma para silenciar todas as mulheres vítimas. ;O racismo se alimenta com o sangue da população negra, e nós, mulheres negras, temos nossas demandas desconsideradas em nome dessa farsa que é a democracia racial. Exigimos políticas públicas com recorte de raça e gênero em áreas como educação, saúde, segurança, habitação, mobilidade, trabalho. Somos sub-representadas nas mídias e nos parlamentos, nas universidades e nos tribunais, o que nos torna mais vulneráveis a toda sorte de violência e discriminação;, justifica.
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