Otávio Augusto
postado em 18/05/2016 07:36
A capital federal chegou a ter, na década de 1980, oito manicômios ; o principal deles, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em Taguatinga. Desde então, o modelo de assistência passou por grandes reformulações. A ideia de isolamento médico por longas temporadas saiu de cena, com a desativação dos hospícios de São Sebastião e Planaltina, inicialmente. A Luta Antimanicomial, comemorada hoje, ganhou força após congresso entre universidades, profissionais e entidades internacionais em 1978, em São Paulo, inspirado em movimentos originários da Itália. A assistência passou a ser direcionada para os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e em tratamentos que integram a família dos pacientes e a ressocialização.
Mesmo com avanços, o diretor de Saúde Mental (Disam) da Secretaria de Saúde, Ricardo Lins, admite que menos de 50% do Plano Diretor de Saúde Mental está implementado. Em cargos de gestão no setor desde 2007, o especialista passou duas vezes pela direção do HSVP e acredita que a maior dificuldade é integrar as políticas públicas. Dos 46 Caps previstos para o DF, apenas 17 saíram do papel. Unidades como residências terapêuticas, responsáveis pela reintegração de dependentes químicos, também ficaram na teoria.
A Secretaria de Saúde estima que 700 profissionais, entre médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e técnicos de enfermagem atendem cerca de 50 mil pessoas. ;Há uma demanda reprimida na fila de espera do Caps, que deveria ter um atendimento aberto;, detalha Ricardo. A ansiedade, a depressão e o vício em álcool e drogas são os males mais frequentes no DF ; representam 25% dos acolhimentos. O preconceito continua sendo o principal gargalo do acesso ao tratamento. Segundo Ricardo, situações de abandono ainda ocorrem, assim como o afastamento da família vem na mesma medida da gravidade da doença ou da agressividade do paciente.
[SAIBAMAIS]
A infraestrutura de hoje é suficiente?
Passamos por uma reformulação muito grande. Na plataforma do Sistema Único de Saúde (SUS), essa foi uma das políticas que mais bem se desenvolveram e foram ampliadas na rede. Serviços que não chegavam à população hoje estão presentes. A interiorização dos equipamentos de saúde proporcionaram maior qualidade e fácil acesso. Entretanto, o DF ainda não tem uma rede tão ampliada. Por exemplo, não temos Caps 3 (serviços de maior porte) em Ceilândia, Gama e Sobradinho; e Caps Ad (especializados no tratamento do uso do álcool e outras drogas) em Taguatinga.
O que mais atrapalha o tratamento?
O preconceito vem de acordo com a gravidade da doença. Tivemos evoluções, mas ainda é muito grande. Isso vem de um passado em que o tratamento era feito apenas na hora da crise, deixando uma lacuna social. Havia os ambulatórios de tratamento, mas não era feito o monitoramento dos casos. Reintegrar socialmente os pacientes, manter laços com a família e a volta ao mercado de trabalho, por exemplo, ajudam nisso.
Já tivemos casos de mães acorrentarem os filhos por medo ou desespero. Isso é reflexo do despreparo para lidar com essas situações?
A agressividade do paciente faz isso. Normalmente, são rompantes da doença ou do uso do álcool ou drogas. A mãe ou a esposa fica com medo e acaba amarrando o filho ou o marido para evitar o consumo de determinada substância ou agressões. O importante é compreender que tratar junto é melhor do que isolar a pessoa. Em algumas famílias, a internação é tida como um descanso. Na verdade, ao longo do tempo, a família passa a ser parte do processo terapêutico, sobretudo nos processos de recaída. É melhor tratar com liberdade do que com privação. Temos abismos de comunicação. O assunto não é debatido e não exploramos as soluções dos problemas.
As longas internações continuam?
Sim. Temos pacientes no Hospital São Vicente de Paulo há dois, três anos. Sobretudo casos em que a família abandonou a pessoa e ninguém vem buscar.
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