Cidades

Brasilienses caem em fraudes cometidas através de aplicativo de celular

De posse de chips adquiridos em lojas de operadoras de telefonia, bandidos invadem perfis e pedem dinheiro em nome de amigos das vítimas

Guilherme Goulart
postado em 11/05/2016 06:05

A conversa


;Alguém aí está na frente do computador?; A pergunta, enviada no meio da tarde a um grupo de WhatsApp, chegou de um dos contatos da consultora de comunicação Camila Santana. Ao responder que ;sim; à amiga, logo recebeu dela uma mensagem privada. A conhecida, resumidamente, dizia que precisava de uma transferência bancária porque a ;senha da internet bloqueou;. Também prometia que repassaria o valor no dia seguinte, quando fosse ao banco. Prontamente, Camila pediu os dados da conta e creditou R$ 2 mil. O que ela não sabia era que se tratava de um golpe. ;Jamais imaginei outra coisa. É uma pessoa extremamente séria e, no aplicativo, tinha todo o histórico das nossas conversas.;

A fraude sofrida pela consultora é um dos mais novos crimes tecnológicos aplicados no DF. Nela, bandidos virtuais adquirem o chip de um determinado cliente de operadora de celular e invadem o aplicativo de troca de mensagens. Além de sofisticado e praticamente incapaz de levantar suspeitas, chama a atenção por outro detalhe: em nenhum momento, a vítima tentou levar vantagem, como em boa parte dos golpes. Assim como Camila, outro contato da mesma lista caiu na lábia do criminoso. Desta vez, perdeu R$ 1,5 mil. ;Tem o dano psicológico, pois a gente perde a confiança na tecnologia e, claro, o financeiro;, lamenta Camila.

As vítimas registraram ocorrência na 5; DP (Área Central) na semana passada ; lá, os agentes informaram que outras pessoas haviam caído no mesmo golpe recentemente. As duas também procuraram a operadora de telefonia e o banco envolvido na transação, mas, até o momento, não conseguiram o dinheiro de volta. ;Não deu para desconfiar porque era o perfil verdadeiro da minha amiga. Mas, se tivesse tido tempo ou um pouco mais de atenção naquela hora, não cairia (no golpe), pois havia erros de digitação e de português que ela não cometeria. Talvez eu devesse ter ligado antes de fazer a transferência;, conta a consultora (veja Cuidados).

Apesar de não ter sofrido prejuízos financeiros, a pessoa usada para o golpe, uma jornalista brasiliense de 39 anos, sente-se mal por toda a situação. ;O meu sentimento é de constrangimento;, explica a cliente da Claro. O drama teve início na noite de 4 de maio, quando o telefone dela ficou sem serviço. Como só conseguia contato via wi-fi, deduziu que o Sim Card (chip) estaria queimado. No dia seguinte, por volta das 15h, o WhatsApp apresentou falhas, e, ao baixar o aplicativo novamente, o programa pediu que fosse digitado o número do telefone. Em seguida, um código seria enviado a ela por SMS. Como já havia ocorrido isso antes, a jornalista não estranhou o procedimento.

A sequência numérica, no entanto, não chegou ao smartphone dela. Seguiu para o chip habilitado indevidamente pelos estelionatários (veja Como funciona). Na hora seguinte, eles mandaram mensagens para os grupos de WhatsApp da jornalista e obtiveram 12 respostas. Dez contatos desconfiaram, mas dois fizeram a transferência bancária, mesmo a conta sendo de outra unidade da Federação e com titularidade diferente. ;Eu me sinto e insegura com a tecnologia. Nem mesmo postei fotos no Dia das Mães. Desde então, saí do WhatsApp por medo. O que vou fazer é entrar na Justiça para tentar ressarcir as minhas amigas. É muito cruel.;

Em uma loja da operadora de telefonia no DF, a brasiliense descobriu que os criminosos compraram o chip do número telefônico dela em um estabelecimento oficial da empresa em São Luís, no Maranhão. ;O que sabemos até agora é que uma pessoa chegou e apresentou um documento, mas o estranho é que nunca perdi nada. Disseram que não dá para saber o que apresentaram porque não ficaram com a documentação;, reclama.

Por meio da assessoria de Comunicação, ;a Claro afirma que segue rigorosamente as normas e legislações vigentes do setor. A operadora esclarece que todas as alterações contratuais são realizadas mediante a confirmação dos dados pessoais do cliente. A empresa reitera que dispõe de rígidos sistemas de segurança e monitoramento, com o objetivo de coibir ações fraudulentas.; A 5; DP investiga o golpe.

Vulnerabilidade

O promotor de Justiça Frederico Ceroy, coordenador da Comissão de Direito Digital do Ministério Público do DF e Territórios, afirma que o ponto mais frágil da tecnologia é o ser humano. Segundo ele, no caso da fraude via WhatsApp, o bandido virtual explorou a técnica da engenharia social. ;Pode ter o melhor sistema de segurança e o melhor celular, mas sempre haverá o componente ser humano. Algum canal o criminoso teve para dar início ao golpe e obter vantagem;, acredita o especialista. Para Ceroy, o alerta de risco vale para todos os aplicativos. ;É tudo muito vulnerável.;


Como funciona

Os bandidos virtuais habilitam o Sim Card (chip) de um cliente de operadora após comprá-lo em uma loja oficial da empresa, normalmente em outra unidade da Federação. Usam documentos falsos ou contam com a ajuda de um funcionário.
Com isso, os estelionatários interferem no celular do dono da conta e comprometem o funcionamento dos aplicativos. No caso, do WhatsApp.

A vítima, então, tenta baixar novamente o programa, que, por procedimento padrão, pede para digitar o DDD e o número de telefone para que seja enviado o código via SMS.

O código, no entanto, segue direto para o chip habilitado pelos criminosos, que invadem a conta da vítima e, no nome dela, passam a enviar mensagens com pedidos de transferência bancária.

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