postado em 03/05/2016 06:02
Todos os dias, pelo menos uma mulher é encaminhada para a Casa Abrigo do Distrito Federal. A cada 24 horas, é arrancado dela o direito de viver como quer e onde acha melhor. O medo de serem espancadas novamente, ameaçadas outra vez, assassinadas, não as permite continuarem livres. No primeiro trimestre deste ano, 3.481 mulheres se dirigiram a uma delegacia a fim de pedir ajuda, vítimas de violência doméstica. Maltratadas dentro de um ambiente criado, naturalmente, para existir o amor. Mas há raiva, covardia. A fórmula para romper o ciclo é a denúncia.A violência, quando não mata, destrói o dia a dia da mulher. Fere a alma. Tira-lhe a vontade de viver. Mesmo assim, muitas não têm a coragem de denunciar. Temem o outro dia, voltar para casa é um martírio. Dos cinco feminicídios registrados no DF no início deste ano, apenas uma das vítimas tinha feito boletim de ocorrência contra o agressor. Jane Fernandes Cunha, 21 anos, contava com medida protetiva. O ex-companheiro Jhonatan Pereira Alves, 23, que se matou após atirar na jovem, era ciumento, não aceitava o fim do casamento de seis anos e descumpria, à revelia da Justiça, a regra de não se aproximar de Jane. Desobediência responsável pela inquietude de muitas mulheres que denunciam.
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[SAIBAMAIS]Entre elas, Rosa*, 22 anos. Ela deixou a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), na 204/205 Sul, com o filho de 2 anos no colo, mas pareciam não querer voltar para casa. O homem com quem Rosa decidiu dividir a vida se tornou agressivo, nervoso e ciumento. Vieram as promessas de surra, mais tarde cumpridas. ;Ele me agrediu fisicamente e, de um tempo para cá, disse que vai me matar, me mandar para o inferno. Disse também que publicaria fotos minhas na internet. Estou com medida protetiva, mas também com muito medo, apreensiva;, lamenta a jovem. Maria*, 26, passou desse estágio. Denunciou o marido depois de 15 anos de casamento, mas não teve paz. Ela está há três meses na Casa Abrigo. ;Eu tinha esperança de que mudasse, mas não mudou. Tive que abandonar tudo;, confessa, emocionada (leia Depoimento).
Das 3.481 ocorrências registradas no DF no primeiro trimestre, as maiores incidências são de crime de ameaça, injúria e lesão corporal, nessa ordem. O movimento da Deam é sempre maior às segundas-feiras. Uma constatação da equipe. Depois do fim de semana, as vítimas conseguem um álibi para sair de casa sem chamar a atenção do agressor. O primeiro passo é saber ouvir as mulheres. Elas sempre querem entender como será o procedimento. A delegacia tem até 48 horas para encaminhar a ocorrência ao Judiciário. A Justiça, mais dois dias para decidir. O DF conta com 19 varas e 40 promotorias dedicadas aos casos. Nas histórias nas quais o risco de morte é inerente, o encaminhamento para a Casa Abrigo é feito pela própria Deam. Somente eles sabem o endereço.
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