Helena Mader, Ana Dubeux, Ana Maria Campos
postado em 27/12/2015 10:17
A deputada distrital Celina Leão começou a trajetória como pupila da família Roriz, de quem herdou os votos para chegar ao Poder Legislativo. Hoje, está filiada ao PDT e é uma das principais aliadas dos senadores Cristovam Buarque e Reguffe. O histórico, à primeira vista contraditório, foi um dos trunfos para conquistar a Presidência da Câmara e a posição de uma das políticas mais influentes do DF. Aos 38 anos, ela é potencial candidata ao governo em 2018, com a meta de conquistar tanto o eleitorado de Roriz como os de rivais do ex-governador.
;Tenho orgulho de ter trabalhado com o grupo do Roriz. Orgulho-me do meu passado e do meu presente. Construí minha ida para o PDT, já que fui a deputada que mais fiscalizou o governo na legislatura passada;, justifica Celina Leão. ;O Cristovam é supercorreto, ético e tem muitas ideias. E o Roriz também construiu muita coisa;, compara. Se por um lado a parlamentar é só elogios para os dois caciques políticos, o ex-governador Agnelo Queiroz é seu principal alvo. ;Ele é um bandido, um ladrão, um cara que roubou;, acusa.
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Única deputada a comandar uma assembleia legislativa no Brasil, Celina diz que já sofreu preconceito por ser mulher e também por ser bonita. Evangélica, é contra o aborto, mas não se opõe ao casamento gay. Na adolescência, a goiana rodou o país ao lado da irmã, Ludmila, para disputar campeonatos de laço. No pulso direito, traz a marca de uma grande cicatriz, causada pela corda. ;Eu laçava boi, por isso sou brava desse jeito. Fiz um treino bom para chegar à Câmara;, brinca.
Na última semana de trabalho, Celina obteve uma vitória inédita: aprovou em primeiro turno uma emenda que permite a reeleição para a Mesa Diretora da Câmara. Nesta entrevista ao Correio, a deputada diz que a Operação Lava-Jato terá desdobramentos no DF. Ela acredita que a delação dos executivos da Andrade Gutierrez revelará irregularidades na construção do estádio Mané Garrincha ; ;Foi um absurdo o que aconteceu; ; e justificará a abertura de uma CPI.
A senhora conseguiu aprovar, em primeiro turno, a emenda da reeleição para a Mesa Diretora da Câmara. Como conquistou isso?
Comecei a conversar com os parlamentares sobre a condição do Legislativo; acho que as coisas se movimentaram na Câmara, com o surgimento de uma oposição muito ligada à base do governo, alguma coisa muito estranha aconteceu na Casa. Essa coisa foi somando, somatizando também, e alguns colegas começaram a perguntar se eu toparia. A emenda não significa que sou candidata à reeleição da Câmara, não resolvi ainda. Pode ser até desgastante estar mais dois anos na presidência.
Para disputar cargo majoritário em 2018, a reeleição ajuda?
A presidência dá uma visibilidade grande. Você define a pauta da Câmara, a condução da Casa.
Seus colegas deixaram o segundo turno para o ano que vem, para barganhar com a senhora e com o governo em 2016. Isso procede?
Nem ia mexer com isso este ano, mas alguns colegas pediram para votarmos a emenda. Eles entendem que, dependendo de quem for o candidato do governador, eu seria a única a conseguir derrotar esse candidato que trouxesse uma subordinação ao Legislativo.
Só Agaciel e Joe Valle declararam interesse nos bastidores.
Joe perdeu toda chance quando saiu da Câmara para assumir uma secretaria. Ele não conseguiria construir nem os votos mais próximos. O candidato mais forte do governo é o Agaciel. Dependendo do momento que a gente estiver vivendo, aí pode ser que eu dispute. É uma questão de deixar legado, quero deixar trabalho consolidado.
O governador ficou totalmente distante, como diz?
Ele de fato não se envolveu. E o não envolvimento dele ajudou. O Chico Vigilante saiu ligando para alguns deputados, falando que tinha conversado com o governador. Houve muita mentira e fofoca, mas o governador disse que era mentira.
O governo atrapalha o Legislativo?
O governo não pode ditar o ritmo do Legislativo, isso está errado.
Falava-se que a Câmara era quase uma secretaria do GDF, um puxadinho do Buriti. Isso mudou?
Quando a gente começou a rejeitar alguns projetos do Executivo, mas sem deixar de ajudar quando era possível, a gente rompeu com isso, o que representa a maturidade do parlamento. As pessoas querem um parlamento responsável, sem revanchismo, sem raiva ou ódio. Os deputados da base se posicionaram sem ficar expostos.
Mas houve divergências graves com secretários...
Houve, é verdade. O Rodrigo pegou muita gente acadêmica no começo do governo dele.
A senhora teve um atrito forte com o ex-secretário da Casa Civil Hélio Doyle. Por que essa rixa?
O Hélio sabe que não fui o motivo da saída dele. O próprio partido do governador tinha problemas com ele, às vezes ele se sobressaía muito mais do que a figura do governador. O Hélio não é bobo, ele sabe que fui um instrumento disso.
A senhora pediu a cabeça dele? O episódio a deixou mais forte...
Na política é preciso ter sempre uma segunda leitura. Fui o instrumento que usaram para livrar o governador de um problema que ele tinha. O Hélio já tinha muito desgaste interno, existia uma guerra dentro do Buriti. É muito fácil colocar a culpa na Celina. Fiz uma crítica na tribuna reclamando da quantidade de petistas dentro do governo. Não pedi para ele sair em nenhum momento. Ele acabou descontando a ira dele em mim. Para não ficar tão ruim, diante do fato de que o Hélio era indesejado no governo, ele vestiu a carapuça. Ele foi rejeitado pelo governo, fui só a gota d;água.
O governador estava incomodado?
Não diria o governador, mas as pessoas que o cercam. Acho que o Hélio conseguiu uma posição de isolamento dentro do grupo do governador, pela personalidade dele. Movi ação contra ele, uma interpelação judicial, em que ele fez uma resposta até bem engraçada, desmentindo, dizendo que os deputados que o interpelaram eram corretos e transparentes.
Ele se acovardou?
Ele se acovardou totalmente, ou falou o que sempre achava.
A senhora ganhou projeção, principalmente pela oposição que fez ao governo passado. Como classificaria a sua trajetória?
É um pouco de tudo, de trabalho, de posicionamento firme, nunca me posicionei mais ou menos, sempre tive posições muito firmes. Acho que a população quer isso, não quer uma oposição mais ou menos.
A senhora está no partido de Cristovam e Reguffe, mas tem uma história com o Roriz, foi chefe de gabinete dele. Ao mesmo tempo, tem uma boa relação com Rollemberg. Como explicar isso ao eleitor?
Consegui isso com meu trabalho. Tenho orgulho de ter trabalhado com o grupo do Roriz. Tenho orgulho do meu passado e do meu presente. Construí minha ida para o PDT, fui a deputada que mais fiscalizou o governo na legislatura passada. Minha filiação foi construída durante meu mandato.
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