postado em 06/10/2015 06:01
Dos vários pedidos de socorro à Escola de Música de Brasília (EMB), o mais recente é o abaixo-assinado direcionado ao governador Rodrigo Rollemberg. Há duas semanas, o documento ;É preciso salvar e preservar a Escola de Música de Brasília; recolhe assinaturas no meio virtual e tenta sensibilizar a administração pública para a situação em que se encontra a instituição. Até ontem, 2.123 pessoas haviam aderido ao movimento, inconformadas com a crise de infraestrutura e de recursos pela qual passa a EMB. Com 50 anos de história e reputação de formar musicistas e músicos de qualidade, a instituição amarga o sucateamento.
A dificuldade financeira emperra até mesmo a manutenção de instrumentos, como flautas e pianos. A reposição de cordas também fica difícil e é comum que os educadores dividam os custos para que as atividades não sejam interrompidas. ;A gente mal tem dinheiro para pagar o tôner para a impressão das partituras;, explica o professor de contrabaixo Oswaldo Amorim. Segundo ele, a falta de investimento para os equipamentos passa por gerações de aprendizes. ;Esse é um problema crônico da EMB. Desde que fui aluno, ele existe. Segundo Oswaldo, comprar cordas, mandar instrumentos e mesa de som para afinação ; atividades rotineiras quando se trata de música ; são desafios.
Outro professor da EMB reforça as dificuldades da instituição. ;A situação lá, há 20 anos, é bem precária, desde a estrutura física até a administrativa. Na minha sala, por exemplo, parte do teto desabou. Em outras, há ácaros e falta proteção acústica. Está tudo muito ruim;, afirmou.
Em outros casos, os alunos pagam pelo material para participar de oficinas. A assistente social Edinete Freitas, 46 anos, optou por comprar um pífano para que a filha pudesse acompanhar as aulas de musicalização. A garota, de 11 anos, precisava de uma flauta transversal. As que a EMB dispõe estavam danificadas; por isso, Edinete adquiriu o instrumento. ;O pífano é o que melhor se assemelha à flauta transversal; por isso, o compramos. Mas aqui há estudantes de todas as classes. E as famílias que não têm condições de comprá-lo? Como os alunos participam das aulas práticas?;, questiona.
O orçamento destinado à escola, em 2015, foi bastante apertado. Para o primeiro semestre, a EMB recebeu da Secretaria de Educação R$ 15.455. O segundo semestre deve ser ainda mais complicado, uma vez que a previsão é de apenas R$ 10.818, por meio do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF), de acordo com o diretor da instituição, maestro Ayrton Pisco. ;É pouco. A gente não vai dizer que está satisfeito, mas houve um contingenciamento para todas as escolas. Foi menos do que poderia ter sido;, lamenta.
Também para Ayrton, a falta de recursos para manutenção é problema que não se resolveu em diversas gestões. ;Desde que a Escola de Música foi inaugurada, há falta de verba para manutenção. A EMB foi um parto a fórceps, o maestro Levino forçou a barra e a escola saiu;, explica. ;Essa notícia de que a Escola de Música vai acabar é tão fantasiosa quanto a chegada do Papai Noel.; Sobre os rumores de que o terreno da escola estaria sob a cobiça da especulação imobiliária, ele atribuiu a questão a disputas políticas. ;São notícias sem fundamento, plantadas por grupos políticos. Essas notícias são motivo de riso e de indignação dentro da Secretaria de Educação;, diz.
Reforma
A realização do Curso Internacional de Verão de Brasília (Civebra), ao custo de R$ 868 mil, dividiu o corpo docente. O Conselho Escolar defendia o uso da verba para reformas, mas a direção da EMB optou por aplicá-la no Civebra. A situação pode se repetir em 2016, pois a próxima edição do curso deve ocorrer sob as mesmas condições. ;Nós não somos contra o curso. Somos contra a realização dele nessas condições, sem infraestrutura. Defendemos o uso da verba para reformar a escola;, defende o professor Oswaldo.
Para saber mais
História desde 1960
A Escola de Música de Brasília (EMB) nasceu da efervescência cultural e do comprometimento de artistas com a educação, na década de 1960. Nesse cenário, destaca-se o maestro Levino Ferreira de Alcântara, que ministrava aulas de canto coral, no Centro de Ensino Médio Ave Branca, em Taguatinga. Ele fundou o Madrigal de Brasília e reuniu músicos do Coral de Brasília, no Caseb, para apresentações semanais na Rádio Educadora de Brasília. O projeto ganhou projeção e, em 1964, a EMB foi oficializada. A sede, na 602 Sul, foi construída em 1974.