Lorena Pacheco
postado em 15/12/2014 13:07
O pesquisador Carlos Alberto Santos de Paulo, de 52 anos, vai denunciar ao Ministério Público a violência na abordagem policial ; da qual diz ter sido vítima, durante uma confusão no trânsito em Brasília. Segundo Santos, a truculência com que foi imobilizado, revistado e algemado, na última sexta-feira (12/12) teria fortes componentes racistas. Sob a mira de armas, ele foi abordado após não ter cedido passagem aos policiais durante um engarrafamento no Lago Sul. De acordo com o técnico do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), os quatro policiais civis não apresentaram justificativas para a arbitrariedade.;Saí às 18h45 da Uiversidade de Brasília (UnB), e estava a caminho de casa. Ao chegar à QI 23 do Lago Sul, peguei um congestionamento e não conseguia passar dos 10km/h. Quando passava por uma rotatória, uma viatura descaracterizada ficou forçando a passagem, mas eu não conseguia sair do lugar. Foi quando entrei no acostamento para liberar a via e eles ligaram a sirene para depois me abordar com arma em punho;, relata Carlos.
Uma vez liberado, o técnico foi para a 30; Delegacia de Polícia (São Sebastião), para registrar ocorrência sobre a violência da polícia. "No estacionamento da DP, reencontrei os policiais e tive o braço torcido, sofri um ;mata leão; e fui algemado por mais de uma hora", diz o pesquisador.
;Somente quando liguei para um coronel da Polícia Militar - porque faço parte de um grupo de trabalho que combate o racismo na corporação -, o delegado da Civil me soltou;, desabafa. Apesar disso, Carlos foi acusado por direção perigosa e desobediência e não conseguiu registrar ocorrência. Quando encaminhado para o Instituto Médico Legal, também não realizou exame de corpo e delito porque não apresentava hematomas.
Carlos relata que não houve agressão verbal racista direta, mas não haveria, segundo ele, justificativa para o comportamento senão o preconceito: ;O racismo no Brasil é, infelizmente, uma cultura. As estatísticas são evidentes. Os números de autuação, prisão e homicídios perpetrados pela policia contra negros são indiscutíveis. A sociedade brasileira sofre de uma esquizofrenia que nega as práticas racistas, mas eu disse para os policiais, não sou Amarildo;.
A assessoria da Polícia Civil do Distrito Federal não comentou a denúncia de racismo e limitou-se a informar que Carlos foi flagrado desobedecendo regras de trânsito e ultrapassando pelo acostamento. Além disso, os policiais constataram que a carteira de habilitação de Carlos estava vencida ; o técnico, por sua vez, diz que a CNH venceu no último dia 28 de novembro. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estará cometendo infração, o condutor que estiver dirigindo veículo com a CNH vencida há mais de 30 dias.