Cidades

Ex-repórter pediu R$ 3 mil a vice-prefeito para comprar carro

Vídeo mostra o momento em que ex-funcionário de programas policiais recebe R$ 3 mil em dinheiro para não veicular reportagem sobre a prisão de filho de vice-prefeito no Entorno

postado em 16/08/2013 07:43
A Polícia Civil de Goiás prendeu um repórter suspeito de extorquir o vice-prefeito de Santo Antônio do Descoberto, Francisco Valter Araújo (PSol/GO). Marcelo Neves exigiu receber R$ 3 mil para não publicar imagens da prisão do filho do político. O rapaz de 28 anos estava em um carro, na terça-feira, com dois amigos, na cidade do Entorno. Dentro do veículo, a Polícia Militar encontrou um revólver calibre 38.

Marcelo era freelancer em programas da Rádio Atividade e da TV Record

Marcelo, apesar de não ter diploma, apresentou-se como jornalista do programa Na polícia e nas ruas, da Rádio Atividade. Quando soube da notícia, dirigiu-se ao Centro Integrado de Segurança Pública (Ciops) de Águas Lindas, onde a ocorrência foi registrada. Com microfone e camisa da atração, gravou o momento em que o vice-prefeito discutia com os PMs responsáveis pela detenção do filho dele. Embora vestisse camisa com a marca do programa, ele não fazia mais parte da equipe. Por baixa produtividade, acabou dispensado no dia 27 do mês passado. ;Ele usou o nome do programa de forma clandestina;, disse o jornalista Maurizon Alves, que trabalha no Na polícia e nas ruas.

O flagrante, feito sob supervisão policial: repórter recebeu R$ 3 mil

No dia seguinte à confusão na delegacia, Marcelo Neves fez diversas ligações para o chefe de gabinete de Francisco Valter. Nas conversas, ele pede ;uma força; para não repassar os vídeos para o telejornal Balanço Geral, da TV Record. A emissora mantém uma parceria com a Rádio Atividade. ;Vamos ver como a gente agiliza isso aí. Eles (Record) vão fazer só uma nota porque as imagens contundentes estão comigo. Eu estou precisando comprar um carrinho velho e preciso que o Valter me dê essa força;, disse.

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Câmeras no gabinete

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O vice-prefeito denunciou a tentativa de extorsão na delegacia do município. Orientado pelo chefe da unidade policial, Felipe Socha, armou um flagrante para Marcelo. O político instalou câmeras no gabinete. Sob a supervisão da polícia, as notas usadas no pagamento do suborno foram fotografadas. Após um longo diálogo, Marcelo recebeu das mãos do vice-prefeito R$ 2 mil em cédulas de R$ 100 e R$ 1 mil em notas de R$ 50. O repórter colocou o dinheiro dentro de um envelope amarelo e guarda no bolso de trás da calça. Ele agradece e sai da sala. Agentes da Polícia Civil que aguardavam do lado de fora do prédio deram voz de prisão a Marcelo.

O repórter tentou justificar, dizendo que os R$ 3 mil eram provenientes de um acordo com o vice-prefeito. Na delegacia, mudou a versão: disse se tratarem de contratos de publicidade com a prefeitura. Porém, em depoimento, valeu-se do direito constitucional de permanecer calado. O delegado Felipe Socha indiciou o jornalista pelo crime de extorsão (veja O que diz a lei). Hoje, ele deve remeter o inquérito ao Ministério Público de Goiás. ;As provas são muito claras. Ele se aproveita de uma situação envolvendo o filho do vice-prefeito para pedir suborno;, afirmou o delegado.

Embora tenha se apossado do maço de dinheiro, a prisão de Marcelo não foi em flagrante. ;A situação flagrante ocorre no momento em que o repórter pede o dinheiro, por telefone. No gabinete, ele foi para receber, o que não caracteriza mais o flagrante;, destacou Socha.
A advogada da Rádio Atividade, Helen Porto, afirmou que a atração Na polícia e nas ruas é terceirizada e, portanto, o acusado não teria relação com a empresa. ;Vamos analisar o material e ver que tipo de providência vamos tomar, tendo em vista que ele usou o nome da rádio;, disse.

Já a TV Record informou que Marcelo Neves não tem qualquer vínculo com a emissora e que veiculação de matérias do programa Na polícia e nas ruas é somente uma parceria. O Correio tentou falar com Marcelo Neves, mas ele não atendeu às ligações.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF, Lincon Macário, repudiou a atitude de Neves. ;Se comprovada a extorsão de alguém que se diz jornalista sem merecer esse título, prejudica a imagem de toda uma categoria, que trabalha justamente por uma sociedade livre dessas práticas imundas;, disse.

A direção do programa Na polícia e nas ruas informou que vai analisar as denúncias com calma para saber que tipo de ação tomar contra Marcelo Neves. ;Ele era um freelancer que trabalhou conosco por no máximo dois meses. Ele blefou ao usar as marcas da Rádio e da TV Record, pois não tinha autorização para isso. Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos, calcular os prejuízos e ver que tipo de atitude adotar;, ponderou Maurizon.

O que diz a lei

O crime de extorsão é previsto no artigo 158 do Código Penal Brasileiro (CPB). Aquele que for flagrado tentando subornar alguém pode ser punido com pena que varia de 4 a 10 anos de cadeia. O acusado ainda pode pagar multa e é obrigado a devolver todo o dinheiro conseguido por meio ilícito.

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