postado em 28/12/2011 10:00
O valor dos imóveis em Brasília avançará em ritmo mais lento nos próximos anos, mas certamente chegará a 2022 bem mais caro do que é hoje. Os últimos terrenos livres do Plano Piloto, como as Quadras 500 do Sudoeste e o Setor Noroeste, deverão estar ocupados. Para morar no centro do Distrito Federal, os brasilienses terão de encarar preços ainda mais altos. A classe média estará espalhada por condomínios horizontais de luxo. Cidades como Samambaia, Gama e Ceilândia, além dos municípios do Entorno, abrigarão centenas de prédios residenciais e comerciais. Dessa forma, o local de trabalho estará mais perto das casas.Em 10 anos, o cenário atual, de demanda aquecida e crédito imobiliário farto, não deve alterar tanto. Os governos continuarão a investir em programas habitacionais do estilo do Minha Casa, Minha Vida, o que ajudará a impulsionar o mercado voltado para as classes C e D, em constante ascensão. A infraestrutura urbana do DF precisará acompanhar o ritmo das empreiteiras. Haverá uma demanda cada vez maior por obras de transporte e de saneamento, e o crescimento populacional forçará a construção de mais escolas e hospitais, por exemplo.
Os empreendimentos residenciais apostarão em imóveis menores, seguindo a tendência de jovens solteiros saírem de casa mais cedo e de famílias com poucos filhos. Apartamentos de três ou mais quartos se restringirão ao mercado de luxo. Construtoras vão priorizar ainda mais os projetos que envolvam aspectos de segurança e lazer. O conceito de condomínios-clubes fortalecerá a ideia de que os moradores não precisam se deslocar para se divertir.
Com o Plano Piloto tombado, não há outra saída: para suprir o deficit habitacional e acompanhar o avanço demográfico, Brasília crescerá para todos os lados. Ainda há muito espaço a ser ocupado em Samambaia, em Ceilândia e no Gama. Ao longo da Via Interbairros, prometida para ligar o Setor Policial Sul à Samambaia, surgirão conjuntos habitacionais. As regiões de Sobradinho e de Planaltina não se desenvolverão no mesmo ritmo, por conta das áreas de proteção ambiental.
As asas Sul e Norte, o Sudoeste, o Noroeste, o Cruzeiro e a Área Octogonal Sul serão lugares disputadíssimos, mas insuficientes para atender a demanda das classes A e B. Como em outras regiões metropolitanas do país e do mundo, famílias de renda mais alta ocuparão condomínios horizontais regularizados, sobretudo na saída para Unaí (MG), pela DF-140. Com a frota de carros crescendo em números exponenciais, mais helicópteros sobrevoarão o céu de Brasília. Em terra, são esperados congestionamentos.
Valorização
Quem quiser permanecer no Plano Piloto terá de pagar o preço da ;água no deserto;. Passou a fase das valorizações exorbitantes, mas o mercado não dá sinais de que, em 2022, os valores dos imóveis terão retraído. O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), Adalberto Valadão, acredita em avanço de crescimento na casa dos dois dígitos. ;A nossa economia também vai crescer. O número absoluto pode assustar, mas é isso;, afirma.
Caso a previsão se confirme, o preço do metro quadrado pode alcançar R$ 25 mil em áreas mais nobres de Brasília. ;Espanta, mas a gente vai se acostumando. Se 10 anos atrás falassem em metro quadrado a R$ 10 mil, ninguém acreditaria;, comenta o presidente do Sindicato da Habitação do DF (Secovi-DF), Carlos Hiram. ;O que temos hoje no mercado imobiliário de Brasília é apenas o início de um processo, estamos engatinhando;, acrescenta.
A valorização dos imóveis é esperada pelo mercado e pelos investidores. A família do aposentado Flávio Carneiro, 55 anos, comprou apartamentos no Noroeste, de olho no futuro. ;Em 2022, o bairro estará quase todo pronto e será modelo para o país;, aposta. Em 10 anos, ele pretende estar faturando com o aluguel ou com a venda dos bens. ;Existe a hora de plantar e a de colher. Agora, estou plantando;, diz, usando a analogia bíblica.
O diretor da Associação Brasileira de Mercado Imobiliário
(Abmi), Pedro Fernandes, sustenta: ;O preço dos imóveis em Brasília não vai cair, principalmente na região tombada.; Já a partir de 2012, completa ele, as cidades do DF se consolidarão ainda mais, por meio de um boom de empreendimentos comerciais. ;As regiões administrativas vão acontecer sozinhas. Como em grandes centros urbanos, as pessoas farão questão de morar e de trabalhar em lugares próximos;, analisa.
A maior preocupação do mercado é em relação à infraestrutura urbana, considerada um gargalo. O presidente do Sindicato da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Júlio Cesar Peres, se diz temeroso com o futuro. ;Brasília precisará de uma continuidade de gestão, independentemente de quem esteja no poder;, defende, antes de comentar, ainda, o receio de que os entraves administrativos atrapalhem a aprovação de projetos. Em 2011, o problema atrasou mais de 900 empreendimentos.
Mercado amadurecido
Os mercados imobiliário e da construção civil na capital do país estarão, em 2022, concentrados nas mãos de poucos grupos. A atração de novas empresas, marca dos últimos anos, terá perdido força. ;Gente que não é do ramo e fez parcerias para se dar bem não vai conseguir permanecer de pé. O mercado virou coisa de profissional e, em 10 anos, isso estará ainda mais acentuado;, prevê o presidente do Sinduscon-DF, Júlio Cesar Peres.
Como na Europa e nos Estados Unidos, avalia o presidente do Secovi-DF, Carlos Hiram, as imobiliárias se reunirão em redes. ;O mercado estará mais maduro;, afirma. ;Ou as empresas crescem e fazem parcerias, ou vão quebrar;, emenda Pedro Fernandes, diretor da ABMI. Para o presidente da Ademi-DF, as mudanças mais bruscas no mercado já aconteceram entre 2008 e 2011. ;A tendência é que haja uma certa acomodação.; (DA)
Solução
A Via Interbairros tentará desafogar o trânsito na parte sul do DF. A nova pista será construída paralelamente à Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) e à Estrada Parque Taguatinga (EPTG). Custará cerca de R$ 500 milhões, dinheiro de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da venda de terrenos às margens da via.
;;Espanta, mas a gente vai se acostumando.
Se 10 anos atrás falassem em metro quadrado a R$ 10 mil, ninguém acreditaria;;, Carlos Hiram, presidente do Sindicato da Habitação do DF