A sala de aula parece pequena para a criatividade de alunos do ensino fundamental de uma escola de Brasília. Prova disso é que os resultados do trabalho desses jovens, apaixonados por robótica, ganhou o mundo, foi apresentado em uma universidade de Boston (EUA) e recebeu elogios e convites para vários outros eventos. O protótipo é um esqueleto externo, feito em peças de brinquedo Lego.
Foram necessárias, aproximadamente, 930 unidades para montar a armadura. O processo levou dois meses. A ;roupa; teve inspiração nos robôs montados por uma agência norte-americana que produz vestimentas para soldados. Ela possibilita mover um dos braços por meio de comandos eletrônicos, além de abrir e fechar a mão do braço robótico, da mesma maneira.
No colégio, a motivação é bem diferente daquela seguida pela agência de guerra. O objetivo aqui é nobre: melhorar a condição de vida de pessoas, em especial daquelas que convivem com alguma deficiência física. O movimento da mão mecânica imita a ação de pinça dos dedos polegar e indicador. Vestida nesse aparelho, uma pessoa que não conseguiria, por exemplo, dobrar o braço poderia fazer esse movimento e ainda esticá-lo. ;Eles podem ir além da brincadeira e criar próteses que qualquer deficiente pode montar sozinho;, disse o professor de robótica Marcelo Molina.
Tudo isso é possível por meio de comandos de um cérebro eletrônico, programado em computador. A máquina envia informação para três motores. Cada um deles exerce uma função. Para garantir o sucesso do projeto, nada de bagunça ou de conversas paralelas durante o aprendizado. Os adolescentes mantêm o foco.
De longe, a montagem parece brincadeira. Aos poucos, as peças coloridas unem-se ; com muito esforço e delicadeza ; e dão forma ao exoesqueleto. O robô é composto de crânio, tórax e braço. Sete alunos ajudaram a montá-lo. Eles têm entre 13 e 15 anos e estudam no Colégio JK, na 910 Sul. O material para fazer o robô é da Lego, que mantém projetos educativos.
O colégio, porém, não firmou parceria com a fabricante do famoso brinquedo. A ideia de usá-lo para esse fim partiu de Marcelo Molina. ;Morei fora do país durante muitos anos e já tinha visto essa ideia. Conheci vários tipos de Lego que poderiam ser usados para essa finalidade;, explicou.
Viagem
Em maio, Molina esteve em Boston, na Universidade de Tufts, para uma palestra sobre robótica em países em desenvolvimento. Durante a exposição, apresentou o modelo criado em sala de aula. ;A nossa apresentação está disponível no site da instituição. É um dos tópicos mais baixados;, orgulha-se o educador. Os estudantes participaram também da feira de ciências virtual do Google.
Segundo o professor, o estudo da robótica traz benefícios aos alunos. ;Esse contato melhora o desenvolvimento deles na matemática e na informática, por exemplo. Além disso, queremos lançar um livro sobre o tema;. Com as lições, Molina também pretende abrir uma nova opção profissional para seus alunos. Tem funcionado. Pelo menos quatro deles já pensam em ser engenheiros mecatrônicos.
O estudante Arthur Augusto Cunha, 15 anos, do 9; ano, participou da confecção do robô. Ajudou a fazer o tórax. ;Meu primeiro contato com a robótica foi na escola. Achei muito legal poder fazer algo de útil com o Lego. Fazer as coisas ganharem vida por meio da tecnologia é divertido. Quero ser engenheiro;, disse.
Gabriel Dourado, 14 anos, enumera as complicações do projeto. ;Dar sustentação aos motores é difícil, quando se trabalha com Lego, que é frágil. O que mais me interessou nisso tudo foi a oportunidade de ajudar alguém com meu trabalho. Foi muito produtivo;, descreveu.
Geralmente, uma das meninas da turma veste a armadura, que é pequena demais para os rapazes. Raquel de Menezes, 14 anos, experimentou o exoesqueleto e descreveu suas impressões. ;Algo assim facilitaria muito a vida de um deficiente físico. Mas ainda é preciso pensar no conforto, no tamanho ideal, em um jeito de a roupa não desmontar;, apontou.
Os meninos bolaram também um suporte para telefone celular, no crânio. O aparelho é instalado em frente aos olhos de quem vestir o robô. Com a ajuda de um programa especial, é possível simular a ação de um soldado que usa software de realidade aumentada para localizar inimigos em um campo de guerra. Nesse caso, o dispositivo cruza informações do espaço exterior com dados da internet. Assim, ajuda a identificar, por exemplo, quais são os restaurantes e hospitais mais próximos. Alunos e professor pretendem tocar novos projetos até o fim do ano.