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O semblante sereno do pernambucano Vilarindo Lima, 85 anos, não revela tudo sobre o homem de olhos apertados e amigáveis que vive atrás dos óculos de grau. O andar fragilizado e a memória já cansada escondem um Vilarindo forte e muito vivo, o maior líder evangélico de Brasília, como consideram os fiéis.
Com um sorriso afável, ele recebe dezenas de pessoas que o procuram diariamente em seu escritório, na Igreja Batista Central de Brasília (IBC), da qual é pastor e presidente. Atende até senhoras apaixonadas que o pedem em casamento. Vilarindo comenta o assédio com bom humor e uma dose de vaidade masculina.
Aceitar as propostas, no entanto, não passa pela cabeça do pastor. O líder religioso é viúvo de Carmen Lima, falecida em dezembro de 2009. ;Eu não estou sozinho, estou com Deus. Isso basta. Meu coração ainda é dela;, justificou. Foi Carmen quem apresentou Vilarindo ao Evangelho. ;Ela me mostrou um mundo novo, onde o amor e a obediência a Deus são tudo.;
Antes desse encontro, ele seguiu por outros caminhos. Filho adotivo de uma família de Umbuzeiro, onde nasceu, Vilarindo começou a trabalhar aos 9 anos. Aos 11, era alfaiate. Costurou ternos para presidentes do Brasil, entre eles, Juscelino Kubitschek e João Figueiredo. ;Na época de Brasília em construção, era difícil encontrar bons ternos por perto. Certo dia, recebi uma encomenda de JK, que ouviu falar do meu trabalho. Eu já era um homem;, lembrou.
Vilarindo carrega consigo uma rica história de vida. Foi abandonado pela família biológica aos 6 meses. Depois disso, ganhou novos pais. Eles tinham um sobrenome conhecido em Pernambuco, mas perderam todas as suas posses em um mau negócio. O menino também ganhou trocados como vendedor de bala puxa-puxa e cocada, de porta em porta. Aprendeu cedo a transformar a própria realidade.
Aos 20 anos, entrou para a Marinha. Mesmo assim, não abandonou o ofício de alfaiate. Morou em capitais como Rio de Janeiro e Natal e viajou para vários países. Certo dia, em um momento íntimo de oração, diz ter ouvido a voz de Deus, que avisava: ;Você irá para a cidade dos edifícios deitados;. O pastor mudou-se para a capital do país, em 1969, transferido pela Marinha. ;Cheguei a Brasília e tive a certeza de que era o local prometido por Deus, com os prédios tão baixinhos.; Hoje, depois de dar a volta ao mundo três vezes, Vilarindo afirma, com segurança: ;Só existe um lugar melhor que Brasília: o céu;. E não é para menos.
Sucesso
Em Brasília, Vilarindo transformou-se em líder religioso, como é reverenciado até hoje pelos cinco filhos, 12 netos e 13 bisnetos. Também é uma personalidade famosa. Ganhou até um filme ; Biu de Carmelita: O menino que ousou sonhar, exibido este mês no cinema. Ao mudar-se para cá, já havia optado pela vida religiosa. Ordenou-se pastor no Rio de Janeiro, em 1968. Aqui, tornou-se o responsável pela Igreja Batista Central de Brasília, há 40 anos. Nesse tempo, fundou o Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal, do qual, hoje, é presidente de honra.
Quando chegou ao DF, Vilarindo falou sobre Deus para um funcionário do prédio em que morava. O homem o convidou para conhecer a igreja mais próxima da região (leia Para saber mais). Ao chegar lá, o pastor viu um galpão de madeira em meio a muito mato e poeira. No início, Vilarindo apenas frequentava os cultos. Depois, passou a celebrá-los. Somente 18 fiéis acompanhavam as palavras com atenção. Pouco tempo depois, mais de 100 pessoas passaram a ir à igreja.
Em 1978, teve início a obra do templo atual, localizado na 603 Sul, uma igreja branca e vistosa, de arquitetura inspirada em páginas de revistas norte-americanas. Três anos depois, a construção estava terminada. Vilarindo é conhecido por não pedir dinheiro a quem é da igreja. Mesmo durante a construção do templo, não passava a tradicional sacolinha presente em tantos outros templos. ;Eu ouvi Deus me dizer para nunca pedir dinheiro às pessoas. Quem doa faz porque quer. Procura a igreja e oferece.;
Curas
A Igreja Batista Central de Brasília ganhou força com a fama de curandeiro do pastor Vilarindo. ;Muita gente procurava o templo em busca da solução para doenças graves, como o câncer. Deficientes físicos também clamavam pela intercessão de Deus. Vimos várias pessoas saírem saudáveis daqui;, relatou, ressaltando que somente Deus tem o poder de curar.
Atualmente, o líder religioso é exemplo de fé para novas gerações. O pastor Chancerley Santana, 37 anos, 16 deles como clérigo, considera a Igreja Batista Central a ;catedral dos evangélicos;. E destaca: ;Pastor Vilarindo é um ícone. Todos os evangélicos sabem quem ele é. Falar o nome dele é falar em ética, respeito e honestidade. Vilarindo é, sem dúvidas, a maior representação evangélica de Brasília hoje;. Vilarindo, porém, anda afastado da igreja por problemas de saúde. Começou a preparar sucessores. Quer que a evangelização siga, mesmo quando a vida terminar.
Para saber mais
No início, congregação
A Igreja Batista Central de Brasília foi fundada em 1967 pelo pastor Elias Brito Sobrinho e outros 17 membros. No início, era a Congregação Batista Central, filiada à Primeira Igreja Batista de Brasília (PIB) do Núcleo Bandeirante, então conhecido como Cidade Livre. Antes da construção do antigo barracão de madeira, a Igreja Batista Central não possuía sede. Por isso, poucos membros reuniam-se no templo da Igreja de Deus, na 410 Sul. Aos poucos, eles se articularam e começaram a construção da IBC, na 603 Sul. A igreja recebeu esse nome por localizar-se no centro-sul da cidade. O templo teve seis pastores responsáveis antes de Vilarindo, o atual presidente.