Cidades

Médica que colocou seringas em muro diz que elas não estavam contaminadas

postado em 23/08/2011 07:28

Miriam Tomkowski, no portão de casa, em Sobradinho: médica retorna hoje ao trabalho no HRPa

A médica que teria afixado 31 seringas com sangue infectado pelo vírus HIV e um cartaz de aviso no portão de casa revelou à reportagem do Correio que a atitude não passou de uma medida desesperada para conter os assaltos à residência. ;As manchas no muro são de borra de café e as seringas não estavam contaminadas;, garantiu.

Mesmo assim, Miriam Tomkowski Walton, 44 anos, moradora do Condomínio RK, em Sobradinho, vai ser investigada pela 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho), pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal e pelo Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF). Ela corre o risco de perder o registro profissional. Ortopedista do Hospital Regional do Paranoá (HRPa), Miriam retorna hoje ao trabalho, após um período de abono.

A médica afirmou ter obtido as seringas na própria unidade de saúde. Por meio de nota, a direção do HRPa informou que ;nenhum servidor está autorizado a retirar material médico-hospitalar da unidade de saúde;. Todos os equipamentos usados no hospital são devidamente controlados e, em cada setor, ;há um recipiente para armazenamento e descarte de material pérfuro-cortante;. A nota esclarece ainda que, se for confirmada a ação da servidora, será aberto um processo de sindicância. A médica também será encaminhada para a diretoria de Saúde Ocupacional para avaliação clínica. Enquanto isso, ela poderá voltar ao trabalho.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal garantiu, ainda por meio de nota, que a coleta de material dos pacientes é realizada por técnicos de laboratório, que encaminham as amostras para análise e depois as descartam. Normalmente, os médicos não têm contato com esse material. Quanto ao vírus HIV, o órgão acrescenta que ele ;perde a capacidade em aproximadamente um minuto em ambiente externo;. O secretário de Saúde, Rafael Barbosa, indicou que a médica deverá se explicar e o caso passará por uma análise da Diretoria Regional do Paranoá e, em seguida, pela Corregedoria do órgão. ;Nós já estamos tomando as providências;, disse à reportagem.

O delegado-chefe da 13; DP, Rogério Oliveira, confirmou ter aberto investigação para apurar os fatos. ;Juntamos fotos das seringas e vamos aguardar o laudo para saber se o que está no portão é mesmo sangue;, explicou. A médica poderá responder pelo crime de atentado contra a vida e a saúde. O CRM-DF afirmou, em nota, que ;há indícios de infração ao Código de Ética Médica;. De acordo com o Conselho, o médico ;jamais deverá utilizar seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade;.

Segurança
Na quinta-feira passada, a ortopedista do HRPa montou a armadilha no muro de casa para evitar a ação de ladrões. Os objetos foram retirados no último sábado, após uma notificação do condomínio. ;Minha casa foi assaltada cinco vezes em apenas um mês;, reclamou a médica. Ela contou que levaram televisão, máquina fotográfica, cortador de grama, entre outros objetos. Mas a medida despertou a indignação dos moradores do RK.

A síndica do condomínio, Vera Barbieri, 60 anos, rebateu as queixas da médica e informou que, de maio até ontem, a equipe de segurança do RK registrou apenas dois furtos: de uma bicicleta e do cortador de grama de Miriam, recuperado em seguida. ;Contratamos uma empresa de segurança. Eles nos enviam relatórios diários das ocorrências. Para se ter uma ideia, de dezembro até agora, teve apenas um arrombamento aqui;, explicou. Segundo Vera, há muitas reclamações contra a médica no livro da administração.

Na rua onde vive Miriam, os moradores reclamam da vizinha. ;Agora, passou dos limites. Mas essa não é a primeira vez que presenciamos essas situações;, disse a pedagoga Soraya de Souza, 50 anos. Ela conta que a médica já agrediu funcionários do condomínio e precisou prestar serviço comunitário. ;Jogou o carro em cima de duas pessoas que trabalhavam aqui e elas entraram com uma ação. Também colocou fogo na casa de outro vizinho;, afirmou Soraya.

Vida curta
O vírus da imunodeficiência humana (HIV, sigla em inglês) precisa estar dentro da corrente sanguínea para se manter vivo. Não há reprodução no ambiente externo. Já o vírus da hepatite C, por exemplo, consegue sobreviver por pouco mais de uma hora fora da corrente sanguínea

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