postado em 17/08/2011 07:43
Estudantes do Centro Educacional Adventista do Gama aprenderam uma lição que vai além do conteúdo ministrado em sala de aula, durante a última gincana cultural e desportiva do colégio. Eles fizeram um mutirão para ajudar um casal de idosos que vivia em péssimas condições. ;Foi ótimo poder ajudar e ver como eles ficaram gratos. Sozinhos, acho que nunca faríamos algo assim;, destaca Guilherme Martins, 17 anos.Ricarda Crispim da Silva, 81 anos, e Antônio Vicente, 86, moravam no Gama, em uma casa cheia de lixo no quintal, com o teto esburacado, fios de eletricidade desencapados e paredes com mofo. Como agravante, seu Antônio é diabético ; precisou amputar uma perna por causa da doença ; e tem catarata em estado avançado.
Na semana passada, a escola uniu forças para ajudar o casal. Os alunos espalharam a ideia pela comunidade e, no dia seguinte, começaram a reformar a casa com a ajuda de pedreiros voluntários. Cerca de 300 estudantes revezaram-se na reforma, acompanhados de vizinhos, professores, pais e famílias inteiras. Eles contaram com doações de material de empresas locais e de moradores da cidade. No domingo, a casa já estava pronta para o casal comemorar o Dia dos Pais.
Lucas Felipe, 16 anos, ficou com as mãos calejadas do trabalho, mas com um sorriso no rosto. ;Eu já tinha um pouco de experiência nessa parte de obras, mas também ajudei a pintar e a fazer outras coisas. Acho que, além de tudo, estamos praticando a palavra de Deus ; amando ao próximo, como Ele disse;, diz.
Madeira podre
A professora de biologia Ana Kelly Moneta alegra-se ao lembrar como tudo aconteceu. ;A madeira estava podre e quebrada, abrindo o telhado. Meu pai, que entende disso, entrou na roda e também ajudou com essa parte. As paredes estavam prejudicando a respiração deles com o mofo, tinha muita coisa que estava fazendo mal. Mas o mais emocionante, para mim, foi ver a união de toda essa turma, das várias tribos da escola, os playboys com os nerds, cada um fazendo sua parte, e provar que eles podem fazer a diferença;, comemora.
Ana Kelly conta que o casal será ;adotado; pelos alunos. Uma agenda foi elaborada para que, a cada semana dois estudantes façam uma visita, sempre zelando pelo bem-estar deles. Agora, os estudantes tentam buscar mais ajuda para realizar outro sonho de seu Antônio, o de voltar a enxergar.
Pedro Alves de Oliveira, 17 anos, ressalta que o mais importante é ter ajudado alguém, sem nem sequer pensar no título da gincana. ;Me emocionei quando eles voltaram para casa. Parecia que nunca tinham sido tão bem tratados.; Além da reforma, foram doados alguns móveis para deixar o local mais aconchegante. O jardim ficou limpo, com banquinhos e paredes pintadas.
A aluna Ythala Gabriella,16 anos, ficou feliz com o resultado do trabalho. ;No início, meus pais não gostaram muito da ideia de gincana, da brincadeira. Mas, quando viram o que estávamos fazendo, também foram ajudar na reforma, o que deixou todos nós mais próximos;, ressalta.
Quase pioneiros
Dona Ricarda e seu Antônio se conheceram no Rio de Janeiro, terra natal de ambos. Apaixonaram-se e tiveram três filhos. Em função do trabalho de Antônio, que viajava muito com a empresa prestando serviços de pedreiro, mudaram-se para Brasília em 1963. Desde aquela época, moram no Gama. Antônio era mais independente. Gostava de andar pela cidade que ajudou a construir, às vezes carregando algum neto. Ricarda trabalhava como dona de casa, lavando e passando roupa para famílias e às vezes trabalhando como parteira. Além disso, ficava sempre de olho nos filhos.
O casal perdeu um filho e um neto, pouco antes de Antônio machucar o pé. Como homem teimoso que era, não cuidou do ferimento e acabou tendo de amputar a perna em 2006, devido a complicações causadas pela diabetes. A mutilação derrubou sua autoestima. Vanda, a filha mais velha do casal, lembra que o pai gostava de cozinhar e de caminhar pelas ruas. Ela mora no mesmo terreno, com o marido e o filho. Lá também vivem uma neta de Ricarda e Antônio, com o marido e três filhos. ;Uma tempestade arrancou o telhado deles. Eu e meu irmão nos juntamos e compramos material para consertar, mas, como não tínhamos muita noção, ficou malfeito o acabamento, o que acabou apodrecendo a madeira;, relata.
;Eles sempre nos deram muito carinho, mesmo faltando algumas coisas às vezes, o que é normal na nossa condição. Mas temos muito amor por eles;, disse a primogênita, que nega a situação de abandono em que seus pais foram encontrados. Antônio se emociona ao falar da situação: ;Nós temos muita fé. Só com muita fé mesmo para a gente conseguir aguentar;. Ricarda, assim como o marido, espera que a situação melhore e reza todos os dias para nada de ruim acontecer. Entende que a fé é que não pode faltar.
EU ESTUDANTE,
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