postado em 14/06/2011 08:00
A queixa é comum entre moradores e comerciantes: se houvesse mais policiamento, a quantidade de crimes sexuais seria reduzida. A sensação de insegurança está por toda parte. Com pouco mais de 2,5 milhões de habitantes, o Distrito Federal conta, diariamente, com apenas 2,6 mil policiais militares para combater a criminalidade, embora a corporação tenha um efetivo estimado de 14 mil homens e mulheres. Metade está destacada para fazer o patrulhamento ostensivo, mas devido à escala de trabalho, que pode beneficiar o PM com até três dias de descanso ; o mesmo regime de serviço da Polícia Civil;, o número de soldados e graduados nas ruas soma 18% do total.
De acordo com o subsecretário de Operações da Secretaria de Segurança Pública, Jooziel de Melo Freire, contando com o serviço voluntário, segurança nas escolas e unidades especializadas (como Bope e Rotam), o efetivo nas ruas diário pode chegar a 3,5 mil. Ele também destacou que a situação deve melhorar com a incorporação de 750 recrutas que passaram no último concurso para soldado.
No fim do ano passado, o então governador Rogério Rosso (PMDB), após reportagens publicadas pelo Correio, determinou ao comando um estudo criterioso nas escalas de serviço da PM. Seu mandato terminou e nada foi feito. Jooziel explicou que as escalas hoje são alvo de análises constantes de acordo com a área de atuação de cada unidade dentro da polícia. ;Fazemos constantes estudos para aperfeiçoar a aplicação do policiamento;, frisou.
Enquanto isso, o crime de estupro cresce a cada dia no DF. Números da Secretaria de Segurança Pública mostram que, somente nos primeiros cinco meses deste ano, 283 casos foram registrados nas delegacias, o que soma uma média duas vítimas por dia. Em comparação com o mesmo período do ano anterior ; quando a polícia computou 195 casos ;, o crescimento é de 45%. A Região Oeste do DF, que abrange Ceilândia, Samambaia, Taguatinga, Brazlândia, Recanto das Emas e Águas Claras (veja quadro), pela alta densidade populacional, concentra a maior parte das ocorrências.
O subsecretário Jooziel Freire explica que o aumento se deve, entre outros aspectos, à vigência da Lei n; 12.015, de 7 de agosto de 2009, que alterou o Código Penal Brasileiro. ;Hoje, se alguém passar a mão em uma menina, é considerado estupro. É importante ressaltar que a maioria dos estupradores foi presa no DF. Basta analisar os últimos casos: os da Asa Norte foram encontrados no mesmo dia; o de Planaltina também (leia reportagem na próxima página). Isso mostra a eficiência da polícia em dar resposta à população;, afirmou o subsecretário.
Terror
Dois dias após o terror vivido pela funcionária pública de 24 anos, vítima de violência sexual praticada por dois mendigos na SQN 208, moradores decidiram se juntar para denunciar uma série de descasos. Na tarde de ontem, duas faixas foram afixadas na lateral do canteiro de uma obra embargada, onde ocorreu o crime na quadra. Com os dizeres ;Aqui: drogas, prostituição e estupro. Até quando?;, denunciavam a indignação da vizinhança. Os moradores acreditam que a falta de policiamento na região, aliada ao abandono do terreno da empresa PaulOOctavio, usado apenas como depósito de materiais de outras edificações do empreendimento, e a presença constante de moradores de rua contribuíram para a ocorrência do estupro no último sábado, por volta das 17h.
Relatos
O publicitário Renan Alves de Pinho, 28 anos, está cansado de ouvir relatos de crimes ocorridos nas proximidades da SQN 208. De acordo com ele, o perigo no local é constante. ;Sempre acontecem assaltos por aqui. Mesmo assim, vejo pouco policiamento e, por isso, não costumo passar próximo ao espaço onde ocorreu o estupro;, conta. No dia do crime, a delegada plantonista da 2; DP (Asa Norte) Renata Farias aconselhou ;as pessoas a não andarem sozinhas por locais desertos;, mas moradores e comerciantes lembraram que a vítima estava num local com alta circulação de pessoas e caminhava em plena luz do dia.
O cheiro forte de thinner e a voz foram dois dos fatores que levaram a funcionária pública a identificar os dois homens que a teriam violentado sexualmente. A prisão de Ismael Carlos Carvalho Pereira, 20 anos, e de outro homem que se identificou como Fábio da Silva Lima, 19, foi decretada no domingo pela Justiça. Os dois foram autuados por estupro, cuja pena pode chegar a 10 anos de reclusão. De acordo com o titular da 2; DP, delegado Marcelo de Paula, ambos negam o envolvimento no crime. Além das características apontadas pela vítima, materiais biológicos foram recolhidos e levados ao Instituto de Medicina Legal (IML). ;Esse material é uma prova técnica complementar;, afirmou o delegado.