Cidades

Institutos oferecem certificado de pós sem o aluno frequentar aula

No Nesb, localizado em Taguatinga Norte, pode-se obter o diploma em uma semana. Já no CAP, no Recanto das Emas, a funcionária diz que basta mudar a capa da monografia de graduação

postado em 10/03/2011 07:00
No Nesb, localizado em Taguatinga Norte, pode-se obter o diploma em uma semana. Já no CAP, no Recanto das Emas, a funcionária diz que basta mudar a capa da monografia de graduaçãoDuas instituições de ensino são suspeitas de emitir certificados de pós-graduação a pessoas que nunca estiveram em sala de aula. O Correio comprovou que a fraude ocorre no Instituto de Capacitação Educacional (CAP) e no Núcleo de Ensino Superior de Brasília (Nesb), situados no Recanto das Emas e em Taguatinga Norte, respectivamente. A primeira entidade é ligada à Faculdade de Tecnologia Equipe Darwin, que fica no Areal, bairro de Águas Claras. Já a segunda é polo da Faculdade Phênix, que tem sede em Santo Antônio do Descoberto. Ambas são reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC). Mediante pagamento de pouco mais de R$ 1 mil, é possível burlar todas as etapas de um curso verdadeiro e sair com o título de pós-graduado debaixo do braço.

A farra dos diplomas no CAP e no Nesb, segundo um professor da rede particular que preferiu não se identificar, ocorre há mais de um ano e já teria beneficiado centenas de pessoas. Muitas delas hoje lecionam em escolas e até faculdades da rede privada. ;É uma máfia que faz tudo por dinheiro. Imagina quantos alunos não estão assistindo aula com uma pessoa sem qualificação alguma?;, questiona o docente.

De acordo com o artigo 5; da Resolução n; 1 de junho de 2007 do MEC, que estabelece as normas para o funcionamento dos cursos de pós-graduação no país, a duração mínima para se tornar apto a receber o certificado é de 360 horas. O mesmo texto diz que o estudante deve, obrigatoriamente, elaborar uma monografia ou trabalho de conclusão de curso individualmente. Porém, nas duas instituições de ensino denunciadas, os critérios não são obedecidos.

No CAP, sem saber que falava com um jornalista, a funcionária identificada como Helen orientou o repórter a mudar a capa da monografia do curso de graduação. ;No lugar da graduação, você coloca pós-graduação. No lugar do nome da faculdade (onde foi feito o fictício curso de pedagogia) você coloca: ;Apresentada à Faculdade de Tecnologia Darwin, Departamento de Pós-Graduação e Docência do Ensino Superior;;, detalhou.

Em apenas uma ligação para o dono da CAP, Joaquim de Paula Filho, que também se autointitula diretor de controle de aprendizagem, Helen recebe as ordens de como o negócio clandestino deve ser tocado. ;Dá pra fazer em 12 vezes. Fica R$ 1.140 tudo. Tem que pagar no dinheiro;, disse. Joaquim também é coordenador pedagógico da Faculdade Darwin. A reportagem tentou contato com ele pelo telefone celular, mas o professor não atendeu as ligações.

Providências
O diretor-geral da Darwin, professor José Marcelino da Silva, negou saber das prováveis irregularidades no CAP, mas garantiu que todas as providências serão tomadas para evitar que o nome da entidade seja manchado. Institutos como o CAP funcionam como empresas terceirizadas das faculdades. Eles ministram os cursos, contratam professores, mas o certificado é emitido em nome da instituição de ensino superior credenciada pelo MEC. Não existe ilegalidade nessa relação, mas os gestores das faculdades têm dificuldades para comprovar se esses polos cumprem à risca as regras estabelecidas em contrato.

Sem dificuldades
Conseguir um diploma de pós-graduação no Nesb é ainda mais fácil. Com o mesmo argumento usado no CAP, a reportagem não teve dificuldades para começar a ouvir da coordenadora do centro de ensino, Edilene de Paula, os passos para se tornar especialista em uma área sem jamais ter assistido a uma aula sequer. ;Tudo pode ser negociado;, disse Edilene, no começo da conversa. Ela, que também é professora universitária, comenta que o certificado em docência do ensino superior pode ser entregue no próximo dia 14, mediante pagamento de R$ 1,1 mil à vista ou entrada de R$ 400 ou R$ 500 e um cheque para abril. ;Dá uma entrada de R$ 400 a R$ 500, que é o que a gente assegura (o diploma). À vista faço até R$ 1,1 mil em espécie. Se você vier na segunda-feira, aí eu te entrego na outra segunda (14/3);, afirmou.

Questionada se a armação não traria consequências graves para ambas as partes, Edilene ironizou: ;Você tá falando com uma pessoa que já foi diretora acadêmica. O pessoal fica pedindo 180 dias para emitir (o diploma), enrolando. É mentira. Eles batem o carimbo e assina (sic). Eu chego lá e falo: ;Amor, resolve isso aqui pra mim;. Eles chegam lá e bá, bá, bá (simulando o som de carimbo) e dizem: ;Pronto, tá bom assim?; Eles enrolam pra ganhar tempo. Nem querem saber de aluno;, contou a coordenadora do Nesb.

Procurada pela reportagem um dia depois de ser flagrada anunciando os certificados de pós, Edilene negou as acusações mesmo após ser informada de que a conversa foi registrada. A professora ainda lembrou que já sofreu acusação semelhante no ano passado, mas que conseguiu provar sua inocência. ;Não sei a pessoa que fez isso, mas ela quer me atacar de alguma forma;, disse.

Em nenhum dos contatos feitos pela reportagem nos institutos, a transação foi efetivada. Por dois dias seguidos, na sexta-feira última e ontem, o Correio tentou contato com algum representante da Phênix, mas os dois telefones fixos que estão no site da entidade não atendem.

Duas instituições de ensino são suspeitas de emitir certificados de pós-graduação a pessoas que nunca estiveram em sala de aula. O Correio comprovou que a fraude ocorre no Instituto de Capacitação Educacional (CAP) e no Núcleo de Ensino Superior de Brasília (Nesb), situados no Recanto das Emas e em Taguatinga Norte, respectivamente. A primeira entidade é ligada à Faculdade de Tecnologia Equipe Darwin, que fica no Areal, bairro de Águas Claras. Já a segunda é polo da Faculdade Phênix, que tem sede em Santo Antônio do Descoberto. Ambas são reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC). Mediante pagamento de pouco mais de R$ 1 mil, é possível burlar todas as etapas de um curso verdadeiro e sair com o título de pós-graduado debaixo do braço.

A farra dos diplomas no CAP e no Nesb, segundo um professor da rede particular que preferiu não se identificar, ocorre há mais de um ano e já teria beneficiado centenas de pessoas. Muitas delas hoje lecionam em escolas e até faculdades da rede privada. ;É uma máfia que faz tudo por dinheiro. Imagina quantos alunos não estão assistindo aula com uma pessoa sem qualificação alguma?;, questiona o docente.

De acordo com o artigo 5; da Resolução n; 1 de junho de 2007 do MEC, que estabelece as normas para o funcionamento dos cursos de pós-graduação no país, a duração mínima para se tornar apto a receber o certificado é de 360 horas. O mesmo texto diz que o estudante deve, obrigatoriamente, elaborar uma monografia ou trabalho de conclusão de curso individualmente. Porém, nas duas instituições de ensino denunciadas, os critérios não são obedecidos.

No CAP, sem saber que falava com um jornalista, a funcionária identificada como Helen orientou o repórter a mudar a capa da monografia do curso de graduação. ;No lugar da graduação, você coloca pós-graduação. No lugar do nome da faculdade (onde foi feito o fictício curso de pedagogia) você coloca: ;Apresentada à Faculdade de Tecnologia Darwin, Departamento de Pós-Graduação e Docência do Ensino Superior;;, detalhou.

Em apenas uma ligação para o dono da CAP, Joaquim de Paula Filho, que também se autointitula diretor de controle de aprendizagem, Helen recebe as ordens de como o negócio clandestino deve ser tocado. ;Dá pra fazer em 12 vezes. Fica R$ 1.140 tudo. Tem que pagar no dinheiro;, disse. Joaquim também é coordenador pedagógico da Faculdade Darwin. A reportagem tentou contato com ele pelo telefone celular, mas o professor não atendeu as ligações.

Providências
O diretor-geral da Darwin, professor José Marcelino da Silva, negou saber das prováveis irregularidades no CAP, mas garantiu que todas as providências serão tomadas para evitar que o nome da entidade seja manchado. Institutos como o CAP funcionam como empresas terceirizadas das faculdades. Eles ministram os cursos, contratam professores, mas o certificado é emitido em nome da instituição de ensino superior credenciada pelo MEC. Não existe ilegalidade nessa relação, mas os gestores das faculdades têm dificuldades para comprovar se esses polos cumprem à risca as regras estabelecidas em contrato.

Sem dificuldades
Conseguir um diploma de pós-graduação no Nesb é ainda mais fácil. Com o mesmo argumento usado no CAP, a reportagem não teve dificuldades para começar a ouvir da coordenadora do centro de ensino, Edilene de Paula, os passos para se tornar especialista em uma área sem jamais ter assistido a uma aula sequer. ;Tudo pode ser negociado;, disse Edilene, no começo da conversa. Ela, que também é professora universitária, comenta que o certificado em docência do ensino superior pode ser entregue no próximo dia 14, mediante pagamento de R$ 1,1 mil à vista ou entrada de R$ 400 ou R$ 500 e um cheque para abril. ;Dá uma entrada de R$ 400 a R$ 500, que é o que a gente assegura (o diploma). À vista faço até R$ 1,1 mil em espécie. Se você vier na segunda-feira, aí eu te entrego na outra segunda (14/3);, afirmou.

Questionada se a armação não traria consequências graves para ambas as partes, Edilene ironizou: ;Você tá falando com uma pessoa que já foi diretora acadêmica. O pessoal fica pedindo 180 dias para emitir (o diploma), enrolando. É mentira. Eles batem o carimbo e assina (sic). Eu chego lá e falo: ;Amor, resolve isso aqui pra mim;. Eles chegam lá e bá, bá, bá (simulando o som de carimbo) e dizem: ;Pronto, tá bom assim?; Eles enrolam pra ganhar tempo. Nem querem saber de aluno;, contou a coordenadora do Nesb.

Procurada pela reportagem um dia depois de ser flagrada anunciando os certificados de pós, Edilene negou as acusações mesmo após ser informada de que a conversa foi registrada. A professora ainda lembrou que já sofreu acusação semelhante no ano passado, mas que conseguiu provar sua inocência. ;Não sei a pessoa que fez isso, mas ela quer me atacar de alguma forma;, disse.

Em nenhum dos contatos feitos pela reportagem nos institutos, a transação foi efetivada. Por dois dias seguidos, na sexta-feira última e ontem, o Correio tentou contato com algum representante da Phênix, mas os dois telefones fixos que estão no site da entidade não atendem.

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