Adriana Bernardes
postado em 07/03/2011 08:05
Um ano e quatro meses após o início da maior crise política do Distrito Federal, desencadeada pela Operação Caixa de Pandora, nenhum dos citados no Inquérito n; 650, que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi denunciado. Há pouco mais de 15 dias, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsabilizou a Polícia Federal pela demora no desfecho do caso. ;Tivemos realmente uma série de dificuldades com a Polícia Federal, como atrasos de perícias. Ainda há uma série de pendências, mas a gente espera conseguir resolver tudo e ter realmente condições de apresentar a nossa conclusão;, afirmou Gurgel, em 16 de fevereiro. A PF, por sua vez, assegura que todas as diligências requisitadas pelo Ministério Público foram concluídas e aguarda novas demandas dos procuradores responsáveis pelo caso.Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante ressalta que a demora na investigação e punição dos culpados ;é o fermento da corrupção;. ;Embora saibamos que o tempo da Justiça não é o da imprensa nem o da sociedade de forma geral, que querem apuração mais rápida, é necessário que apuração seja mais rápida sob pena de tornar inócuo qualquer tipo de punição;, disse, destacando, porém, a necessidade de se respeitar os prazos para defesa.
Em 27de novembro de 2009, o Brasil conheceu um dos esquemas de arrecadação e distribuição de propina mais bem documentados do país. A ação, segundo a PF e o Ministério Público, seria chefiada pelo ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) e envolveria secretários de governo e distritais, que recebiam propina para votar projetos de interesse do Executivo. O principal delator é o ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa, o mesmo que gravou a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) recebendo um pacote de dinheiro em 2006. O vídeo só foi divulgado na última semana.
A coordenadora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Jovita Rosa, critica a demora do MP em concluir as investigações dos citados na operação Caixa de Pandora. ;É com pesar que a gente vê a atuação do Ministério Público, na condição de protetor da lei. Sentimos falta de uma atitude mais concreta, de mais rapidez;, reclama. ;Queremos uma célere apuração não só em relação a ela (Jaqueline), mas com todos os envolvidos.;
Pagamentos à base
As investigações indicam que o governo tinha uma despesa mensal de R$ 600 mil com pagamentos à base aliada. De acordo com relatório da PF, em situações especiais, a quantia era mais alta. Para votar a favor do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), por exemplo, alguns deputados teriam recebido R$ 420 mil. Em um capítulo especial, são mencionados nomes de 10 distritais. Durval entregou 23 vídeos à polícia. Em muitas gravações, há cenas em que o ex-secretário de Relações Institucionais aparece repassando maços de dinheiro a políticos do Distrito Federal.
Ainda em novembro de 2009, os parlamentares Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (então no PSC) e Leonardo Prudente (então no DEM) aparecerem, em separado, recebendo dinheiro de origem suspeita das mãos do delator do esquema. Eurides pôs o dinheiro na bolsa. Prudente, por sua vez, guardou as notas no paletó e até nas meias. Ele e Brunelli também ficaram famosos pela aparição em outro vídeo, em que fazem uma oração de agradecimento pela vida de Durval. Brunelli e Prudente renunciaram ao mandato para fugir da cassação. Eurides enfrentou o processo até o fim e foi cassada em junho do ano passado.