postado em 15/02/2011 08:07
As mais importantes lojas populares de eletrodomésticos e calçados do país ocuparam o espaço de bocas de fumo em São Sebastião. A avenida que até cinco anos atrás era ponto de encontro de usuários e traficantes de drogas hoje reúne magazines lado a lado. A movimentação no centro comercial mais badalado da cidade agora é à luz do dia, ao longo da semana. O tráfico e a violência não são problemas resolvidos, mas o dinamismo da economia local ajudou os moradores a conquistar a liberdade de sair às ruas e consumir bens e serviços.São Sebastião nasceu antes mesmo da capital federal. Naquela região, a 26km do centro de Brasília, foram instaladas as olarias que forneciam os tijolos usados para erguer os monumentos de Oscar Niemeyer. A tímida agrovila ganhou a condição de região administrativa em 1993 e, desde então, passou a crescer ainda mais rápido. Novos bairros surgiram e trouxeram asfalto para as ruelas empoeiradas. O governo criou linhas de ônibus e levou água, esgoto e energia elétrica para as áreas desabastecidas. A infraestrutura atraiu mais gente e a população atingiu a marca de 100 mil pessoas.
O adensamento populacional forçou o desenvolvimento do comércio. Hoje são cerca de 1,2 mil empresas espalhadas pela cidade, com destaque para supermercados, madeireiras e lojas de material de construção. O presidente da Associação Comercial e Industrial de São Sebastião, José Carvalho Pereira Júnior, acredita que, apesar do avanço, há muito espaço para investimentos, principalmente nas áreas de lazer e gastronomia. ;Não temos churrascaria, por exemplo. Os moradores passam o fim de semana com dinheiro no bolso, mas não têm onde gastar;, comenta.
A expectativa é que, nos próximos anos, a região se consolide como importante centro econômico do Distrito Federal. Com o lançamento da primeira etapa do Setor Habitacional Mangueiral, até 2014 são esperados 20 mil novos habitantes. ;Toda essa gente vai consumir em São Sebastião;, prevê Júnior. O sócio-diretor da Valorum Consultoria em Gestão Estratégica, Marcos André Melo, lembra ainda o potencial consumidor de moradores de condomínios de luxo, como o AlphaVille, que está sendo erguido naquela direção. ;Isso também vai mexer com a economia da cidade;, aposta.
Reivindicações
O desenvolvimento fez surgir prédios de até quatro andares, o que era improvável na opinião dos mais antigos. Em geral, a população mostra-se satisfeita com as mudanças ocorridas na última década. ;Agora a gente pode comprar de tudo aqui. Quando eu era pequena, precisava descer para o Plano (Piloto);, compara a professora Elizete Rodrigues, 32 anos, filha do fundador da cidade, o conhecido Tião Areia. ;Só que a gente sempre quer mais. Faltam bancos e o atendimento no comércio precisa melhorar;, reclama Elizete, nascida e criada em São Sebastião.
Nos supermercados da cidade, os clientes exigem produtos de primeira linha. ;Se colocar marcas ;tipo dois; nas prateleiras, não vende;, conta Francisco Guilherme dos Santos, 44 anos, dono da rede que mais cria empregos na região administrativa. Somam-se 200 funcionários nas duas lojas. ;Quando abri a segunda unidade, em 2007, muita gente me chamou de louco. Resolvi apostar e deu certo;, comenta ele, filho de pioneiro, que chegou ao DF aos 5 anos. ;Vendemos uma fazenda para abrir o comércio na cidade;, conta Santos. O faturamento da empresa cresce a cada ano.
Até outubro, a primeira unidade da rede de supermercados, inaugurada em 1990 como açougue e sacolão, será transferida para um espaço duas vezes maior, de 2 mil metros quadrados. O investimento será de R$ 2,5 milhões. ;Acredito nisso aqui;, reforça Santos. ;Com o Mangueiral pronto, tenho certeza de que o movimento ficará ainda melhor;, completa. Além dos moradores da cidade, o comércio de São Sebastião atende a demanda dos condomínios do Jardim Botânico e mesmo do Lago Sul. A feira permanente é uma das tradições que atrai centenas de pessoas durante a semana.
Novo bairro
Quando for concluído, o Setor Habitacional Mangueiral terá
8 mil casas e apartamentos e abrigará cerca de 30 mil moradores. O novo complexo possui 200 hectares e se estende ao longo da DF-463, em direção a São Sebastião. Os imóveis serão destinados a pessoas que ganham até 12 salários mínimos, preferencialmente inscritas na Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab).
Agropecuária é o forte da economia
Rodeada por fazendas e no caminho do município mineiro de Unaí ; importante polo agrícola do Centro-Oeste ;, São Sebastião tem uma agricultura forte, que movimenta o mercado de produtos agropecuários. Apesar de pertencer oficialmente à região administrativa do Paranoá, a área do Programa de Assentamento Dirigido do DF, conhecida como PAD-DF, também impulsiona o consumo de bens e serviços em São Sebastião, por conta da proximidade com a cidade.
O PAD-DF se destaca pelas plantações de soja (uma das maiores do país), milho, feijão, trigo e sorgo. A área possui cerca de 88 mil hectares e abriga 6 mil pessoas espalhadas pelas agrovilas Capão Seco, Lamarão, Cariru, Riacho Frio, Quebrada dos Neris, Café Sem Troco, Jardim I e II, Sussurana, Buriti Vermelho, São Bernardo e Itapeti. Os produtores respondem por mais de R$ 100 mil em impostos por mês, segundo a Cooperativa Agropecuária da Região do DF (Coopa-DF).
O paraibano Francisco Pereira de Souza, 61 anos, conhecido como Chaguinha, chegou à zona rural de São Sebastião em 1980. Começou como vaqueiro em uma chácara e hoje é dono de uma propriedade de 23 mil metros quadrados onde planta e colhe o sustento da família: são seis filhos e 17 netos. ;Mas comigo moram só umas 10 pessoas;, conta. Com financiamento de R$ 18 mil, ele se prepara para, em 2011, deixar prontas cinco estufas. Ali serão produzidos pepino, alface, tomate, pimentão, pimenta-de-cheiro, milho e abóbora.
A colheita continuará sendo vendida nas Centrais de Abastecimento do DF (Ceasa) duas vezes por semana e, aos sábados e aos domingos, na Feira de Planaltina. ;Parece que está dando certo, né? Comecei no regador e, com o tempo, a gente foi se ajeitando;, comenta Chaguinha. Ele mal sabe escrever o nome, mas não deixa de fazer planos. ;Este ano, ainda vou comprar um caminhão para transportar melhor os produtos. O Opala já ficou velho.;
Agricultura
O Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF) começou a ser executado em 1977, com o objetivo de incorporar as terras inexploradas ao processo produtivo. O programa, situado no km 5 da BR-251 ; Brasília/Unaí (MG) ;, abrange uma área de 61 mil hectares para o plantio de cereais, hortifrutigranjeiros, bovinocultura e avicultura. O local é considerado referência em tecnologia.