postado em 11/12/2010 07:27
Após 18 anos desatualizado, o Distrito Federal agora conta com um novo mapa geográfico. O governador Rogério Rosso assinou ontem um decreto mudando o referencial geodésico do DF. No mesmo decreto, Rosso aprovou que todos os projetos de obras sejam elaborados sobre o Sistema Internacional de Referência para América ; Sirgas 2000, sensível e preciso ao ponto de detectar surgimento de invasões, casas em áreas de risco e até deslocamento de placa tectônica. O novo mapeamento vem para substituir o documento de padronização do Sistema Cartográfico no DF (Sicade), datado de 1992. Além de unificar as informações, o novo sistema vai adequar-se ao modelo brasileiro. Atualmente, o mapa é cartográfico, enquanto em todo o Brasil o sistema é topográfico. Isso vai permitir gerar modelos virtuais do terreno, capazes de contar quantas casas surgiram de um dia para o outro, por exemplo. A base cartográfica também servirá para auxiliar no planejamento urbano e elaborar estudos de projetos urbanísticos no DF. Com dimensões reais de áreas construídas, o GDF também terá mais precisão sobre o valor do IPTU. Assim como ocorre em todo o território nacional, haverá um período de transição de três anos, no qual órgãos públicos, privados e profissionais liberais terão que transformar coordenadas para adequação e compatibilização entre projetos.
;Esse novo mapa vai permitir um melhor planejamento e permitirá maior confiabilidade das informações. Foram utilizados os recursos mais modernos para que possamos ter um desenho claro da situação real do território;, disse o governador Rogério Rosso. Segundo ele, o novo sistema cartográfico é parecido com o popular ;Google Earth;, via internet. ;Parece, mas, na concepção, o nosso é bem mais detalhado e científico;, explicou.
A novidade deve otimizar os serviços prestados na área da segurança e da saúde. A base cartográfica dará uma nova visão de proximidade em função da localização das ambulâncias que estão circulando pelo DF, por exemplo. O sistema calcula a menor distância, o que reduz o tempo de atendimento. ;Hoje, as viaturas dos bombeiros e do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) já vêm equipadas com equipamento de GPS, que dá ao Ciade a localização de onde está a ambulância, mas não do local do acidente;, explicou Júlio César de Azevedo Reis, chefe do Núcleo de Topografia e Cartografia da Terracap e também coordenador do projeto.
Os estudos de criminalidade também ficarão mais precisos. A partir de agora, os policiais poderão identificar quais são os pontos específicos de prática de crime, além de poder traçar rotas mais curtas para chegar a determinado local. ;A nova estrutura da cartografia vai permitir um avanço no sistema de planejamento como um todo;, garantiu o presidente da Terracap, Dalto Costa. A assinatura do decreto foi feita ontem no auditório da Terracap. Participaram da solenidade o governador, a vice-governadora e o diretor de geociência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Luis Paulo Fortes, além do presidente da Terracap.
A base cartográfica antiga foi aprovada pelo decreto 4.008/1977. De lá para cá, todos os trabalhos cartográficos e obras de engenharia foram baseados nela. O sistema de 1968 está desatualizado em relação ao modelo geodésico brasileiro. O novo decreto ainda não tem número e deve entrar em vigor a partir da sua publicação. ;Ele garante que todo e qualquer tipo de bancos de dados espaciais do DF possam ser correlacionados aos bancos de dados espaciais do governo federal;, explicou Júlio César Azevedo.
O novo mapa demorou cerca de seis meses para ficar pronto e conta com mais de duas mil fotografias aéreas, as chamadas aerofotocartas. O mapeamento passou por controle de qualidade no processo de elaboração dos produtos: cobertura aerofotogramétrica, aerotriangulação, apoio de campo, edição das ortofotocartas e estruturação dos dados. A ideia é que todo mundo utilize o mapa para fazer projetos, como análise de solos e construção de prédios.
Características
; Cobertura aerofotogramétrica realizada com câmera digital de grande formato, composto por 2.276 fotos, com resolução espacial de 25 centímetros.
; Ampliação longitudinal e lateral mais precisa.
; Foram 36 faixas de voo no sentido norte-sul.
; 80 marcos geodésicos de apoio básico foram reformulados.
; Os dados vetoriais são compostos por 17 categorias de planos de informações (uso e ocupação do solo, hidrografia, sistema viário, entre outros.)
Capital federal a um clique de distância
Naira Trindade
Se uma imagem vale mais que mil palavras, a representação visual do Distrito Federal é autoexplicativa. A Grande Brasília, com seus 2,4 milhões de habitantes, ganhou ontem um Mapa Imagem produzido via satélite pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A atualização geográfica surge 30 anos depois do antigo mapeamento do instituto e vai permitir ao internauta conhecer todos os cantos do DF por meio de um clique.
O Distrito Federal é a primeira unidade da federação a ser mapeada pelo moderno sistema de satélites japonês Alos ; o IBGE assinou contrato em outubro de 2006, na Universidade do Alaska, nos Estados Unidos. ;A adesão de novas formas de produzir retratos da área territorial brasileira é um desafio;, analisou o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, durante o lançamento do produto, ontem. A imagem vem homenagear Brasília no ano em que comemora seu 50; aniversário. ;É mais um retrato que a diretoria de geociência vem apresentar e o retorno será muito grande. Vamos interagir com o usuário;, explicou o diretor de Geociência do IBGE, Luiz Paulo Souto Fortes.
Para retratar o Distrito Federal, o satélite montou um mosaico composto por seis cenas. Tais imagens foram tiradas em 11 de março de 2007 (cenas 1 e 2), 27 de agosto de 2008 (cenas 3 e 4) e 10 de fevereiro de 2007 (cenas 5 e 6) e vão auxiliar ao usuário na análise territorial para políticas de desenvolvimento sustentável. ;A imagem vai auxiliar a monitorar o crescimento urbano, a questão do meio ambiente para fins de acompanhar as áreas preservadas e até para acompanhar o que está acontecendo nas áreas rurais. Toda essa evolução é importante para que a gente possa ter estatística para o desenvolvimento;, analisou a professora de estatística e demografia da Universidade de Brasília (UnB) Ana Maria Nogales.
O Mapa Imagem é produzido em escala 1:100.000 (cada 1 cm representa 1 Km de área real). Os três sensores (um em preto e branco, outro colorido e o terceiro, tipo radar, que enxerga através das nuvens) proporcionam visualizar uma imagem colorida de todo território brasiliense. Segundo o cartógrafo João Bosco, responsável pela realização dos trabalhos, o DF sai em vantagem em relação aos outros estados por já migrar para o sistema cartográfico numa base nacional. ;A imagem é um mapa oficial que vai possibilitar monitorar a ocupação territorial, urbana e agrícola em resoluções que captam objetos de até 10 metros;, esclareceu. A segunda etapa do projeto é analisar o território ocupado e fazer um relatório, previsto para o fim de 2011.
Diretor da Terracap, Luiz Antônio Reis diz que os mapas produzidos pelo GDF entram em sintonia com o Governo Federal. ;A partir de agora passamos a ser mapeado na mesma base;. ;O monitoramento do território é muito oportuno. O trabalho de fiscalização poderá melhorar a partir do conhecimento da área;, completa a professora Nogales. Para a geógrafa e professora da Universidade Católica de Brasília Marcelle Figueira, o retrato aéreo traz a inovação desejada há anos. ;Algumas regiões brasileiras têm suas bases cartográficas desatualizadas há mais de 30 anos. E a possibilidade de mudança, com o uso de novas tecnologias, como as imagens de satélite, é um discussão que se arrasta há 10 anos. Nós, geógrafos, engenheiros, geólogos, esperamos a atualização da cartografia brasileira, que é uma ferramenta estratégica e essencial para as atividades de transportes (logística), defesa, planejamento, infra-estrutura e desenvolvimento regional;, defende.
Os próximos estados a serem mapeados até 2016 são Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba e Alagoas.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Discussão arrastada
O Mapa Imagem do Distrito Federal é uma esperança na atualização da base cartográfica oficial do Brasil. Algumas regiões brasileiras têm suas bases cartográficas desatualizadas há mais de 30 anos. E a possibilidade de mudança, com o uso de novas tecnologias, como as imagens de satélite, é um discussão que se arrasta há 10 anos. De um lado os engenheiros cartógrafos, que não admitiam outra forma de atualização, senão os voos aerofotogramétricos, que fornecem alta precisão, mas a um alto custo, aliado a uma temporalidade maior para elaboração. De outro, tínhamos aqueles que defendiam a atualização das bases com o uso das imagens de satélite, a um custo mais baixo, com maior agilidade, ainda que houvessem desafios técnicos a serem superados. Hoje o IBGE assinala com a oficialização da superação dos desafios técnicos. Esperamos, nós, geógrafos, engenheiros, geólogos, a atualização da cartografia brasileira, que é uma ferramenta estratégica e essencial para as atividades de transportes (logística), defesa, planejamento, infra-estrutura e desenvolvimento regional.
Marcelle Figueira, geógrafa, professora da Universidade Católica de Brasília e mestre em Engenharia Cartográfica pelo Instituto Militar de Engenharia (IME)
ONDE ENCONTRAR
O Mapa Imagem do DF está disponível no endereço ftp://geoftp.ibge.gov.br