Correio Braziliense
postado em 14/06/2020 07:00
Todos os estados brasileiros registram mais de 100 mortes pela covid-19 e têm pelo menos cinco mil casos confirmados, exceto um. Mato Grosso do Sul chama atenção ao ficar, sempre, em último lugar na tabela divulgada diariamente pelo Ministério da Saúde que contabiliza os números da doença. Com 3.235 casos e 28 mortes, o estado do Centro-Oeste localizado ao lado de São Paulo, epicentro do vírus, é exemplo de como controlar a pandemia do novo coronavírus. Alta adesão das medidas restritivas, ampliação da testagem e a união entre governador e prefeitos são os fatores citados pelos especialistas para explicar o cenário positivo. Infectologista e professora técnica do Comitê de Operações de Emergências do Mato Grosso do Sul, Mariana Croda, acredita que a adoção de uma quarentena ampla desde o primeiro caso de covid no estado ajudou no controle da pandemia. “A doença começou pela capital, Campo Grande, e, a partir do primeiro caso, adotamos medidas restritivas muito duras. Houve o fechamento do comércio, escolas, parques, e a população aderiu muito bem”, avalia. A professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) conta, ainda, que a longa duração das normas de isolamento reforçou o controle. “Mesmo com poucos casos, essas medidas continuaram por, pelo menos, 30 dias, e algumas se mantêm até o momento.”
Secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende reforça a avaliação da infectologista ao afirmar que o estado tomou as medidas certas na hora certa. “Logo quando começaram a surgir os alertas sobre a doença vindos da China, nós já fizemos alguns encaminhamentos e construímos nosso Comitê de Operações de Emergências. Fomos um dos primeiros a criá-lo, logo no fim de janeiro”, ressalta. À época, o Brasil não havia registrado casos de covid-19.
Com a doença controlada na capital, o interior passou a registrar infectados relacionados às atividades econômicas, em usinas, frigoríficos e hidrelétricas. Ao identificar o foco, o estado conseguiu conter os casos. Outro ponto que ajuda no controle da doença é o aumento da capacidade de testagem. No MS, o que permitiu isso foi o grande investimento da unidade federativa nos insumos e a parceria com instituições de ensino e pesquisa. “Com isso, a gente conseguiu ampliar rapidamente a testagem, antes que a gente tivesse uma curva crescente”, explica Mariana Croda.
Segundo a infectologista, em Campo Grande, há 100 vagas abertas por dia para a realização do teste RT-PCR, considerado o padrão-ouro no diagnóstico da covid-19. Fora isso, há vagas para testes rápidos. Isso ocorre diariamente. Logo, a capital testa, no mínimo, 700 pessoas por semana.
Densidade demográfica
Características do estado também podem ter ajudado no controle da doença, ajudando a evitar aglomerações. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Mato Grosso do Sul é uma das 10 unidades da federação com menor densidade demográfica do país. Com uma população de 2.778.986, o estado tem 6,86 habitantes por quilômetro quadrado. São Paulo e Rio de Janeiro, estados com o maior número de casos e mortes pela covid-19, apresentam 166,25 e 365,23, respectivamente.
“Isso ajuda muito porque locais de maior aglomeração têm um menor controle. Temos espaços maiores, e também muita população rural, que acaba ficando mais isolada”, indica a especialista. Croda ressalta, ainda, o alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. Em 10º no ranking entre os estados, o IDH de MS é de 0,729. “Temos um IDH bom, então temos boas condições de saúde e, até ano passado, nós éramos o terceiro em investimento da saúde”, afirma.
União
Junto ao investimento na saúde, a formulação de uma política única e a união entre prefeitos, governador e secretários é vista como um componente importante por Geraldo Resende. “Conseguimos construir unidade com os 79 municípios do estado. Não tem nenhum município que deixou de seguir a orientação da Secretaria de Saúde e fizemos aqui uma construção de uma unidade de ações. Todos entenderam que o nosso inimigo comum é o coronavírus”, resume o secretário estadual de Saúde.
Para ele, essa unidade vista no estado faltou em determinado momento no país como um todo. “Faltou união a nível nacional. Sabemos que tivemos várias divergências na condução do combate à doença por parte do governo federal. Espero que, agora, isso seja superado”. De acordo com o secretário, a pandemia só será derrotada quando o governo, por meio do Ministério da Saúde, unir-se, de fato, ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). É preciso “construir uma unidade.”
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.