Brasil

Rotina perigosa: quase 40% dos acidentes nas rodovias envolvem caminhões

Dado ponta para fadiga de motoristas; colisões caíram, porém, depois de exame toxicológico

Christiana Suppa - Especial para o Correio
postado em 20/04/2017 06:00
No Brasil, o custo anual com acidentes e vítimas do trânsito é de R$ 50 bilhões. Dados de um estudo recente realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que são gastos R$ 137 milhões por dia. O Brasil é o país que mais mata no trânsito no mundo ; só fica atrás da China e da Índia ; e, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 38% dos acidentes nas rodovias federais envolvem veículos pesados, apesar de eles representarem apenas 4% da frota nacional.

O SOS Estrada realizou um estudo que mostra que metade dos acidentes com motoristas profissionais ocorrem sem o envolvimento de outro veículo. São saídas de pista, tombamento, choque com objeto fixo. Situações típicas de acidentes provocados por fadiga. Choques entre caminhões respondem por 32% dos acidentes e apenas 18% envolvem veículos leves. ;No Brasil, os motoristas se submetem a jornadas de trabalho muito pesadas, para não perder o serviço, porque precisam do dinheiro. Viajam sem dormir, geralmente acima do limite de velocidade e ainda são ;premiados; quando chegam antes do previsto. Dessa forma, quem usa droga tira o serviço de quem não usa;, conta Rodolfo Rizzotto, coordenador do programa SOS Estrada.

Foi na intenção de diminuir os números da violência nas estradas e de vítimas envolvidas nesses acidentes que, há um ano, passou a ser obrigatório o exame toxicológico para motoristas profissionais, ou seja, com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias C, D e E. Nos primeiros seis meses de vigência da lei, 33% dos motoristas dessas categorias fugiram do exame toxicológico no ato da renovação de suas carteiras. Uma das consequências foi a queda de 39% nos acidentes com caminhões nas rodovias federais no mesmo período, segundo a PRF.

;O exame de sangue detecta apenas a presença da droga, o do cabelo, mostra se o motorista é um usuário regular de drogas. E já é de conhecimento geral que quem faz uso de drogas estimulantes fica incapacitado para exercer profissões de risco;, explica Márcio Liberbaum, presidente do Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro (ITTS). Não a toa o exame toxicológico venceu a última batalha e agora é obrigatório em todo o país. Tocantins foi o último estado a adotar a medida, prevista na Lei 13.103 desde março de 2016.

Para Rizzotto, a situação é tão grave que a cada dia é mais difícil encontrar um motorista profissional que nunca usou drogas para se manter acordado ou por lazer. Em operações educativas nas estradas, em que motoristas aceitaram se submeter a exame de sangue e urina, há casos em que mais de 50% estavam sob efeito de drogas. ;A fuga do exame mostra a gravidade do problema. Antes, a droga mais usada pelos caminhoneiros era o ;rebite;. Hoje, 70% usam cocaína;, diz Rizzotto. ;Os que carregam cargas perecíveis chegam a fazer xixi em garrafas plásticas, com o carro em movimento, para cumprir os prazos de entrega;, completa.

No Brasil os caminhoneiros dormem em cabines minúsculas, com um olho aberto e outro fechado, por causa do risco de roubo, e a maioria recorre às drogas para suportar as duras jornadas, não por diversão. ;Nesse sentido, o exame do cabelo salva vidas. Se por um lado obriga o dependente a buscar tratamento para continuar na profissão, por outro protege a sociedade, já que as estradas estarão mais seguras;, explica Liberbaum. ;Com isso, vamos conseguir reduzir os acidentes, diminuir a exploração da mão de obra e combater o tráfico de entorpecentes que hoje depende do transporte rodoviário para sobreviver;, completa.

Para fazer um balanço das conquistas alcançadas com a ;Lei do Caminhoneiro;, o Correio realizará, no dia 27 de abril, das 8h30 às 13h, o fórum: ;Resultados do 1; ano do exame toxicológico para motoristas profissionais;. O evento contará com a presença de diversas autoridades e grandes especialistas das áreas de trânsito, tecnologia, saúde e políticas públicas. Trata-se de um evento fechado, mas os assinantes do Correio contarão com um número de vagas. Os interessados devem se inscrever pela internet no endereço www.correiobraziliense.com.br/correioforum.

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