Fernanda Torres dedicou o prêmio à mãe, a atriz Fernanda Montenegro, lembrando que, 25 anos atrás, ela também foi candidata na mesma categoria em 1999 pelo filme 'Central do Brasil' (do mesmo diretor de 'Ainda Estou Aqui', Walter Salles).
Em 'Ainda Estou Aqui', Fernanda Montenegro faz o mesmo papel da filha, só que na fase idosa da personagem Eunice Paiva. A semelhança de mãe e filha na vida real foi levada para o telão, facilitando a composição da personagem e dando o vigor necessário à trama pela expressividade de ambas as atrizes.
O longa-metragem “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, também foi indicado ao Globo de Ouro 2025 na categoria Melhor Filme de Língua Não-Inglesa, mas perdeu para 'Emilia Pérez'. Escrito e dirigido pelo francês Jacques Audiard, conta sobre uma traficante trans que muda de identidade.
Um dia antes da indicação para a 82ª edição do Globo de Ouro, Fernanda Torres ficou em segundo lugar no prêmio de melhor atuação da Associação de Críticos do Cinema de Los Angeles. A brasileira apareceu ao lado de Demi Moore ('A Substância') nesse posto.
'Ainda Estou Aqui' já foi o escolhido para tentar disputar uma vaga no Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. A lista completa dos indicados será anunciada no dia 17 de janeiro de 2025.
No inÃcio de setembro, o filme estreou com momentos de emoção no Festival de Cinema de Veneza. Selton Mello e Fernanda Torres não conseguiram conter as lágrimas com a recepção calorosa do público após a exibição do longa.
Após o término da sessão, a produção brasileira foi aplaudida de pé por 10 minutos. O filme chegou a concorrer ao cobiçado Leão de Ouro, principal prêmio do Festival, mas acabou perdendo o prêmio para 'O Quarto ao Lado', do cineasta espanhol Pedro Almodóvar.
Apesar disso, o longa levou para casa o prêmio de Melhor Roteiro. O filme estreou nos cinemas brasileiros em 7/11/2024 e já passou de 2 milhões de espectadores no país.
'Ainda Estou Aqui' conta a história de Eunice Paiva, mãe do jornalista Marcelo Rubens Paiva, que passou 40 anos procurando a verdade sobre o marido desaparecido, Rubens Paiva.
A história se baseia no livro homônimo escrito pelo jornalista Marcelo Rubens Paiva (filho de Eunice). 'Ela virou a grande militante ativista da ditadura e da redemocratização brasileira e do chamado Brasil novo', disse ele.
O filme conta com um elenco de peso. Além das Fernandas Montenegro e Torres, estrelam o longa Selton Mello, Marjore Estiano, Humberto Carrão e Dan Stulbach.
O processo de realização do filme levou cerca de sete anos. O diretor Walter Salles chegou a frequentar a casa onde Rubens Paiva vivia antes de ser levado pelos militares e fez questão de conhecer sua família.
Além disso, o filme recebeu inúmeros elogios da imprensa internacional. Um deles foi direcionado à atuação de Fernanda Torres.
'É uma atuação que deve catapultar ela para a temporada de premiações, 25 anos depois de sua mãe ser indicada ao Oscar por Central do Brasil', disse uma crítica do Deadline, um dos maiores sites de entretenimento dos EUA.
'Salles nunca se excede nas batidas emocionais do filme, confiando na atuação magnífica e excepcionalmente detalhada de Torres para dirigir a história', destacou o ScreenDaily.
Além de 'Central do Brasil', que foi indicado ao Oscar de 1999 nas categorias Melhor Filme e Melhor Atriz, Walter Salles dirigiu os elogiados 'Abril Despedaçado' (2001), com Rodrigo Santoro, 'Diários de Motocicleta' (2004) e 'Paris, Te Amo' (2006).
Tema central de 'Ainda Estou Aqui', Rubens Paiva foi um engenheiro civil, empresário e polÃtico brasileiro, conhecido principalmente por sua luta contra a ditadura militar no Brasil e por ser uma das vÃtimas mais emblemáticas do regime.
Ele nasceu em 26 de dezembro de 1929, em Santos, São Paulo, e desapareceu em janeiro de 1971, após ser preso por agentes da repressão.
Rubens Paiva era deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e se destacou como um dos opositores do golpe militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart.
Com a implantação do regime militar, ele teve seu mandato cassado e foi exilado no exterior por um período. Ao retornar ao Brasil, passou a auxiliar às escondidas pessoas que eram perseguidas pelo governo militar.
Em janeiro de 1971, Paiva foi preso em sua casa no Rio de Janeiro por agentes do DOI-CODI, um órgão de repressão da ditadura.
Após sua prisão, ele desapareceu, e as autoridades não admitiram oficialmente seu paradeiro ou destino. Anos depois, investigações apontaram que ele foi torturado e morto nas dependências militares. O filme mostra o momento em que, 25 anos depois, a família finalmente consegue o atestado de óbito do engenheiro.
Seu corpo nunca foi encontrado, e seu caso permanece como um sÃmbolo das atrocidades cometidas durante a ditadura militar no Brasil.