A esporotricose é uma infecção subcutânea (sob a pele) provocada por fungos do gênero Sporothrix. Esses micro-organismos, que vivem no solo, na vegetação em decomposição e em cascas de árvores, podem infectar humanos por arranhões, mordidas e secreções de gatos contaminados, resultando em uma infecção subcutânea com uma ou múltiplas lesões, principalmente nas mãos e braços.
Em julho de 2024, a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que cria a Política Nacional de Prevenção e Combate à Esporotricose. O foco é na prevenção, tratamento e proteção de pessoas e animais.
A proposta determina que o Sistema Único de Saúde (SUS) realize planos de ações para a vigilância e o tratamento adequado de humanos e animais. Além da distribuição gratuita de medicamentos para tratamento dos animais infectados e para prevenção e cuidado também com os humanos.
A criação da política está prevista no Projeto de Lei 792/22, do deputado Juninho do Pneu (União-RJ). Relator, o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) defendeu a aprovação da matéria na forma de um novo texto.
A doença não integra a lista de notificação obrigatória do Ministério da Saúde. Isso causa desconhecimento de dados na maioria dos estados brasileiros.
Segundo o infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), os casos vêm aumentando progressivamente ao longo da última década.
“Trata-se de uma epidemia em expansão. (...) Isso ocorre porque não há controle da doença entre os felinos. Não há vacinas, o tratamento do gato doente é longo e requer dedicação do tutor”, ressalta.
A doença já foi registrada em países como Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. Em 90% dos casos, a transmissão acontece por gatos contaminados, visto que humanos e cachorros não podem transmitir a esporotricose.
Em 2023, houve um aumento de 40% dos casos registrados na cidade de São Paulo. No Paraná, pulou de 1.242, em 2022, para 2.887 em 2023. Cabe salientar que o estado é um dos poucos que fornece medicação para cães, gatos e seres humanos.
O Ministério da Saúde indicou que dados de dispensação dos medicamentos para o tratamento dessas pessoas sugerem um aumento no número de casos. Por outro lado, ainda não há um sistema oficial de registro de casos de esporotricose humana.
Especialista da Fiocruz, Dayvison Freitas informou que há uma“hiperendemia”, quando uma doença endêmica passa a crescer de forma acentuada.
'Desde 1998, o fungo se adaptou de uma forma tão grande ao gato, que o felino passou a transmitir para outros gatos, para o ser humano e cães também”, analisou.
Freitas explicou que, apesar das poucas chances de ser fatal, o fungo pode se tornar grave. Portanto, o tratamento deve ser iniciado assim que a doença for identificada. Veja a seguir os tipos da doença.
Esporotricose linfocutânea: é a forma clínica mais frequente, quando são formados pequenos nódulos na camada da pele mais profunda, seguindo o trajeto do sistema linfático da região corporal afetada. Afeta principalmente os membros.
Esporotricose disseminada: acontece quando a doença se espalha pelo organismo, com comprometimento de vários órgãos e/ou sistemas (pulmão, ossos, fígado).
Esporotricose extracutânea: quando a doença se espalha para outros locais do corpo, como ossos, mucosas, entre outros, sem comprometimento da pele.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença pode causar lesões na pele e pequenos nódulos na camada de pele mais profunda. Nos casos mais graves, pode afetar órgãos ou sistemas como pulmão, ossos e fígado.
O tratamento em humanos deve ser realizado após a avaliação clínica, com orientação e acompanhamento médico. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente o itraconazol e o complexo lipídico de anfotericina B para o tratamento da esporotricose humana.
O diagnóstico de esporotricose é feito com exames laboratoriais em que o fungo encontrado nas lesões é isolado. Em casos mais graves, é realizado por amostras, como escarro, sangue, líquido sinovial e líquor.
Segundo a Fiocruz, a doença tem cura e o tratamento em animais deve ser feito por veterinários. Com o uso do remédio adequado, já se encontram sinais de melhora. O tratamento, porém, deve ser realizado em até dois meses depois das feridas desaparecem.
No momento, apenas dez estados incluíram a esporotricose humana em suas listas de notificação compulsória de doenças. São eles: Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Paraíba, Rio de Janeiro e Rondônia.
O infectologista Flávio Telles cita que a notificação compulsória é importante para entender melhor os casos e os tratamentos. Como medida de prevenção, deve haver a castração de animais, limitação de seu acesso à rua, além da orientação de cremar bichos que morrem de esporotricose.
â??Ã? importante ainda implantar medidas educativas e de saúde para esclarecer a existência da doença, explicando que o gato é uma vÃtima e não o culpadoâ?, frisa.