“Inferno em La Palma” é o nome da dramática série apocalíptica de somente quatro episódios que se transformou em inesperado fenômeno de audiência.
A trama envolve turistas de uma família originária da Noruega que tenta fugir da Ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias, na Espanha, após perceberem o risco de uma erupção vulcânica que poderia romper a montanha e ter como consequência um tsunami colossal e sem precedentes.
Os personagens Marie (papel de Thea Sofie Loch Naess) e Haukur (Olafur Darri Olafsson) concluem que existe essa ameaça após notarem uma fissura no corpo do vulcão.
Segundo a narrativa, o ameaçador tsunami formaria ondas capazes de atingir regiões costeiras diversas do Atlântico, inclusive do Brasil.
A série de bastante repercussão despertou críticas tanto de cientistas quanto de moradores da ilha espanhola.
O fato de a série ter produção e narração estrangeiras poucos anos depois de uma erupção vulcânica ter gerado sérios danos à ilha, em 2021, gerou insatisfação em boa parte dos habitantes de La Palma, segundo publicações da região.
Pela primeira vez em meio século, o vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção no mês de setembro de 2021. Ele é o mais ativo das Canárias.
O evento natural teve duração de 85 dias - o mais longo da história da região. Embora não tenha resultado em vítimas fatais, a erupção forçou 7 mil pessoas a abandonarem suas residências em busca de refúgio.
A invasão de lavas, rochas e cinzas provocou a destruição de mais de 3 mil imóveis e danificou extensas áreas de plantação de banana, gerando forte crise econômica. As lavas tomaram 1.219 hectares - proporcional a 1.500 campos de futebol, segundo relatório dos serviços de emergência espanhóis.
O jornal espanhol “20Minutos”, por exemplo, publicou um texto crítico a respeito da narrativa de ficção por ela se construir a partir da visão de turistas, ignorando a perspectiva dos moradores de La Palma. O texto jornalístico inclui a opinião negativa de residentes locais a respeito da série.
Já o “La Voz de Palma” considerou que a série “insiste no catastrofismo e presta um péssimo serviço à ilha”. O argumento é que a produção poderia afugentar turistas, prejudicando a principal atividade econômica da região.
A recepção negativa da série na localidade levou a Netflix a se pronunciar. A plataforma alegou que o início das filmagens antecedeu a erupção do vulcão Cumbre Vieja, pois a proposta era ter na ameaça do evento o centro do enredo. Porém, os trabalhos precisaram ser interrompidos pelo avanço das lavas.
A outra controvérsia provocada pela minissérie baseia-se em uma teoria de 2001 sustentando que uma erupção violenta poderia fazer o Cumbre Vieja se desfazer no oceano e levar a ondas monumentais que alcançariam vários lugares do mundo.
O estudo do início do século XXI, tido por cientistas como defasado, dizia que as ondas pelas costas das Américas poderiam chegar a até 24 metros. Mas o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) considerou essa possibilidade pouco realista.
“Se o Cumbre Vieja entrasse em colapso, as ondas provavelmente não ultrapassariam 3 a 7 metros ao atingirem a costa dos Estados Unidos”, afirmou o órgão.
Estudos mais recentes indicam que colapsos de vulcões não se sucedem em pedaços grandes, que seriam produtores de ondas gigantes, mas sim em proporções menores, de impacto inferior.
“Inferno em La Palma” foi criada pelos noruegueses Martin Sundland, Lars Gudmestad e Harald Rosenlow-Eeg. O trunfo principal da série é o permanente clima de suspense que cerca a família que desfrutava de férias na paradisíaca ilha das Canárias.
La Palma é uma das ilhas do Arquipélago das Canárias, território espanhol na costa noroeste da África, no Oceano Atlântico. Sua paisagem deslumbrante rendeu ao destino turístico o apelido de “La Isla Bonita” (A Ilha Bonita).
A maior ilha das canárias é Tenerife, que tem pouco mais de 900 mil habitantes. Algumas cenas da série foram gravadas nessa ilha, embora a maioria tenha usado como locação a própria La Palma.