Tudo começou em 1999, quando, enquanto faziam uma escavação no México, arqueólogos encontraram um esqueleto em frente ao templo de Ehecatl, deus asteca do vento, segurando um apito em forma de caveira.
De lá para cá, várias versões desses objetos foram encontradas em túmulos que vão do século 13 ao século 16.
Um estudo recente revelou que esses instrumentos produziam sons parecidos com gritos, criando uma atmosfera de medo durante os rituais e preparando as vítimas para a descida ao Mictlan, o 'inferno asteca'.
O som dos apitos, descrito como agudo e penetrante, é gerado com alta pressão de ar e causa uma sensação imediata de urgência em quem o escuta.
Sasha Frühholz, autor principal do estudo publicado na Communications Psychology, explicou que o som confunde o cérebro por combinar sons naturais e artificiais, gerando desconforto.
A pesquisa utilizou cinco apitos – três recriações modernas e dois originais encontrados no sítio arqueológico de Tlatelolco, próximo à antiga capital asteca de Tenochtitlán, atual Cidade do México.
Em uma etapa do estudo, dos 70 participantes, a maior parte identificou os sons como similares a gritos humanos.
Em outro experimento, 32 voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética enquanto ouviam os sons dos apitos e outros ruídos.
Os resultados mostraram que o apito ativava áreas do cérebro relacionadas a emoções, análise de sons aversivos e atribuição de significado simbólico.
O estudo dá indícios de que os apitos em forma de crânio podem ter sido utilizados para causar medo tanto nas vítimas de sacrifício quanto no público que assistia às cerimônias.
Além disso, os pesquisadores levantam a hipótese de que esses apitos foram projetados para representar Ehecatl, o deus asteca do vento.
Outra hipótese é de que seu som perturbador poderia simbolizar os ventos gélidos e cortantes que atravessam o submundo asteca de Mictlan.
Essa não foi a primeira vez que os astecas foram associados a sacrifícios humanos. Em 2019, arqueólogos descobriram um templo dedicado ao deus Xipe Totec no México, que era ligado a essa prática.
As formas arquitetônicas do templo indicam que as vítimas eram mortas em combates ou por flechas e depois degoladas em altares. Após o sacrifício, os sacerdotes vestiam as peles das vítimas.
Os astecas foram uma civilização mesoamericana que habitou a região do atual México entre os séculos 14 e 16.
Originários de uma região lendária chamada Aztlán, eles se estabeleceram no Vale do México, onde construíram sua capital, Tenochtitlán, sobre uma ilha no Lago Texcoco.
Atualmente, no local onde antes ficava Tenochtitlán, está situada a Cidade do México.
Os astecas foram conhecidos por sua complexa organização política, social e religiosa, além de suas impressionantes contribuições culturais e arquitetônicas.
Sua sociedade era dividida em diferentes classes sociais, com o imperador no topo, seguida por nobres, sacerdotes, comerciantes, artesãos e, na base da pirâmide social, os camponeses e escravos.
A religião desempenhava um papel central na vida dos astecas. Eles eram politeístas e adoravam várias divindades, como Huitzilopochtli, o deus da guerra e do sol (foto), e Tlaloc, o deus da chuva.
A chegada dos espanhóis, liderados por Hernán Cortés, em 1519, marcou o início do fim do império asteca.
A queda foi precipitada por alianças de Cortés com povos indígenas que eram inimigos dos astecas, além de doenças trazidas pelos europeus, como a varíola.
Após uma longa guerra, Tenochtitlán foi conquistada em 1521, e o domínio espanhol se estendeu por grande parte da América.