Por lá, os Zabbaleen, um povo de cerca de 70 mil pessoas, se dedica exclusivamente à coleta e reciclagem de lixo.
Eles se concentram principalmente em Manshiyat Naser, conhecida como 'Cidade do Lixo', e desenvolvem essa atividade desde a década de 1940.
Juntos, eles desenvolveram um sistema que recicla até 80% dos resíduos coletados, tido como um dos mais eficientes do mundo.
Segundo o documentário 'Zabbaleen: Cidade do Lixo' (2016), a coleta é realizada principalmente por homens e crianças, que recolhem o lixo com carroças e caminhonetes.
Além de coletar e separar lixo em 16 categorias diferentes, os Zabbaleen investem até 12 horas diárias na triagem desses materiais.
Cada item pode ser classificado em papel branco, papel amarelo, papel grosso, jornal, papel fino, etc. Após a separação detalhada, os materiais são vendidos a indústrias e empresas.
Diferente de outros grupos de coleta , os Zabbaleen utilizam equipamentos para transformar resíduos em materiais de maior valor, como granuladores de plástico, compactadores de papel e moedores de tecidos.
Antes, a triagem inicial do lixo na comunidade era realizada com a ajuda dos porcos, que consumiam os resíduos orgânicos.
Quando atingiam o tamanho adequado, esses animais eram vendidos para resorts e destinos turísticos.
Por serem cristãos coptas, os Zabbaleen não podem criar, alimentar ou viver perto de porcos, um animal considerado 'sujo', 'impuro'.
No entanto, esse método foi abolido em 2009, quando o governo egípcio, preocupado com a propagação da gripe H1N1, ordenou o abate de todos os porcos no país.
Cerca de 300 mil porcos foram sacrificados, o que ameaçou a estrutura de coleta e separação de lixo dos Zabbaleen.
Depois dos abates, restos de comida e muito lixo se acumularam nas ruas do Cairo, já que o sistema de coleta não conseguiu atender à demanda sem o auxílio dos Zabbaleen.
Ainda que a criação de porcos tenha sido proibida no bairro, a economia local continua fundamentada na reciclagem até os dias atuais.
Segundo um relato da jornalista Evelyn Koch, dona do blog Vida no Egito, 'a região tem um odor característico e insuportável, mas muitas famílias vivem lá por gerações e estão acostumados'.
'A polícia não vai, táxi e Uber também se recusam a fazer o trajeto. A comunidade tem suas próprias regras', contou a jornalista.
Evelyn explica que, para conhecer a comunidade, é necessário planejar a visita com antecedência e encontrar alguém que possa guiar o percurso.
Além das atividades de reciclagem, Manshiyat Naser também abriga uma das atrações turísticas mais singulares do Egito: a Igreja Suspensa de Mokattam, ou Igreja de São Simão, que foi escavada diretamente na rocha das colinas locais.