O Boeing 747-800 da Lufthansa, com 239 passageiros e 19 tripulantes, passou pela turbulência severa ao sobrevoar uma área famosa pelas condições meteorológicas adversas, a Zona de Convergência Intertropical (Z-CIT), na linha do Equador. Nela, os ventos do hemisférios norte e sul convergem, o que gera instabilidade.
'Infelizmente, cinco passageiros e seis tripulantes sofreram, em sua maioria, ferimentos leves', comunicou a Lufthansa. A companhia alemã informou que a ocorrência não comprometeu a segurança do voo.
Outro episódio de forte turbulência aconteceu na madrugada do dia 1/7. Um avião da Air Europa teve que fazer um pouso de emergência depois que 30 pessoas ficaram feridas.
O avião tinha saído de Madri, na Espanha, e seguia para Montevidéu, no Uruguai, com 325 passageiros. Mas precisou pedir autorização para aterrissar no Aeroporto de Natal, no Rio Grande do Norte.
Dez passageiros precisaram de atendimento hospitalar. Após os primeiros socorros, eles foram levados para o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, na capital do estado.
O avião é do modelo Boeing 787-9 Dreamline. Ele pousou em Natal por volta de 2h30 da madrugada (de Brasília), segundo a Air Europa, 'por questões de segurança'.
Não se sabe o motivo de tamanha turbulência neste caso específico. Mas um estudo britânico recente causou reações ao afirmar que as mudanças climáticas têm intensificado as turbulências em voos - e isso pode se agravar - por causa do aquecimento no planeta.
O estudo foi feito por uma equipe de cientistas da Universidade de Reading, localizada no Reino Unido.
Eles analisaram a turbulência conhecida como 'ar claro', que é mais desafiadora para os pilotos evitar, pois está associada ao aumento da temperatura potencial com a altitude.
Os pesquisadores constataram um aumento de 55% na ocorrência de turbulência severa entre 1979 e 2020 em uma rota muito utilizada sobre o Atlântico Norte.
Acredita-se que essa elevação esteja relacionada às mudanças na velocidade do vento em altitudes elevadas, resultado do aumento do calor causado pelas emissões de carbono.
Essas diferenças de velocidade do vento ocorrem principalmente devido à disparidade de temperatura entre o equador e os polos.
Segundo o professor Paul Williams, especialista em ciências atmosféricas e coautor do estudo na Universidade de Reading, foram mais de dez anos de pesquisa em torno do assunto.
'Devemos investir em sistemas aprimorados de previsão e detecção de turbulência para evitar que o ar mais agitado se traduza em voos mais irregulares nas próximas décadas', disse Paul.
O estudo a respeito do fenômeno foi publicado na revista Geophysical Research Letters.
Os pesquisadores relataram que as áreas com maiores aumentos na turbulência incluem as rotas de voo nos Estados Unidos e no Atlântico Norte.
No entanto, também foram observados aumentos significativos na Europa, Oriente Médio e Atlântico Sul.
Apesar de não ser possível visualizar a turbulência diretamente por meio de satélites, esses equipamentos têm a capacidade de observar a estrutura e o formato da “corrente de jato”, o que permite sua análise.
A “corrente de jato” é um sistema de vento forte que flui de oeste para leste, a uma altura de aproximadamente 8 a 11 km acima da superfície da Terra.
Enquanto o radar é capaz de detectar a turbulência nas tempestades, a turbulência do ar claro é praticamente invisível e representa um desafio para a detecção.
Além de serem desconfortáveis, voos turbulentos também podem causar ferimentos aos passageiros. A turbulência severa é muito rara, mas a turbulência de ar claro pode surgir a qualquer momento, quando os passageiros não estão com o cinto de segurança.
'Ninguém deve parar de voar porque tem medo de turbulência, mas é sensato manter o cinto de segurança apertado o tempo todo, a menos que você esteja se movendo, que é o que os pilotos fazem', disse o professor Williams.
Só nos EUA, a indústria da aviação perde anualmente entre US$ 150 milhões (R$ 728 milhões) e US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) por conta do desgaste das aeronaves em decorrência dos efeitos da turbulência.
Além das consequências financeiras, há um custo ambiental, já que os pilotos queimam mais combustível ao tentar evitar as turbulências.