Quando tinha 15 anos, Sabrina recebeu o diagnóstico de um tumor no timo, órgão linfático entre os pulmões e próximo ao coração que regula o sistema imunológico.
Após a descoberta, Sabrina foi submetida a uma cirurgia para retirada do tumor. “Quando operaram, disseram que tinham tirado tudo. Pronto! Então, beleza, é seguir a vida, né”, declarou a Patrícia Gomes Lopes, mãe da jovem.
Passados dois anos da cirurgia, Sabrina voltou a sofrer com os sintomas e exames mostraram que o tumor não só seguiu em seu corpo como aumentou de tal forma que não poderia mais ser retirado por meio cirúrgico.
Para piorar o quadro, o tumor secreta o hormônio ACTH, que induz as adrenais a produzirem doses excessivas do hormônio cortisol. Essas glândulas estão situadas acima dos rins.
Essa superprodução de cortisol levou Sabrina a sofrer com a Síndrome de Cushing - doença endócrina provocada por elevados níveis do hormônio no organismo.
Entre os efeitos desses níveis exacerbados de cortisol podem estar queda da imunidade, com o risco aumentado de contrair infecções, elevação da pressão arterial e retenção de água.
“Se a gente não trata esse excesso hormonal, o paciente pode ir a óbito antes até do que devido a um crescimento tumoral”, explicou ao Fantástico Ana Rosa Quidute, professora da Faculdade de Medicina da USP.
Ana Rosa, que também é médica endocrinologista, fez em 2022 uma cirurgia em Sabrina para extrair as glândulas adrenais e eliminar a Síndrome de Cushing.
Com a cirurgia, Sabrina viu-se livre dos terríveis efeitos da superprodução de cortisol. No entanto, o tumor seguiu secretando ACTH. O hormônio, sem a regulação das glândulas adrenais, causam estímulos nas células que dão pigmentação à pele.
“Eu mudei de coloração muito rápido. Questão de meses, três, quatro meses”, contou Sabrina, referindo-se à pigmentação alterada de pacientes que têm superprodução de ACTH.
Para combater os impactos do ACTH na pele é preciso reduzir o tumor, mas radioterapia e quimioterapia não tiveram resultado no caso de Sabrina. A alternativa indicada pela médica seria o tratamento com aplicação pela veia de lutécio radioativo, capaz de destruir o tumor. Neste momento, entrou em cena o processo judicial.
Fabricado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, o lutécio radioativo precisa ser encomendado por demanda prévia e não consta da lista de medicamentos oferecidos pelo SUS. O preço da dose é da ordem de R$ 8 mil.
A família de Sabrina Gomes conseguiu uma liminar judicial, via Defensoria Pública, que obrigava o estado do Ceará a fornecer o remédio para a jovem.
No entanto, o processo se arrastou após o estado do Ceará entrar com um agravo contra a liminar.
Em oito meses, o tumor cresceu ainda mais e passou a pressionar a traqueia de Sabrina. O órgão do sistema respiratório é responsável por conduzir o ar para os pulmões.
Com dificuldades para respirar, Sabrina precisou passar por uma cirurgia de emergência para implante de uma prótese na traqueia, aumentando o espaço para passagem do ar.
No dia 9 de novembro, Sabrina foi internada no Instituto do Câncer, onde passa por uma avaliação para monitoramento de suas condições físicas até que esteja em condições de receber as doses de lutécio radioativo.
Isso porque, após a reportagem do Fantástico contatar a Secretaria de Saúde do Ceará, o estado notificou pelo Diário Oficial que o remédio foi contratado pelo Instituto do Câncer do Ceará.
“Eu quero terminar meus estudos. Quero tentar viver mais, conseguir viver minha vida normal um pouco”, desabafou a jovem.