O caso veio à tona na sexta-feira (11/10), quando revelou-se que seis pessoas que estavam na fila de transplantes da Secretaria Estadual de Saúde haviam recebido órgãos contaminados de dois doadores.
Até o início da tarde desta segunda-feira (14/10), dois suspeitos tinham sido presos, incluindo Walter Vieira, sócio do PCS Lab Saleme, apontado como responsável pelo erro que levou às infecções.
Walter Vieira é tio do deputado federal Dr. Luizinho (PP), que também é ex-secretário de Saúde do RJ (foto).
O outro suspeito preso é Ivanilson Fernandes dos Santos, também envolvido na emissão do laudo.
Segundo os advogados que representam o laboratório PSC Lab Saleme, os sócios da empresa irão colaborar com a Justiça.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira (11/10), Dr. Luizinho declarou que lamenta profundamente o ocorrido e espera que os responsáveis pelos erros sejam devidamente punidos.
O Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro emitiu 11 mandados de busca e apreensão nesta segunda-feira (14), que começaram a ser executados por agentes da Delegacia do Consumidor (Decon).
Localizada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a sede do PCS Lab Saleme precisou ser arrombada pelos policiais, já que estava interditada desde a semana anterior.
“As investigações indicam que os laudos, falsificados por um grupo criminoso, foram utilizados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro, o que levou à infecção dos pacientes', declarou a Polícia Civil.
Além de Nova Iguaçu, o PCS Lab Saleme ainda atendia mais dez unidades de saúde do estado do Rio. Agora, a polícia investiga se o laboratório falsificou laudos em outros casos.
O laboratório foi contratado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ) em dezembro de 2023, por meio de um pregão eletrônico no valor de R$ 11 milhões, para realizar exames sorológicos em órgãos doados.
Além da denúncia dos laudos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que o laboratório não tinha kits para realização dos exames de sangue.
O laboratório também não apresentou documentos comprovando a compra dos itens, levantando suspeitas de que os testes poderiam não ter sido realizados e os resultados fraudados.
Segundo o laboratório, foi aberta uma sindicância interna para investigar o caso.
Tudo começou em setembro, quando um paciente que recebeu um transplante cardíaco apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV, apesar de não ter o vírus antes da cirurgia.
Ao todo, seis pacientes que receberam órgãos desses doadores foram infectados pelo HIV. Os órgãos afetados foram coração, rins e fígado.
'É uma situação inadmissível e sem precedentes a falha no serviço de transplantes no estado', declarou o governador do estado do Rio, Cláudio Castro.
O MP-RJ orientou a Secretaria Estadual de Saúde e a Fundação Saúde a utilizarem exclusivamente o Hemorio para a análise de amostras de sangue relacionadas à Central Estadual de Transplantes.
Normalmente, o Hemorio é a instituição que fica responsável pelo tratamento e diagnóstico de doenças sanguíneas no estado.
As investigações também devem analisar o fato de o PCS Lab não ter registro no Conselho Regional de Biomedicina, e a razão de um dos sócios ser primo do ex-secretário de Saúde.