“A Noite Estrelada” é uma pintura a óleo sobre tela que, conforme observou o estudo, retrata a vista do céu pouco antes do nascer do sol. Localizada em uma janela voltada para o leste do quarto do artista em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França. O pintor esteve por lá após mutilar sua orelha esquerda.
Um estudo feito por físicos da China e da França sugere que o artista poderia ter uma compreensão profunda e intuitiva da estrutura matemática do fluxo turbulento. Termo este, na física, que descreve o movimento caótico de fluidos.
Este fenômeno natural visa observar fluídos (água em movimento, correntes oceânicas, fluxo sanguíneo, nuvens de tempestade ondulantes e colunas de fumaça). Assim, o fluxo turbulento é caótico e imprevisível, pois redemoinhos maiores se formam e se quebram em outros menores.
A turbulência, portanto, segue um padrão em cascata que pode ser estudado e, pelo menos parcialmente, explicado usando equações matemáticas.
“Imagine que você está em uma ponte e observa o rio fluir. Você verá redemoinhos na superfície, e esses redemoinhos não são aleatórios. Eles se organizam em padrões específicos, e esses tipos de padrões podem ser previstos por leis físicas”, disse Yongxiang Huang, autor principal do estudo publicado no periódico científico Physics of Fluids.
Usando uma imagem digital da pintura, Huang e seus colegas examinaram a escala de suas 14 principais formas giratórias para entender se elas se alinhavam com as teorias físicas.
O movimento atmosférico do céu pintado não pode ser medido diretamente. Então, Huang e seus colegas mediram precisamente as pinceladas e compararam o tamanho com as escalas matemáticas esperadas, conforme as teorias de turbulência.
Eles descobriram que os tamanhos dos 14 redemoinhos ou vórtices em “A Noite Estrelada” e suas distâncias e intensidades relativas seguem uma lei física que governa a dinâmica dos fluidos, conhecida como teoria da turbulência de Kolmogorov.
Huang e a equipe também descobriram que a tinta, em menor escala, se mistura com alguns redemoinhos e giros de fundo de uma forma prevista pela teoria da turbulência, Na foto, a obra 'Labirinto do Museu', do pintor holandês.
A escala de Batchelor representa matematicamente como pequenas partículas, como algas à deriva no oceano ou pedaços de poeira no vento. Elas são misturadas passivamente pelo fluxo turbulento.
“Isso é legal. De fato, esse é o tipo de estatística que você esperaria de florações de algas sendo varridas por correntes oceânicas, ou poeira e partículas no ar”, disse James Beattie, pesquisador de pós-doutorado no departamento de ciências astrofísicas da Universidade de Princeton em Nova Jersey
“Acho que esse relacionamento físico deve estar enraizado em sua mente, por isso, quando ele fez essa famosa pintura ‘A Noite Estrelada’, ela acaba imitando o fluxo real”, afirmou Huang.
Ele explicou que Van Gogh não teria conhecimento teórico de tais equações, mas provavelmente passou muito tempo observando.
A equipe do estudo realizou a mesma análise e detectou o mesmo fenômeno em duas outras imagens. Entre eles, uma pintura, “Chain Pier, Brighton”, criada pelo artista britânico John Constable em 1827, e a uma fotografia da Grande Mancha Vermelha de Júpiter. Na imagem, o museu que leva o nome do artista.
O fato de “A Noite Estrelada” corresponder a modelos estatísticos de turbulência, embora a obra de arte não se mova, pode sugerir que os métodos e ferramentas estatísticas são menos precisos do que os cientistas podem ter pensado', disse Beattie. Na foto, novamente o museu.
“O que eu retiro de estudos como esse é que [Van Gogh] capturou um pouco dessa universalidade no belo quadro. E eu acho que as pessoas sabem disso. Elas sabem que algo maravilhoso foi incorporado nessa pintura e somos atraídos por isso.”, completou.
Mais famoso pintor do pós-impressionismo, Van Gogh nasceu no dia 30 março de 1853 em Zundert, um vilarejo holandês próximo à fronteira com a Bélgica.
Van Gogh começou a pintar apenas aos 27 anos. Antes, trabalhou em empregos diversos, desde balconista de livraria até professor. E ainda tentou, sem êxito, tornar-se pastor calvinista, como o pai Theodorus.
Das centenas de telas assinadas por Van Gogh, algumas são famosas mundialmente. “Os Girassóis” (1888), “A Noite Estrelada” (1889) e “Quarto em Arles” (1889) estão entre elas.
Van Gogh era o mais velho de seis irmãos. Graças às mais de 600 cartas que o pintor escreveu para o mais novo deles, Theo, admiradores e biógrafos puderam ter acesso a detalhes da vida do artista.
Essas cartas foram preservadas pela mulher de Theo, a professora e comerciante de arte Johanna van Gogh-Bonder, e publicadas no livro “Cartas a Théo”, de 1914.
Um dos episódios mais famosos da vida de Van Gogh foi uma briga com Gauguin.. O conflito entre os dois pintores levou o holandês a cortar um pedaço da própria orelha, situação que foi tema de 'Autorretrato com a Orelha Cortada'.
Entre 1888 e 1890, Van Gogh foi internado duas vezes para tratamento psiquiátrico, quando nasceu o quadro 'A noite estrelada'. Após deixar a internação em Saint-Rémy, o pintor se mudou para Auvers-sur-Oise e produziu sua última tela: “Campo de Trigo com Corvos”, em 1890.
Por fim, Van Gogh morreu no fim de julho do mesmo ano em decorrência de um ferimento de bala. A versão predominante é de que o pintor cometeu suicídio, desferindo um tiro contra o peito. Outra ideia é de que o pintor teria sido vítima de um tiro acidental.