A instituição britânica English Heritage, responsável pela administração de Stonehenge, e especialistas de outras organizações estão estudando a relação entre o monumento de 4.500 anos e o lunistício, que acontece a cada 18,6 anos.
Eles procuram entender se o Stonehenge e potencialmente outros monumentos megalíticos ao redor do mundo também se alinham com a Lua.
O termo lunistício se refere ao ponto em que o nascer e o pôr da Lua estão mais distantes ao longo do horizonte, e o próximo está previsto para acontecer entre 2024 e 2025.
Esta ideia ganhou força na década de 1960. Entretanto, o conceito não havia sido explorado sistematicamente, segundo Clive Ruggles, professor emérito de Arqueoastronomia na Escola de Arqueologia e História Antiga da Universidade de Leicester, na Inglaterra.
A teoria é de que estes movimentos lunares podem ter sido observados na fase inicial de Stonehenge e teriam influenciado seu design posterior.
Assim como o Sol, a Lua nasce no leste e se põe no oeste. No entanto, o nascer e o pôr da Lua movem-se de norte a sul e vice-versa no espaço de um mês. Os extremos norte e sul também mudam ao longo de um período de cerca de 18 anos e meio.
Stonehenge é amplamente conhecido por sua conexão com os movimentos do Sol, em particular no solstício de verão, quando milhares de pessoas se aglomeram no monumento nas primeiras horas do dia para testemunhar o nascer do Sol.
“O nascer da Lua muda a cada dia e se você acompanhar isso por um mês, notará que há um limite norte e um limite sul. Além dos quais a Lua nunca nasce (ou se põe)”, disse Fabio Silva, professor sênior de Modelagem Arqueológica na Universidade de Bournemouth.
“Se você observasse esses limites ao longo de 19 anos, notaria que eles mudam como um acordeão: se expandem até um limite máximo (a grande estagnação lunar) e depois começam a se contrair até um limite mínimo (a pequena estagnação lunar).”, completou.
Esta grande estagnação lunar está prevista para ocorrer em janeiro de 2025. Entretanto, até meados de 2025, a Lua pode parecer para um observador casual. Ela pode estar baixa ou alta no céu noturno durante o mês lunar.
“Se você estiver em um desses 19 anos, de tempos em tempos verá a Lua nascendo ou se pondo muito mais ao norte ou ao sul do que na maioria das vezes. Nos anos intermediários, você nunca a vê lá”, disse Ruggles.
Apesar do nome do fenômeno, a Lua na verdade não está parada durante este período. Ruggles frisou. “O que está parado são esses limites e o momento em que isso acontece é em janeiro do próximo ano [2025]”.
â??Mas por cerca de um ano de cada lado, se você pegar o nascer da Lua no momento certo, você verá ela surgindo excepcionalmente baixa [no céu].â?, completou.
Stonehenge é feito de dois tipos de pedra. Entre elas, estão as sarsen maiores e as pedras azuis menores que formam dois círculos concêntricos.
Neste sentido, Ruggles disse que as pedras estacionárias de Stonehenge, que formam um retângulo ao redor do círculo, se alinham aproximadamente com as extremidades da Lua durante a estagnação lunar.
O tópico de debates que a equipe de arqueólogos deseja investigar é se esse alinhamento lunar foi alcançado por design. Além de tentar descobrir qual seu propósito potencial.
Arqueólogos acreditam que os alinhamentos solares do monumento são intencionais. Essas conformidades foram identificadas em muitos lugares ao redor do mundo e teriam sido relativamente fáceis para os construtores antigos identificarem.
Entre eles, está o conhecimento do ciclo anual do Sol e sua conexão com as estações teria sido essencial para a subsistência. No entanto, é muito mais difícil dizer se Stonehenge realmente tem uma conexão com a estagnação lunar.
“Eu não acho que podemos dizer definitivamente, mas para mim, existem algumas evidências que me fizeram pensar que foi deliberado”, disse Ruggles.
Uma pista foi o fato de os arqueólogos terem encontrado restos humanos cremados agrupados no sudeste, perto de onde ocorrerá o nascer mais ao sul da Lua.
Desde abril, Ruggles e Silva têm documentado o nascer e o pÎr da Lua em momentos cruciais, quando a Lua está alinhada com as pedras estacionárias. Espera-se que a Lua se alinhe com o retângulo de pedras estacionárias duas vezes por mês entre fevereiro de 2024 e novembro de 2025.
“Isso acontecerá em diferentes momentos do dia e da noite ao longo do ano, com a lua estando no lugar certo em diferentes fases a cada mês”, disse Silva em um comunicado de imprensa em abril.
Além disso, a equipe deseja entender quais padrões de luz e sombra a Lua cria em Stonehenge e se eles podem ter tido significado para as pessoas que construíram e usaram o monumento.
Nos Estados Unidos, Erica Ellingson, professora emérita de Astrofísica na Universidade do Colorado em Boulder, está investigando os alinhamentos lunares em Chimney Rock, uma crista rochosa a cerca de 300 metros acima do solo de um vale no Colorado, nos Estados Unidos.
'Entre os anos 900 e 1.150, os ancestrais do povo Pueblo construíram edifícios de vários andares e espaços rituais neste local de difícil acesso com sua vista dramática', disse Ellington.
As Pedras de Pé de Calanais, situadas na Ilha de Lewis, na Escócia, e erguidas antes de Stonehenge, também podem ter uma ligação com a estagnação lunar. Evidências adicionais de observação da Lua indicam que sua construção está ligada às datas das estagnações lunares.
Bradley Schaefer, professor emérito do departamento de Física e Astronomia da Louisiana State University, nos EUA, disse que estava cético de que os antigos soubessem da estagnação lunar e construíssem monumentos alinhados com ela. Ele sugeriu que seria mera coincidência.
Embora a mudança na posição do satélite seja sutil, a estagnação lunar é difícil de interpretar, Ellington disse que acha que a ligação é plausível porque muitas pessoas antigas observavam o céu muito de perto.
â??Um observador da Lua teria a visto começar a nascer ou se pÃŽr fora desses limites, movendo-se cada vez mais para fora dos limites à medida que a grande estagnação lunar se aproximavaâ?, disse ela.
A English Heritage está trabalhando em parceria com especialistas das universidades de Oxford, Leicester e Bournemouth, todas no Reino Unido, assim como da Royal Astronomical Society.