“Na hora [do PIX] fiquei desesperado [...]. Na minha cabeça, pensei que fosse golpe, que os caras tivessem jogado na minha conta e depois viriam me procurar”, afirmou o empresário, que tem comércio no ramo de ar-condicionado automotivo.
Na ocasião, o empresário chegou a pensar que fosse o valor do resgate de algum sequestro. Depois de 24 horas, foi até a agência do banco de origem da quantia para dar prosseguimento à devolução.
Lealdo descobriu que a quantia seria utilizada para a compra de um apartamento. Ele, então, teve que parcelar a transferência do dinheiro por um problema no banco.
Mesmo ouvindo 'conselhos' de outras pessoas para ficar com a bolada, ele não fez isso. “Só que minha cabeça e meu coração falaram que tinha que fazer a coisa certa. Eu não pensei duas vezes em devolver', afirmou ao G1.
'Não dá para ficar com o que não é nosso. Sei que passamos por momentos difíceis, mas temos que fazer a coisa certa”, afirmou.
Um dia após receber o PIX, Lealdo encontrou o dono da quantia, depois do gerente do banco de origem localizar e entrar em contato com o proprietário da conta.
“Fiquei mais feliz depois que eu consegui achar [o dono]. Vi que era um senhor, uma pessoa de boa índole que trabalhou pra caramba”, afirmou.
“Era um bancário e estava comprando um apartamento. Ele estava dentro do cartório, preencheu o contrato da transferência e, quando foi finalizar o pagamento para o corretor, mandou o PIX para mim. Ia acabar com o sonho dele”.
Trata-se do ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Santos, Ricardo Big, que se disse 'apavorado' com o erro, achando que poderia ter perdido de vez o dinheiro para a compra de um imóvel.
'O Lealdo foi muito decente. Desde o início, quis ajudar. Mas o banco não liberava o limite. Ele fez a devolução assim que conseguiu. Passou sete dias me mandando o comprovante com os depósitos', afirma.
Após a devolução, ambos descobriram que o bancário foi cliente do empresário um mês antes da transferência por engano. “Fiz um trabalho no carro dele”, relatou Lealdo
Lealdo tentou fazer o estorno, mas foi bloqueado pelo seu banco, o C6. “Tive um transtorno. Eles bloquearam a minha conta, não conseguia fazer nada”. Após resolver essa situação, só conseguiu devolver a quantia em parcelas.
Diante disso, o empresário teve que fazer um PIX de R$ 100 mil por dia até chegar ao valor de R$ 690 mil. Ao longo da transação, Lealdo ficou em contato com a advogada do dono do dinheiro.
Por meio de uma nota oficial, o C6 Bank informou que opera segundo as regras de funcionamento do PIX. O saldo foi bloqueado, portanto, por causa do sistema Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Banco Central.
'A devolução de valores via Pix deve ser feita pelo botão 'devolver Pix' disponível no aplicativo, destinado a esse fim. A opção de devolver valores parciais foi uma escolha do cliente, e não imposição do banco”, informou, em nota.
O PIX é um meio de pagamentos e transferências desenvolvido pelo Banco Central do Brasil para facilitar as transações financeiras. Atualmente, é o segundo meio de pagamento preferido dos brasileiros.
O erro de Big é comum, já que o PIX é algo novo no universo do brasileiro. Em 2022, a advogada Jéssica Martins Cortes, de 28 anos, recebeu o dinheiro via PIX. Ao conferir com a seguradora, devolveu a quantia.
“Estava esperando R$ 14 mil, mas quando recebi a notificação e apareceu o valor, eu falei: ‘Meu Deus, está errado’. Abri o aplicativo e vi que era R$ 100 mil mesmo. Estava até com medo de andar com tanto dinheiro na conta”, disse.
Segundo o Banco Central, é possível cancelar a transação apenas antes da confirmação do pagamento. Depois de confirmar, a liquidação do PIX ocorre em tempo real, o que impossibilita o cancelamento.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), quem recebe PIX por engano tem que entrar em contato com o destinatário. A não devolução do valor pode resultar em ação judicial e penalidades.