O soviético Krikalev partiu a bordo da espaçonave Soyuz TM-12 para uma missão na estação Mir, localizada 400 km acima da superfície da Terra.
O cosmonauta soviético viajou para o espaço acompanhado do compatriota Anatoly Artsebarsky e da britânica Helen Sharman. A missão do trio era rotineira: fazer reparos e adaptações na Mir.
O lançamento da espaçonave ocorreu no cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, em missão prevista para durar cinco meses, mas que para Krikalev se estenderia por quase um ano.
Helen Sharman ficou apenas uma semana na Mir. A britânica retornou para a Terra com os dois cosmonautas que antes estavam na estação e que foram substituídos por Anatoly Artsebarsky e Sergei Krikalev.
Já Artsebarsky voltou em outubro. Mas, durante a empreitada espacial, ocorreu um evento histórico: a dissolução da União Soviética.
O caos político provocado pelo fim do país, com a independência de 15 repúblicas, deixou Krikalev 'aprisionado' na estação.
Pelo plano original, o cosmonauta para substituir Krikalev seria do Cazaquistão (mas este acabou declarando a independência). A 'nova pátria' Rússia, então, enviou o cosmonauta Alexander Volkov. E informou a Krikalev ele deveria permanecer em órbita por tempo indefinido.
Nascido em 27/8/1958, Sergei Krikalev tinha sólida formação em engenharia mecânica e já havia participado de uma missão na Mir em 1988. Mas não contava que passaria tanto tempo em órbita sem intervalo.
'Para nós foi algo inesperado, não entendíamos o que estava acontecendo', afirmou Krikalev no documentário 'O último cidadão soviético', produzido pela rede britânica BBC.
Krikalev ficou em órbita durante 311 dias. O cosmonauta ficou exposto aos riscos da longa permanência no espaço. Entre eles, alterações no sistema imunológico e perda de massa muscular e óssea. Além dos impactos psicológicos e emocionais que a situação provoca.
Elena Terekhina, mulher de Krivalev, se comunicava com ele por rádio. 'Estava tentando não falar com ele sobre coisas desagradáveis ??e acho que ele estava tentando fazer o mesmo', declarou Elena no documentário da BBC.
A permanência de Krikalev na estação em meio à dissolução de seu país natal fez o cosmonauta ficar conhecido como 'o último cidadão soviético'.
Afinal, com a renúncia do presidente Mikhail Gorbatchov em 25 de dezembro de 1991, Krivalev se tornou russo. Portanto, ele viajou ao espaço como cidadão soviético e voltou como russo.
O retorno do cosmonauta à Terra, acompanhado do colega Alexander Volkov, ocorreu em 25 de março de 1992 e atraiu os holofotes.
De acordo com o documentário 'O último cidadão soviético', Krikalev precisou da ajuda de quatro homens para descer da nave e ficar de pé.
Depois do retorno, ele soube, então, que também tinha havido mudança na sua cidade natal. Krikalev nasceu em Leningrado. Mas ela passou a se chamar São Petersburgo.
Por dez anos Sergei Krikalev teve o recorde de ser humano com mais tempo no espaço – 803 dias 9 horas e 39 minutos (somando as suas missões). Em 2015 foi superado pelo compatriota Gennady Padalka, que encerrou sua quinta missão espacial com a marca de 879 dias em órbita.
Estação que simbolizou por 15 anos o poderio soviético na exploração espacial, a Mir deixou de operar em 1992.
Em 2000, o Krikalev integrou a primeira tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS). Depois, tornou-se o diretor de missões tripuladas da Roscosmos, a agência espacial russa.